Franz Ferdinand + Boogarins – Espaço das Américas, SP

Escoceses retornam mais uma vez ao país em novo, animado e enérgico concerto, que teve ainda abertura de Boogarins

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Fotos: Foto por Fabio Nunes (Rolling Stone)
Nota: 4.0

A noite da última terça-feira, 30 de setembro, marcou alguns reencontros entre o público de São Paulo e duas bandas em fases distintas. Enquanto a abertura feita pelos Boogarins representava o primeiro concerto em terras paulistanas desde Janeiro, quando partiram para uma extensa turnê européia e norte-americana, Franz Ferdinand, um dos grandes nomes do Indie Rock e figura carimbada no Brasil, voltava após uma participação no Lollapalooza 2013 e um interessante quarto disco no bolso. Para os presentes, a noite não poderia ter sido melhor.

Os goianos do Boogarins abriram as festividades musicais para mais um concerto certeiro, seguro e bastante a vontade diante de 3 mil pessoas que se não conheciam o poder do Rock Psicodélico do quarteto, agora já podem correr atrás do tempo perdido. Ao vivo eles escapam do próprio conceito de seu disco em uma apresentação que não se prende em estruturas, preferindo improvisar entre cada música e nos fazer relembrar dos bons tempos do estilo.

Cantar em português traz o público mais perto, mas no meio da lisergia de músicas como Doce, Lucifernandis , Erre e Infinu, Dinho, Benke, Raphael e o seu novo baterista e ex-Macaco Bong, Ynaiã Bethroldo, acabariam atraindo os ouvidos por um som que surpreende a cada novo concerto. Uma música nova, Tempo, mostrou um grupo com novas influências em seu segundo disco que deve chegar no começo de 2015, uma mistura bem interessante entre a sua levada já característica e um peso distorcido inédito, quebrando as estruturas anteriores para criar algo novo e que nos deixa curiosos para os seus futuros empreendimentos. Ao fim, a certeza de que veremos os meninos cada vez mais em evidência em seu próprio país, holofotes necessários e justos para uma banda bastante notável na cena internacional independente.

No entanto, todos os presentes que ganharam um baita concerto de abertura, estavam lá para ver uma das bandas mais queridas pelo público que gosta de Indie Rock e que ajudou de certa forma a semear o estilo por aqui e mundo afora. Franz Ferdinand não é nem de perto uma banda inédita em território brasileiro ou mesmo em São Paulo. Nos últimos 2 anos, já havíamos os vistos em um concerto do Festival da Cultura Inglesa, depois no Loolapalooza e antes disso tudo em outras apresentações no mesmo Espaço das Américas (Moto Rock 2006) e em 2010 no já extinto, Via Funchal – fora as inúmeras visitas ao Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. Logo, não estavámos diante de uma apresentação inédita ou inesperada, todos os presentes (menos da metade da lotação do EDA), não esperavam nada além da diversão certa, algo que os escoceses sempre conseguem entregar com uma energia única.

Homenageando bastante o seu primeiro disco, o quarteto, que tinha somente alguns amplificadores cenográficos com os dizeres de seu último disco, conseguiu fazer o público não parar em momento algum. No You Girls, segunda faixa, já mostrava que estaríamos dominados por uma cantoria generalizada e empolgante – mesmo em músicas de Right Thoughts, Righ Words, Right Action como Evil Eye, Right Action ou Stand on the Horizon, os fãs mostravam saber as letras de cor, prova do carinho que os brasileiros tem por Alex Kapranos e companhia. No entanto, é na boa nostalgia emanada pelo grupo que a sua atuação se torna ainda mais empolgante. Ouvir, Do You Want, Dark of the Matinée e Walk Away é como dar aquele abraço no velho amigo que você não encontrava desde a sua infância – o papo continua igualmente gostoso e as memórias de momentos anteriores parecem intocáveis e ainda mais reais.

Talvez, como grupo, aos poucos, os escoceses saíram de evidência, por serem figuras carimbadas por aqui ou por simplesmente possuírem em mais de dez anos de carreira, apenas quatro discos. Mas essa consistência, entre cada apresentação, sempre realçando uma presença de palco enérgica, tentando sempre ir ao contato do público como em Take Me Out, guardada para o final da apresentação ou à inesquecível Ulysses, chegamos a conclusão de que não existem discos ruins ou shows ruins do Franz Ferdinand: seja você um primeiro frequentador ou um assíduo fã, a certeza é que você não sairá decepcionado. Com um setlist bastante eclético, que não deixou de lado nenhum álbum, tocando inclusive raridades como o lado-B, Erdbeer Mund, podemos dizer que quem foi atrás de festa encontrou muito mais.

Resultado, na verdade, da ótima relação que o Franz Ferdinand tem com o Brasil. Uma faixa que eterniza essa bela troca de suores entre ambos, pode ser explicitada no clássico Michael de seu primeiro disco: “This is where I be so heavenly / So come and dance with me, Michael”, Alex chamou todos pra dançar e acabamos aceitando, continuando esse relacionamento desde 2005.

Grandes momentos? A dobradinha entre Can’t Stop the Feeling e Auf Achse com um final empolgante quando todos os membros foram tocar bateria juntos e a já conhecida incendiária faixa, This Fire que sempre tem sua duração prolongada. Ao final, um último pedido, que todos se abaixassem nos derradeiros momentos da apresentação: conclusão, 95% do público aceitou mais um pedido. Também com mais um empolgante, divertido e sincero show, como se fosse o primeiro, não poderíamos fazer mais nada do que entrar na festa dos escoceses. Prova mais uma vez que o Indie Rock ainda vive em grupos eternos como ele que além de mostrarem amar o que fazem, sempre com muita energia, tem bons discos e ainda um dos concertos mais dançantes, performáticos e bem-feitos que temos a chance de ver por aí. Continue voltando para cá que a festa é sempre muito boa.

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MARCADORES: Show

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.