Resenhas

Ed Harcourt – Time Of Dust

Obra do músico é um pequeno tesouro escondido sendo sua (re) descoberta, necessária

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Ano: 2014
Selo: CCCLX Music
# Faixas: 6
Estilos: Indie
Duração: 28:17
Nota: 3.5
Produção: Ed Harcourt

Ed Harcourt é um cantor/compositor à moda antiga. Foi baixista de uma banda obscura chamada Snug, depois foi chef e chegou ao fim dos anos 90 decidido a iniciar uma carreira solo. Já era um multiinstrumentista quando lançou o primeiro registro, o EP Maplewood, em 2001, gravado num estúdio caseiro no interior da Inglaterra. Logo em seguida, regravou algumas canções deste EP, adicionou outras e lançou Here Be Monsters, no início do ano seguinte, ainda sob o impacto de ser indicado como revelação ao Mercury Prize. Ao longo dos anos 00, Harcourt conseguiu certa popularidade no Reino Unido, principalmente a partir de seu segundo disco, From Every Sphere, de 2003, que o levou para a EMI e para shows conjuntos com gente como REM e Wilco.

Com uma carreira de oito álbuns, participações em trilhas de filmes, produções de gente improvável (como a cantora Sophie Ellis-Bextor), Harcourt sempre manteve-se discreto e aparentemente imerso num mood de austeridade em relação ao sucesso. Só em Lustre, de 2010, ele pareceu dar contornos mais ousados ao seu pop melodioso e soturno. No passado também houve momentos singelos nesse sentido, como “Hanging With The Wrong Crowd”, de Here Be Monsters, “Born In The 70’s”, de Strangers (2004), mas sempre com muita parcimônia. Após a grandiloquência de Lustre, Harcourt voltou com Back Into The Woods, no início do anos passado, no qual já voltava ao habitual tom tristonho. Essa tendência se confirma com este mini-disco de seis canções, no qual as canções pianísticas e soturnas são o elemento dominante. Time Of Dust tem belos momentos.

A canção de abertura, Come Into My Dreamland é conduzida por uma levada plácida de piano, num clima que deságua em momentos quase psicodélicos. “n My Time Of Dust segue na mesma vereda, nunca deixando que a bateria sintetizada e marcial se sobreponha ao amálgama de violões e piano elétrico. Os belos arranjos de cordas pontuam The Saddest Orchestra (It Only Plays For Us) alterna silêncios dramáticos e pequenas e controladas explosões de cordas, que poderiam ser ser de alguma canção do Coldplay inicial, dos tempos de Parachutes, seu primeiro disco. We All Went Down With The Ship é a única exceção em termos de brandura, trazendo uma interessante alternância de ritmos, em que um sonar sintetizado dá o tom de uma letra sobre opressão militar.

As duas melhores canções de Time Of Dust são Parliament Of Rooks, com participação de Kathryn Williams nos vocais de apoio e um fraseado solene ao piano. Love Is A Minor Key, a melhor canção do disco, encerra os trabalhos com classe e beleza. A obra de Ed Harcourt é um pequeno tesouro escondido. Sua (re) descoberta é necessária e para lá de recomendada. Vá em frente.

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ARTISTA: Ed Harcourt
MARCADORES: Indie

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.