Resenhas

Black Flag – What The…

Ares nostálgicos tornam a volta do icônico grupo um prato cheio para os fãs. No entanto, a obviedade do som criado nos levam a questionar a real necessidade de mexer em um legado tão importante.

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Ano: 2013
Selo: SST
# Faixas: 22
Estilos: Hardcore, Punk
Duração: 43:55
Nota: 2.5
Produção: Black Flag

Black Flag é uma das bandas mais icônicas da música por diversos fatores. Surgiu na metade da década de 1970 na Califórnia, quando o Punk já era uma realidade em Nova York mas mesmo assim não passava de um embrião no inconsciente coletivo. Curiosamente os primeiros trabalhos só viriam posteriormente, seis discos no total lançados em pouco mais de cinco anos. Meteórica, seja através de riffs violentos e extremamente rápidos feitos pelo guitarrista Greg Ginn ou pelos versos intensos de Henry Rollins, a banda se tornou espontaneamente um dos grupos mais importantes do Rock norte americano – em um sentido geral da definição por serem os grandes incorporadores do lema “Do It Yourself”.

Como membros da subcultura do Punk, seu som é no entanto, o puro Hardcore e a banda é sim uma das primeiras banda do gênero a alcançar sucesso e divulgá-lo. Logo, 28 anos após o lançamento de seu último álbum, In My Head de 1985, a volta do grupo não poderia ser nada menos do que repleta de expectativas. Mas o que esperar deles após uma reunião com outros membros – só Greg da formação resta aqui – e uma primeira apresentação extremamente genérica ? A arte noventista da capa do disco não convence mas poderia ser relevada caso encontrássemos aqui uma obra que justificasse tantos anos de hiato.

22 músicas com uma média de 2 minutos cada podem parecer extremamente megalomaníacas em tempos de EPs e poucas faixas em discos por aí. No entanto, é o puro espírito do Hardcore, vocais rápidos, cortados e acompanhados por acordes ainda mais velozes. Sentimos a violência e a raiva desde os primeiros minutos de What The… mas algo incomoda desde o começo aqui, a obviedade de todo som proposto.

Temos notavelmente os melhores momentos vindo de Ginn, para muitos, o melhor guitarrista que o estilo já teve. Isso é “visível” nas ótimas transições que quebram intensidade de faixas como Outside, um dos melhores momentos em toda a obra. Sua progressão de acordes, rápidos e crescentes são contra balanceados por um baixo saltado que nos lembra o Hardcore do final dos anos 1990. Sensação semelhante que temos em Blood And Ashes. No entanto, no meio de tantos gritos retomados de um som antigo, vemos que a banda parece um pouco paralisada no tempo e de longe não temos uma obra que chegue aos pés da discografia anterior do grupo.

O vocalista e skatista profissional Mike Valley, infelizmente, nunca chegará aos pés dos ares de messias que Rollins carregava, fenômeno que chegou a envolver cultos relativos à antiga banda. Em algumas faixas ele até consegue se destacar como Now is the Time ou Wallow in Dispair, no entanto, a sua valência está no perfeito acompanhamento à uma guitarra que transita em pequenos solos – tudo feito com uma rapidez invejável à qualquer guitarrista de Metal exibido.

O som como um todo é comum, e das 22 faixas, temos poucas canções que conseguem se destacar saindo da obviedade de uma batida constante e uma energia visceral que vem da linha de frente da banda. Não reclamamos da qualidade sonora e sim pelo fato de tornar dispensável a volta de um grupo tão icônico sob condições no mínimo duvidosas. É óbvio que os ares nostálgicos ainda chamaram a atenção de fãs antigos, ou para qualquer pessoa que aprecie o Hardcore de raiz. No entanto, parece muito comum, simples para um grupo que determinava padrões de comportamento e agora soa tão normal.

Se não sentíssemos a presença forte de Greg, certamente o resultado seria ainda menos impressionante. Ainda bem que alguns momentos ainda conseguem nos prender como Give All Your Dough ou Off My Shoulders, faixa que foge totalmente dos padrões anteriores. Não sabemos se o grupo continuará unido após o What The… mas qualquer intervenção futura deveria carregar um pouco mais de objetividade e respeito à instituição, para que o legado não seja esquecido e banalizado.

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BOM PARA QUEM OUVE: Toy Dolls, Sex Pistols, Ramones
ARTISTA: Black Flag
MARCADORES: Hardcore, Punk

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.