Resenhas

The Autumn Defense – Fifth

Reunião de músicos famosos da cena Folk é destaque pela produção e qualidade das composições

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Ano: 2014
Selo: Yep Roc
# Faixas: 12
Estilos: Soft Rock, Dream Pop
Duração: 46:08
Nota: 4.0
Produção: John Stirratt e Pat Sansone

Pat Sansone e John Stirratt certamente gostariam de ver um disco de seu The Autumn Defense classificado como Soft Rock ou Dream Pop. A ideia deles é justamente essa: tocar, gravar e pensar num disco como se estivessem numa Califórnia da primeira metade da década de 1970, cheia de sonhos, promessas, nuances e quartos vagos no mitológico hotel homônimo. Era a meca musical do intangível, o oposto de uma realidade palpável demais, uma Disneylândia de comportamentos permissivos e, por que não, de liberdade criativa e oportunidade, para onde todos queriam ir, mesmo ingleses de passagem, como Paul McCartney. Se tudo desse certo, a Califórnia seria o futuro da humanidade. Sansone e Stirratt, dois sujeitos nascidos na eólica cidade de Chicago, grandes instrumentistas, integrantes da formação atual do Wilco, distraem suas mentes das regras formais da modernidade sonora fazendo essa pequena visita ao passado recente, sempre mais distante que o longínquo arrastar dos séculos.

Stirratt fez parte do Uncle Tupelo ao lado de Jeff Tweedy e migrou com este quando era hora de partir para uma nova banda, no caso, o próprio Wilco. Viu seu novo grupo mudar de inspiração musical até alcançar o status atual, algo que só ocorreu a partir do início dos anos 00, mais precisamente em 2003, quando Sansone entrou para a banda. Antes disso, os dois já haviam gravado dois discos sob o nome The Autumn Defense, sempre com o objetivo declarado de visitar os sons setentistas californianos. Fifth é, como o nome já diz, o quinto trabalho do TAD, mantendo uma tradição de lançamento de um novo álbum a cada três, quatro anos, sempre como se estivessem aliviando suas mentes musicais das obrigações do cotidiano. A dedicação na reprodução dos climas é tão sincera e a dupla é tão talentosa, que as canções que surgem vêm com frescor e relevância, nunca parecendo que o grupo está, simplesmente, copiando algo ou alguém.

Belezuras pipocam por todos os cantos do disco. A abertura com None Of This Will Matter está naquela encruzilhada Beach Boys/The Beatles/Big Star de Powerpop melodioso, que muitos entendem como propriedade intelectual do Teenage Fanclub, na verdade, um discípulo aplicado deste som. This Thing That I’ve Found e Things On Your Mind lembram muito Electric Light Orchestra, enquanto I Can See Your Face parece uma canção perdida do Bread. I Want You Back, que nada tem a ver com o sucesso dos Jackson 5, é uma clássica balada beachboyana, despida de arranjos mais elaborados, permeada por piano, bateria light e pontuações de cordas, quase imperceptíveis. Calling Your Name também transita na encruzilhada Pop perfeita, dessa vez visitando o universo de Todd Rundgren e outros magos da melodia suprema. Can’t Love Anyone Else, com bateria marcial a cargo de Greg Wieczorek e melodia que não faria feio no repertório de Paul McCartney. August Song, cheia de violões e percussão, lembra aquelas camisas floridas e drinks coloridos na beira da piscina.

A grande jóia desta coroa é, sem dúvida, Why Don’t We. Trata-se de uma pequena e controlada explosão de harmonia, melodia e ecos de todo um pop virtuoso e perfeito surgido dos Beach Boys circa 1974, dos conglomerados Folk erráticos e dos sonhos de uma noite de verão em contato com ondas do Pacífico. Fifth é uma beleza, um beijo musical.

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BOM PARA QUEM OUVE: Bread, Ryan Adams, Wilco
MARCADORES: Dream Pop, Ouça, Soft Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.