Resenhas

Andrew Bird – Echolocations: River

Proposta sem originalidade prejudica ainda mais canções sem graça

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Ano: 2017
Selo: Wegawan
# Faixas: 8
Estilos: Experimental, Folk, Instrumental
Duração: 40:01
Nota: 1.0
Produção: Andrew Bird

Este pequeno álbum do cantor, compositor e violinista norte-americano Andrew Bird me causou certa reflexão, muito mais por sua proposta que por seu conteúdo. Echolocations: River traz uma ideia simples: Bird e seu violino, tocando gravando sob uma ponte em Los Angeles, com água até a altura do calcanhar, aproveitando as nuances do ambiente em questão. Só isso. A ideia é essa: captar possíveis alterações causadas por reverberações e interferências do meio ambiente na música tocada. Eu pergunto: E daí? Qual a razão para tudo isso? Há outra: junto ao álbum, sai um curta-metragem com o registro de imagens da empreitada. Eu, novamente, pergunto: E daí, gente? Tem ainda mais um detalhe: é o segundo volume dessa série de Bird, a tal de Echolocations. A primeira foi lançada há dois anos, com o título de Canyons e trazia o nosso amigo tocando seu violino em um, pois é, canyon.

Vejam, eu não discuto a relevância de quase nada, especialmente em casos bem intencionados, como parece ser este. Bird pode ter sentido desejo de contrapor à tecnologia onipresente de hoje um registro purista e com zero interferência. O purismo para na tecnologia utilizada para efetuar a própria gravação, certo? A ambiência sonora obtida com a escolha da ponte sob o Rio Los Angeles e o efeito de relaxamento causado pela água em contato com o corpo ou mesmo pelo som de eventuais gotas, pode – e deve – ter recebido tratamentos em estúdio – só isso explicaria certos momentos percussivos e misteriosos, nos quais as gotas parecem criar sequências melódicas e tudo mais. Francamente, além de tudo é meio chato.

Já se foi o tempo em que pesquisadores Folk saíam pelas paisagens com microfones para captar o som do meio ambiente e utilizá-lo como referência artística. Gravar na natureza é um procedimento do qual vários artistas populares já se valeram, inclusive nomes laureados como Paul McCartney, por exemplo. Se a vontade de Bird era interagir com o meio ambiente ou mesmo simular uma eventual relação de causa e efeito, talvez fosse melhor tentar fazer coisas como a série Ambient Music, de Brian Eno, na qual o compositor e gênio inglês pesquisou e montou discos com sons de lugares específicos. Quando todo mundo pensava que ele se restringiria a ambientes fechados, em 1981 ele soltou o definitivo Ambient 4: On Land, álbum assombroso no qual conseguiu captar os sons da existência a céu aberto. Se você nunca ouviu, recomendo que pare de ler e vá correndo atrás.

Diante dessa discussão e do propósito que Bird reivindica para este disco, suponho que as canções ficam em segundo plano e, de fato, elas são esquecíveis, chatas e não acrescentam nada, seja no terreno da composição instrumental moderna, seja num hipotético terreno de gravações feitas em lugares específicos.

Se você não tem absolutamente nada para fazer ou estuda violino ou é fã die hard da obra do sujeito – que tem discos ótimos no idioma Pop/Folk alternativo – recomendo a audição desse álbum. De resto, favor passar batido/a.

(Echolocations: River em uma música: Lazuli Bunting)

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.