Resenhas

Lee Ranaldo – Between the Times and the Tides

O fim casamento do músico com a Sonic Youth gerou um disco melancólico e nervoso que parece tentar encontrar o sentido de toda a vida – o que não consegue cumprir e o resultado é um álbum repetitivo e cansativo

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Ano: 2012
Selo: Matador
# Faixas: 10
Estilos: Math Rock, Math Pop, Indie Rock
Duração: 1 hora
Nota: 2.5
Livraria Cultura: 29784043

Ex-membro de uma das bandas mais influentes de rock alternativo que já existiram, o Sonic Youth, Lee Ranaldo tenta retomar a trilha musical com sua nova obra Between the Times & and Tides. O músico sempre contribuiu com seus arranjos distorcidos para o som sujo do SY e em muitas vezes fez o papel de compositor e cantor de diversas músicas clássicas do grupo, mas desta vez assume o papel principal, como já havia ocorrido com outros álbuns de sua extensa carreira solo.

Uma mistura de sentimentos, da melancolia ao nervosimo , define o ritmo do disco, que oscila assim como as sensações proporcionadas. Waiting On A Dream inicia com um riff de guitarra e uma construção junto com os outros intrumentos que é difícil remeter ao finado Sonic Youth, entretanto, logo na mesma canção, nos deparamos com um problema que se fará presente por todo o álbum: a repetição e a falta de edição em algumas músicas, o que pode levar ao cansaço do ouvinte.

Off The Wall começa igualmente boa e traz um clima alegre, sendo um ponto alto no CD. Em Xtina As I Knew Her, vemos referências do Post-Punk, com um som que ecoa e nos faz lembrar de bandas como Interpol e Editors só que mais viajado, com um toque onírico e com 7 minutos. Angles, segundo single, mostra todo o potencial do guitarrista com uma construção de riffs e um solo interessantíssimo, sendo um outro ponto alto. Hammer Blows é a maior expressão da melancolia e falta de sentido muitas vezes percebidas no álbum. A sua construção, toda em violão, tem letra e vocais sinceros, com um Lee Ranaldo cantando sons sem sentido no meio da canção, entretanto, carece de uma explosão e destoa completamente do ritmo do resto da obra.

Fire Island (Phases) é a melhor canção do álbum e, ironicamente, tem todos os elementos que são prejudiciais a ele. A música tem diversas variações de ritmo e clima inesperados, mas com uma coesão não vista ao longo da obra e uma combinação de voz e arranjos perfeita, que não cansam o ouvinte. Lost (Plane T Nice) lembra um pouco as canções do último álbum de J Mascis, também contemporâneo de Lee, e isso é um grande elogio. Entretanto, Shout nos faz lembrar do problema do álbum, a falta de coesão e quebra de ritmo, e que nessa altura do CD já leva o ouvinte a querer trocar de faixa. Daí vem Stranded, que leva a outra viagem que tampouco combina com a anterior e deixa a voz de Lee ecoando na cabeça de forma cansativa. Tomorrow Never Comes lembra os bons riffs do Sonic no começo, mas não consegue explodir – algo recorrente durante o álbum – e nos faz pensar que já tivemos o bastante da melancolia de Lee.

Ironicamente, ao terminar de escutar o CD o ouvinte não está melancolico pelo que Lee demonstra através de suas letras e arranjos, mas sim pela falta de coesão da obra. É triste ver que um dos membros da banda aparentemente ainda não conseguiu seguir em frente tão bem quanto Thurston Moore, por exemplo, que lançou uma obra elogiadíssima no ano passado. Mas tudo bem, o senhor Lee tem tempo para encontrar o sentido na vida que todos nós procuramos quando um relacionamento termina – no caso, seu casamento com o Sonic Youth.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.