Resenhas

R. Kelly – Black Panties

Músico retorna aos tempos áureos de seu R&B sexual e nos disponibiliza uma obra com alguns hits potenciais e ares antigos

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Ano: 2013
Selo: RCA
# Faixas: 13
Estilos: R&B
Duração: 49:05
Nota: 3.0
Produção: R. Kelly, Nineteen85

R. Kelly está para o R&B assim como Michael Jackson está para o Pop: Ambos são reis. Não só pelo número excessivo de discos vendidos e singles no topo das paradas, mas também pela sua contribuição para a música como um todo. Com suas coroas, foram anos até que alguém ameaçasse o reinado – o que muitas vezes tornava-se um fenômeno isolado, pontual ou uma construção através do hype. Logo, o lançamento de um novo trabalho por um dos grandes artistas de sua geração recebe, inevitavelmente, uma aura gigantesca de expectativa. Mas será que o rei continua no trono?

Black Panties soa como tudo o que tornou Kelly famoso: R&B radiofônico produzido de forma pornográfica para estimular os ouvintes a relaxar e interagir. Isso é o que o fez alcançar o estrelato em meio a músicas que abordam a típica tríplice mulheres, dinheiro e vida boa do meio. Logo, é de se esperar que a temática fosse reproduzida novamente aqui e que o espírito musical não fosse perdido. No entanto, logo nos primeiros momentos da obra, temos a leve a impressão de que estamos diante de uma homenagem ao som que o consagrou, o que em um primeiro momento não agrada dada ao caráter estático de músicas feitas em um estilo em constante mutação.

As três primeiras faixas, Legs Shakin (com Ludacris), Cookie e Throw This Money On You são boas, mas falta intensidade. Esperamos a batida virar, o bumbo aparecer e tomar conta da faixa, progressões usuais para o público contemporâneo sedento por estímulos. A continuidade do BPM poderia muito bem dispersar o ouvinte logo de cara, no entanto, propositalmente, os papéis começam a se inverter após Prelude, adendo dentro do disco que aborda uma conversa entre Kelly e outro amigo que discute com a namorada. Em meio a tragadas, gritos e risadas, o músico afirma que está pronto para lançar o seu mais novo sucesso, a faixa sobre aquilo que ele sempre quis compor. Marry the Pussy (sim, isso mesmo) não é das suas melhores canções, mas abre o terreno para composições sensuais e feitas para os clubes, ambiente que o cantor domina como poucos.

You Deserve Better é excelente e começa a trazer batidas um pouco mais condizentes para 2013. O erotismo aflora-se e as intenções ficam mais claras quando Crazy Sex começa a tocar. As parcerias com rappers, algo que o músico cansou de fazer e divulgou amplamente ao longo de sua carreira, inclusive popularizando o termo featuring na indústria, consagram o disco. My Story com 2 Chainz e Spend That com Young Jeezy tem a intensidade que buscávamos no início da obra. Seu bumbo e baixo dançantes coincidem com clubes e festas na medida certa, trazendo o velho espírito do R&B do início do século. As canções românticas com duetos também são retomadas na melosa All The Way, com Kelly Rowland.

No entanto, o melhor momento fica para o final com a confessional Shut Up. Levando em consideração toda a sua atmosfera, poderíamos mas uma vez nos vermos enclausurados em mais uma faixa com ares passados. A sua letra aborda outras questões, como a famosa operação na garganta do músico, que o deixou debilitado por alguns meses ou o fato de ser considerado velho pela nova geração. Em um dos melhores trechos ele diz: “No offense to the other artist, but come on, dog/ le’s be honest/ How many babies been made off me?”. Ao final, chegamos à conclusão que, no meio artístico, poucos conseguem criar faixas com conotações sexuais tão explicítas e ainda ser amado por tantos, sem entrar em conflitos conservadores. Black Panties é a continuidade de um trabalho que vem sendo feito há bastante tempo, mas que ainda demonstra capacidade para criar hits. Entretanto, para os mais novos ou mesmo para os fãs de R&B, a fórmula aparenta cansaço e é, de certa forma, retrógrada. Pensando em qualidade sonora temos um trabalho bom mas considerando o futuro, percebemos que R. Kelly terá que se reciclar para manter o seu reinado, algo que Michael Jackson, por exemplo, sempre soube fazer.

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BOM PARA QUEM OUVE: Usher, Beyoncé, Frank Ocean
ARTISTA: R. Kelly
MARCADORES: R&B

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.