Resenhas

Neil Finn – Dizzy Heights

Demora pelo novo disco solo do músico é justificada pela qualidade deste incrível trabalho

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Ano: 2014
Selo: Lester Records
# Faixas: 11
Estilos: Pop, Rock
Duração: 46:58
Nota: 4.0
Produção: David Fridmann

Muita gente conhece Neil Finn e não sabe. O maior nome do Pop neozelandês esteve à frente de uma bela banda da virada dos anos 70/80 chamada Split Enz, junto a seu irmão Tim. Pouco tempo depois, montou outro grupo, Crowded House, que chegou a emplacar dois hits mundiais, Don’t Dream It’s Over (1986) e Better Be Home Soon (1988). A carreira da banda seguiu oficialmente até 2006, quando Neil encerrou as atividades com um concerto de despedida em Sidney, Austrália. Ele já possuía uma bem sucedida carreira solo, tendo lançado seu primeiro álbum, Try Wistling This, em 1998. Pouco antes, em 1995, voltou a gravar com seu irmão Tim, sob o nome de Finn Brothers, registrando quatro álbuns até 2006. Como se não fosse suficiente, Neil ainda fundou um coletivo chamado 7 Worlds Collide, em 2002, lançou um disco com participação de Johnny Marr, Ed O’Brien (Radiohead) e Jeff Tweedy (Wilco), entre outros, e gravou um belo álbum chamado The Sun Came Out.

Nos últimos anos, Neil ainda teve fôlego para reativar o projeto Crowded House (já lançou dois discos desde 2007, Time On Earth e Intriguer) mas, álbuns que levam apenas o seu nome, são eventos raros. Dizzy Heights é apenas o terceiro registro musical nestes termos, com o homem assumindo toda a responsabilidade. Com uma produção diversificada e intensa, não admira que Dizzy Heights traga lufadas de ar fresco para o Pop bem feito e polido que Finn pratica desde sempre. A produção de David Fridmann, responsável pela impressão de um gentil crossover entre Psicodelia e Rock Alternativo nas assinaturas sonoras de gente como Flaming Lips e Mercury Rev, traz resultados interessantes. O grande diferencial do disco está na igualdade de condições entre as composições e o esmero da produção, num saudável equilíbrio, que evita que algo se sobressaia. O clima soturno de Impressions já anuncia um caleidoscópio sonoro e movediço, dando lugar à gentileza de Soul Music oblíqua que é a faixa-título, em meio a cordas e melodia ensolarada, cheia de rocamboles. A levada mais rápida de Flying In The Face Of Love é puro Paul McCartney anos 90, cheia de detalhes e corais de apoio que brincam de esconde-esconde.

Divebomber tem andamento lento e instrumental de sonho, com a voz de Neil vindo das profundezas, num movimento orquestral que nunca se concretiza totalmente. Better Than TV já é mais usual, ainda que traga detalhes e decalques aqui e ali, enquanto Pony Ride novamente traz uma aura de sonoridades recentes de Paul McCartney e White Lies And Alibis encarna um clima mais soturno, com o instrumental visitando paisagens mais soturnas, que poderiam lembrar um Peter Gabriel mais Pop. Novamente, as alamedas The Beatles mais contemporâneas, construídas por admiradores recentes, como XTC, por exemplo, são visitadas em Recluse e Strangest Friends, sendo que a última chega a lembrar alguns tiques instrumentais da encarnação mais oitentista do Roxy Music. In My Blood é a única faixa do disco que poderia caber num disco normal do Crowded House, o que não a desmerece de jeito nenhum, mas é onde o resultado da interação Fridmann-Finn tem menos momentos de brilho. O fecho com Light Of New York é triste e com ruídos que podem ser da própria Big Apple ao anoitecer, se misturando com insinuações jazzy ao piano e a voz de Neil se desfazendo na bruma.

Dizzy Heights é um raro espécime em 2014. Tem o pedigree de um dos maiores compositores pop dos últimos anos (sem exagero, você só não ouviu falar no homem) e um produtor motivado e com habilidade para imprimir marcas d’água musicais sem a necessidade de prejudicar o resultado final. Se os álbuns solo de Neil Finn demoram tanto a vir, que haja uma compensação generosa a cada lançamento e aqui essa marca foi atingida com mérito. Beleza de disco.

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ARTISTA: Neil Finn
MARCADORES: Ouça, Pop, Rock

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.