Resenhas

KIDS SEE GHOSTS – KIDS SEE GHOSTS

Kanye West e Kid Cudi lançam disco bem equilibrado e conciso sobre mentes nem tão equilibradas

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Ano: 2018
Selo: G.O.O.D. Music
# Faixas: 7
Estilos: Hip Hop, Rap
Duração: 23'
Nota: 4.0

Não é de hoje que a relação entre Kanye West e Kid Cudi é frutífera. Há uma década, fomos apresentados ao duo em 808s & Heartbreak, quarto álbum de estúdio de Kanye, no qual o “coração partido” de Kid Cudi está creditado com um terço da produção. A angústia embebida por Autotune da dupla também continuou com o respeitado My Beautiful Dark Twisted Fantasy (2010), além do primeiro álbum de Cudi, Man on the Moon: The End of Day (2009), e duas composições de The Life of Pablo (2016).

Ao longo da história, o Hip-Hop se engrandeceu com parcerias primorosas. Recentemente, tivemos a sequência de discos curtos da G.O.O.D. Music (Pusha-T, Kanye West e Nas) e The Carters (rainha do Pop Beyoncé junto de Jay-Z, um dos maiores rappers de todos os tempos), por exemplo. Felizmente KIDS SEE GHOSTS, a super parceria de Kanye e Cudi prova que a estratégia de união, realmente, dá resultado.

Sete composições concisas evocam confissões, problemas e alívios. Assim como ye (2018), eles deixaram o personagem “artista” de escanteio para colocar intimidade em cena. Já nos primeiros versos de Feel The Love, faixa em que a dupla recebe Pusha-T — com quem Kanye trabalhou em Daytona (2018) —, é possível sentir a força do desabafo de quem vive e tem que lidar com a instabilidade mental, como vimos em diversos episódios nos últimos anos. Yeezy foi diagnosticado com transtorno bipolar e teve uma questão com opióides, enquanto Cudi, por sua vez, enfrentou a depressão, além do vício em drogas por muitos anos, o que levou-o a reabilitação. Por mais que a letras girem em torno dos demônios interiores, elas também mostram (e até insistem) que, de alguma maneira, eles foram superados: “I can still feel the love”.

Quanto à musicalidade, a mesma forma de construir as batidas em repetições são vistas em Freeee (Ghost Town, Pt. 2) e Reborn. A primeira nos faz acreditar que Cudi conseguiu se curar e chegar onde queria (“Yeah, nothin’ hurts me anymore/Guess what, babe? I am free”) e já outra é como se ele estivesse falando para o ouvinte não desistir, continuar seguindo sempre em frente. 4th Dimension abre espaço para o inesperado sample de What Will Santa Claus Say (When He Finds Everybody Swingin’), clássica música de Natal de Louis Prima lançada em 1936, entre uma atmosfera e risadas fantasmagóricas — dialoga muito bem com o “old Kanye”.

E por falar em fantasmas, a faixa-título explora o mundo metafísico que as crianças conseguem ver e que os adultos não se permitem mais. Ouvindo esse disco, é como se os rappers voltassem a ter essas visões. Só que desta vez, na versão assombrosa, assustadora e monstruosa de uma doença mental. Não à toa, Cudi Montage encerra o álbum de uma forma melancólica e traz, mais uma vez, o cuidado de Kanye com samples. Aqui, brilha um excerto de Burn the Rain, uma das raridades de Kurt Cobain presente no documentário Montage of Heck.

Evidentemente, KIDS SEE GHOSTS é um disco bem equilibrado e conciso sobre mentes nem tão equilibradas. Os parceiros de longa data conseguiram mostrar um respeito mútuo no estilo e método de cada um. As letras, samples, batidas, tudo é construído como um mantra, um instrumento de pensamento. Nos 23 minutos, Kanye West e Kid Cudi enterram seus fantasmas interiores, aceitam imperfeições pessoais e claro, continuam seguindo em frente.

(KIDS SEE GHOSTS em uma música: Feel The Love)

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BOM PARA QUEM OUVE: The Carters, Pusha T
MARCADORES: Hip-Hop, Ouça, Rap