Resenhas

David Crosby – Croz

Veterano do trio Crosby, Stills and Nash lança obra imune à prova do tempo, sem tentar reinventar o que sempre soube fazer

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Ano: 2014
Selo: Blue Cassete
# Faixas: 11
Estilos: Rock
Duração: 47:10
Nota: 4.0
Produção: James Raymond

O nome de David Crosby é associado ao grande trio que ele forma com Stephen Stills e Graham Nash, que também apresenta uma simpática mutação em forma de quarteto, com a adição sazonal de Neil Young. Alguns poucos podem lembrar dele nos Byrds, grupo seminal para o surgimento do Folk Rock e da consequente associação dele com o Country em fins dos anos 60. O fato é que Crosby tem uma carreira solo errática e seus poucos discos gravados sem os companheiros eventuais não conseguem atingir o mesmo nível das colaborações, exceção feita para o primeiro, If I Could Only Remember My Name, lançado em 1971, que, ainda assim, trazia um time de convidados famosos.

Croz, seu novíssimo álbum de inéditas, lançado 20 anos após seu último trabalho solo, mostra que nosso herói está bem servido em termos de parceria. Seu filho, James Raymond, com o qual tem colaborado desde fins dos anos 90, a bordo do trio CPR, assina arranjos e composições, pilota o estúdio, toca vários instrumentos e pavimenta um caminho seguro para que Crosby possa singrar mares de tranquilidade. A ideia que Raymond coloca na mesa para seu pai é que não há necessidade de buscar nenhum terreno desconhecido a esta altura do campeonato, com David batendo os 72 anos de idade. O melhor é proporcionar o clima exato, ou seja, recriar as sonoridades típicas do Laurel Canyon, algo que poderia ser entendido como um Soft Rock bem executado, tangenciando a sonoridade que muitos chamam de AOR, ou Adult Oriented Rock.

A abertura com What’s Broken, composta por Raymond, é uma verdadeira aula de como recriar os sons clássicos da California setentista, com direito a participação luxuosa de Mark Knopfler, que faz sua guitarra se somar ao todo. Presente também por todo o disco está o veterano baixista Leland Sklar, figurinha fácil nos discos de James Taylor e Carole King. Time I Have, composta intregralmente por Crosby, é uma declaração de intenções, uma pequena reflexão sobre os tempos raivosos do passado – ele foi detido várias vezes por posse de armas de fogo e/ou drogas – e a conclusão de que seu tempo deve ser – e está sendo – melhor aproveitado. Outro participante ilustre em Croz é o saxofonista Wynton Marsalis, que traz uma visão multidisciplinar sobre canções como Holding On To Nothing, lembrando sutilmente os flertes jazzísticos de Joni Mitchell em discos como Hejira e Court And Spark e de Carole King, em Fantasy.

Há espaço para canções sobre temas inesperados como If She Called, sobre prostituição e Set That Baggage Down, sobre os tempos loucos do passado. O grande trunfo de Croz é a sua absoluta contemporaneidade. Nunca soa como um disco nostálgico, ainda que seja construído em terrenos já conhecidos há tempos, mas não é um álbum de um senhor septuagenário lamentando pelo que viveu. Crosby disse que seu disco não venderia mais que 19 cópias, uma vez que ele é um cara recluso e pouco conhecido dos novos ouvintes de música Pop. Ao lado de Psychedelic Pill, de Neil Young, The Rides, de Stephen Stills e, mais recentemente, New, de Paul Mccartney, Croz é um disco bem legal, aparentemente imune à prova do tempo.

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BOM PARA QUEM OUVE: Neil Young, Paul McCartney

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.