Resenhas

John Talabot – ƒIN

Com muita sinestesia e contemporaneidade, músico catalão faz uma obra de Eletrônica que constrói em cada faixa uma diferente ambientação que funciona para diversas situações, seja ao ouvir sozinho ou curtir nas pistas de dança

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Ano: 2012
Selo: Permanent Vacation
# Faixas: 11
Estilos: Eletrônica, Synthpop, Pop Eletrônico
Duração: 52'
Nota: 4.0

De vez em quando, surge uma obra que parece refletir exatamente o espírito da época por algum motivo ou outro, como se não fizesse sentido ela ser lançada décadas antes ou depois. Em um período em que tantas bandas e artistas lançam trabalhos atemporais, o catalão John Talabot parece seguir a direção contrária e realiza um álbum que espelha a maneira com que a música é experimentada hoje em dia.

É que ƒIN faz sentido apenas para um tempo em que as mentes estão preparadas para decodificar as mensagens sem separar um sentido do outro. Cada uma de suas faixas projeta dentro do ouvinte um videoclipe mental que vem acompanhado de olfato, tato, paladar e uma gama de possibilidades sensoriais e emocionais.

Talvez possa parecer para alguns que a música é maior do que ela mesma, mas ela tem, na verdade, o tamanho que precisa ter para ser percebida pela sinestesia – digo isso tanto no número de elementos em cada faixa, quanto na duração das mesmas, já que apenas duas tem muito mais de cinco minutos.

Cada uma delas constrói uma ambientação própria ao longo de seu desenrolar, com sons de instrumentos musicais, efeitos e vozes coexistindo na busca pela musicalidade, cores e texturas no público. As frases musicais ganham repetições atrás de repetições, como se fossem mantras eletrônicos, e você logo aprende a melodia para “cantar” mentalmente enquanto dança faixas instrumentais, como a refrescante Missing You e a complexa Last Land, que passa por diversos momentos sem perder a mesma melodia – uma das melhores do disco.

O coachar dos sapos e o fundo abafado e frio em Depak Ine remetem a cenas noturnas, enquanto El Oeste tem uma discreta flauta ensolarada que nos transporta para os filmes de cowboy e funciona como uma bela introdução para a agressiva Oro y Sangre, que seria uma faixa tranquila caso não tivesse gritos desesperados ásperos integrados à melodia. Enquanto H.O.U.S.E. trabalha referências às tendências da música eletrônica dos anos 90, com seus neons e brilhos, When the Past Was Present traz um colorido Synthpop com cheiro de discoteca.

Colaborações com os músicos Pional (em Destiny e So Will Be Now…) e Ekhi (Journeys) acrescentam versos às batidas de Talabot sem perder o mesmo caráter sinestésico das outras faixas, independente dos significados das letras. São músicas que funcionam tanto para curtir sozinho, quanto nas pistas, e cada uma das experiências gera suas próprias sensações.

A vontade que dá é de experimentar ƒIN em várias combinações: ouvindo com amigos, bebendo alguma coisa, ao vivo e deitado na cama, por exemplo, sabendo que não é o disco que vai se moldar à situação (tão pouco o momento se adaptará ao álbum), mas nossa própria percepção vai levar a composição para exatamente o que precisamos, atendendo à tendência de customização que nós, como consumidores, esperamos de uma obra.

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BOM PARA QUEM OUVE: M83, Toro y Moi, Xiu Xiu
ARTISTA: John Talabot

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.