Resenhas

Lupe de Lupe – Distância

Em seu terceiro lançamento, grupo mineiro trabalha mais de sua honestidade, seja em letras ou na própria maneira com que produz sua música

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Ano: 2013
Selo: Popfuzz Records
# Faixas: 6
Estilos: Noise Rock, Noise Punk
Duração: 24'
Nota: 4.0
Produção: Lupe de Lupe

Sempre me divertiu a maneira que a Lupe de Lupe encontrou de definir seu som (“Loud Rock ou Noise Pop ou Punk Experimental”) e, muito além disso, sempre me chamou a atenção como o grupo tem uma atitude de investir sem muitos rodeios na música em que acredita. Em uma época em que tanta gente se preocupa com as fórmulas prontas e as produções com o pé no freio, a banda mineira sabe fazer bonito à sua maneira.

Quando você dá o play em Distância (seu terceiro lançamento), já percebe uma pegada de bagunça harmonizada, com uma melodia Pop entoada em anti-rimas e métrica livre. Isso por si só já é legal, porém o real valor da faixa (e de todo o disco) está na sinceridade com que os temas são mostrados, em pessoalidade no nível de “Quando você me disse ‘Vitor, está tudo acabado e vamos viver longe um do outro’, eu quase morri de desgosto”.

A partir daí, toda a franqueza dos mineiros é destilada em meio às suas guitarras, seja seu existencialismo (“É tão comum viver, mas é melhor saber que foi tudo em vão”, em Os Dias Morrem), paixões platônicas (Tainá Müller) ou a confusão de viver em nosso tempo (“Eu vivo pensando, eu sei, eu morrerei pensando”, em Areia Suja, parceria com a banda Young Lights).

Mas todas as suas seis faixas (que incluem a vinheta 3:00) parecem cercar a fortíssima Homem, uma das músicas mais impactantes do ano, senão a mais. Nela, o vocalista Vitor Brauer narra em primeira pessoa seus sentimentos em relação a um amigo homossexual. Porém, se engana quem achar que o valor da música está no tema e perde a chance de sacar uma poesia suada e cheia de hematomas, com versos como “Algumas pessoas pensam que eu sou como o trovão, mas eu sou como a chuva, eu sou a chuva que vem lavar e levar tudo de volta pro chão” e “nós, homens, fomos criados em corpos tão horrendos, feios e fracos, senão para sermos amados”.

Toda a beleza, a força e o próprio sentido de Distância residem na honestidade, tanto a das letras, quanto a com que a banda trabalha sua maneira de compor e tocar, sem intenções de parecer ou não parecer isso ou aquilo e sem pretensão de conquistar quem não está nessa pegada. E quem está aprova.

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BOM PARA QUEM OUVE: Savages, METZ, Yuck
ARTISTA: Lupe de Lupe

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.