Resenhas

Loomer – You Wouldn’t Anyway

Shoegaze e os anos 1990 vivem no disco de estreia dos gaúchos, nos fazendo lembrar o porquê do estilo ainda ser uma referência dentro do Rock Alternativo

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Ano: 2013
Selo: midsummer madness
# Faixas: 10
Estilos: Shoegaze, Rock Alternativo
Duração: 36:00
Nota: 3.5
Produção: Stefano Fell & Richard La Rosa

As referências dos gaúchos do Loomer estão muito bem definidas. Desde seu nome, mesmo título de uma faixa do disco clássico do My Bloody Valentine, o rosado e clássico Loveless o som criado aqui é puro Shoegaze, ou seja, distorções acompanhadas de vocais melódicos e levadas psicodélicas. O resultado final não poderia ser melhor e You Wouldn’t Anyway passa longe de uma mera homenagem, possuindo identidade independente das influências da banda.

O primeiro disco após o lançamento de dois EPs,Mind Drops e Coward Soul, não poderia ser mais acertivo em suas escolhas e atmosfera noventista. A abertura Slow Dream lembra bastante MBV mas em meio a todas as distorções e backing vocals femininos feitos pela recém adicionada à trupe, Fernanda Schabarum, temos um espírito de Rock Alternativo só visto em terras gringas. O Fuzz da guitarra, acordes soltos e a batida constante de Mammoth Butterfly nos fazem viajar no tempo e para locais distantes, como se os olhares para os sapatos compostos pela dança frenética que este som ocasiona fossem refeitos como no final do século passado.

Se vimos uma retomada do estilo, com o próprio Yuck mudando as suas diretrizes após a saída do seu vocalista e soando muito mais expansivo e melódico, podemos ter noção de que o Shoegaze original é tangível e está sendo muito bem feito pelos brazucas. Jam é letárgica e a voz rouca de Stefano Fell, como se o desgate da mesma fosse feito a partir dos timbres da sua guitarra, encaixa muito bem aqui. Snow Flake é entretanto, puro Sonic Youth. Vocal feminino que não tenta diminuir a sua fragilidade e soando sincero acompanhado de uma ótima levada de bateria e riffs que podem correr soltos, preenchendo os espaços da música.

Um dos melhores momentos surge quando o baixo passa a parte da frente da mixagem, ganhando destaque e transitando bem entre as linhas agudas da guitarra em Not So Wrong. Mais psicodélica e com uma curiosa aptidão para a dança, é um das faixas mais melódicas e viciantes de todo o disco. Painkiller tem uma pegada Punk distinta enquanto o encerramento Mushroom é provavelmente o instante mais soturno e pesado de todo o disco. Os vocais que não se prendem a linhas melódicas e são somente falados nos lembram mais uma vez o Sonic Youth e sua forma de criar canções extremamente viajantes.

A proposta está dada e é muito bem abraçada pelos goianos do Loomer. Se o Shoegaze pode ser fracamente generalizado em “distorção melódica”, o grupo alcança tal composição com primor. No entanto, resumir este trabalho de estreia a somente isso seria muito infantil e pouco abragente. You Wouldn’t Anyway é um senhor disco, feito na medida certa para os fãs de um estilo que parece ganhar força na atualidade mas que ainda assim necessita de artistas que saibam tratá-lo com uma boa execução e uma visão um pouco mais abrangente. Temos tudo isso aqui, e a melhor faixa do álbum, Road to Japan não nos deixa mais feliz em saber que todas essa realização parte de uma banda brasileira e acessível para ver ao vivo enquanto ainda não temos a chance de estourar os nossos tímpanos em um show do My Bloody Valentine.

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BOM PARA QUEM OUVE: My Bloody Valentine, Sonic Youth, Yuck
ARTISTA: Loomer

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.