Resenhas

Tim Hecker – Virgins

Produtor faz uso de metáforas violentas e espirituais com sua Drone Music em mais um grande álbum de sua carreira

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Ano: 2013
Selo: Warp Music
# Faixas: 12
Estilos: Ambient Music, Drone Music, Glitch, Eletrônico Experimental
Duração: 48:46
Nota: 4.5
Produção: Tim Hecker
Itunes: http://clk.tradedoubler.com/click?p=214843&a=2184158&url=https%3A%2F%2Fitunes.apple.com%2Fbr%2Falbum%2Fvirgins%2Fid69951130

Tim Hecker é um músico, DJ e produtor canadense, mas a edificação arquitetônica, plástica e o esmero que ele mantém com a própria obra tornam justo chamá-lo de “artista musical”. Seu trabalho situa-se entre a Drone Music Ambiente e a Glitch Music (sobre esta última, vale a visita no nosso artigo sobre o estilo para aprofundar o tema), território que é o principal responsável pelo seu destaque na música eletrônica experimental.

Doze anos separam Virgins de sua estreia, Haunt Me, Haunt Me Do It Again (2001), e, embora seus álbuns de maior cotação sejam Harmony in Ultraviolet (2006) e Ravedeath, 1972 (2011) temos agora mais um belo exemplo de Hecker em sua melhor forma. Ao contrário de outras músicas atmosféricas, em Virgins não temos um tempo interminável de “build up”, o artifício de construção emocional famoso do estilo, mas o uso de cortes e quebras que soam bruscos, (embora paradoxalmente sensíveis, no sentido em que se encontram no lugar exato e na hora exata) para despertar determinadas sensações no ouvinte.

Com estruturas desconstruídas, chega-se a falar de “destruição da música” em seu trabalho, mas me parece, longe disso, um certo tipo reorganização poética, que, apesar de aparentemente fora de lugar (longe das harmonias de modos clássicos a que nossos ouvidos estão tão acostumados) soam como belas camas harmônicas (como por exemplo na percussão desconjuntada se confunde à própria percussão do piano em Live Room), blocos de ruídos e espaços vazios que se encontram num estilo próximo, talvez, ao de James Blake, mas aqui à sua maneira única.

Com uma violência metafórica, trabalha suas composições com essa poética sinestésica, à qual se consegue descrever apenas por uma aproximação analógica. E esta dificuldade de situar e descrever seu trabalho é um sintoma de um trabalho com a qualidade artística acima da média. Os temas ajudam para a construção da mística em torno da música de Hecker. A capa que mostra uma estrutura de metal coberta por um lençol fantasmagórico num cenário templário, às citações a Abu Ghraib (a prisão iraquiana famosa por suas torturas), os sinais santos (porém assustadores) das Stigmatas, assim como o nome do álbum, que sugere um certo tipo de sacrifício humano ritualístico, ao contrário do frescor virginal e inocente que se poderia pensar a princípio. Tudo sugere um certo tipo de tensão (e conexão) entre o que há de mais baixo (a violência) e mais alto (a espiritualidade) no Homem.

Por tudo isso, há algo de obscuro ao invés de um clima meditativo ameno, que também pode ser usado como metáfora para o uso do maquinário de sintetizadores que Hecker faz para despertar sentimentos, seu caminho tecnológico-espiritual. A música em estado puro, emocionante e instrumental, mas que nasce diretamente da manipulação eletrônica e digital marcam Virgins. Ponha seu melhor fone de ouvido e aproveite mais um ótimo trabalho do produtor.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte