Resenhas

Nas – NASIR

Figura emblemática do Rap retorna em álbum produzido por Kanye West

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Ano: 2018
Selo: Mass Appeal
# Faixas: 7
Estilos: Rap, Hip Hop
Duração: 26:35
Nota: 3.5
Produção: Kanye West, Andrew Dawson, Benny Blanc,o BoogzDaBeast, Cashmere Cat, Che Pope, Eric Danchick, Evan Mast, Mike Dean, Plain Pat

O décimo primeiro álbum de Nas, para o bem e para o mal, nasce sob a influência astrológica de muitas forças que operam sobre ele. Sendo um ponto de referência entre os protagonistas do Rap, o artista estará inevitavelmente suscetível às expectativas geradas, seja pelo tempo de reclusão que passou sem lançar um trabalho inédito, seja pelo cenário efervescente em que finalmente ressurge. Se essa é uma verdade universal para a arte, já que nenhum trabalho existe fora de contexto, esses fatores ganham um peso especial no caso de NASIR.

A primeira coisa a ser considerada é a herança mitológica de Illmatic, álbum que o rapper do Queens lançou na transição dos seus 20 anos de idade, e que se tornou um dos pilares fundamentais do Hip Hop. A segunda é seu lugar na sequência de álbuns curtos produzidos por Kanye Westye, Kids See Ghosts e Daytona -, que marcam uma nova e promissora fase para o artista. Outro fator a se levar em conta, ainda que mais rarefeito, é o período fértil pelo qual passa o Hip Hop estadunidense – de onde tem saídos faixas como This Is America e APESHIT, por exemplo.

Nas é capaz de elaborar, em seus melhores momentos, letras pontiagudas e evocativas. Sua perspectiva horizontal traz consigo um tom de voz que fala de igual para igual com o ouvinte, empatizando com seus pares, dividindo a dor de ser um indivíduo negro na América. Tudo isso, é claro, sem abrir mão da raiva e da resignação que estas narrativas suscitam, o que inflama o teor emocional de suas músicas.

Por isso, será um pouco esquisito notar o contraste político de um trabalho protagonizado por Nas e produzido por Kanye West, cujas declarações políticas tem causado um mal estar geralizado nos últimos anos. Talvez não seja por acaso que esse álbum soe tão dividido entre momentos assertivos e outros desfocados. Não há dúvida de que ambos são dois dos artistas mais emblemáticos da história do Rap, mas a quantidade de elementos em jogo no tabuleiro de NASIR o torna um exemplar, no mínimo, instável.

Not For Radio, Cops Shot The Kid e Adam and Eve são faixas cinematográficas, com doses experimentais, que determinam um patamar político no trabalho. São músicas complexas, carregadas de paradoxos, que irão satisfazer os ouvidos contemporâneos sem esforço. Os timbres rasgados, “clipados”, parecem marcar uma tentativa de Kanye West de estabelecer um novo parâmetro para o Hip Hop: o de uma linguagem hiper-processada, fragmentária, que exibe vocais crus e explosivos. Já Bonjour e everything, por exemplo, pertencem a outro espectro, pois parecem apegadas à ostentação e a valores veteranos que já não fazem mais tanto sentido hoje em dia. Como NASIR é um álbum curto, a presença dessas faixas pesa no saldo final.

Após seis anos de espera, Nas não entrega um álbum à altura da expectativa que, querendo ou não, acabou construindo. No entanto, vale a pena atentar para alguns dos melhores momentos desse trabalho, ouví-lo algumas vezes, e encontrar aí o artista afiado que, não à toa, se tornou uma instituição no estilo, um ponto de referência para o qual muito do que já feito na história do Hip Hop converge.

(NASIR em uma música: Not For Radio)

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BOM PARA QUEM OUVE: Talib Kweli, Pusha T, Kanye West
ARTISTA: Nas
MARCADORES: Hip Hop, Rap

Autor:

é músico e escreve sobre arte