Stromae – Audio Club, SP

Astro Pop europeu entrega seu cartão de visita ao público brasileiro e hipnotiza todos com espetáculo acima da média

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Fotos: Fernando Galassi
Nota: 4.5

Há menos de um ano, fizemos um artigo para que os leitores do Monkeybuzz conhecessem o artista belga Stromae, uma das maiores estrelas Pop da Europa da atualidade. Misturando Hip Hop com música Eletrônica, além de diversos ritmos étnicos e instrumentos percussivos, o som do músico formado na bateria é realmente único. Pudermos ver na cheia apresentação na Audio Club, em sua primeira passagem pelo Brasil, que muita coisa mudou e que o cantor será cada vez mais conhecido em terras tupiniquins.

O show de Stromae é um espetáculo em letras garrafais. Hipnótico, performático e extremamente bem pensado em sua estética, o concerto do último dia 22 de março em São Paulo foi o segundo no país após sua apresentação na noite anterior no Rio de Janeiro e provavelmente surpreendeu muitas pessoas em ambas ocasiões. Não que elas não esperassem ouvir suas músicas favoritas de seus dois discos, Cheese (2010) e Racine Carrée (2013), mas certamente não imaginavam tanta intensidade e potência vinda de um sujeito magricelo, esguio e quase desengonçado. Aliás, ao vivo, a silhueta do cantor se apresenta sob diversas formas: dançante, eufórica, melódica, bêbada e hipnótica, mas nada desengonçada.

Entrar no espírito de sua apresentação é entender a festa de Stromae e como um som cada vez mais característico dele se molda com o público enquanto uma verdadeira performance de um Pop Star. O músico, visivelmente surpreso com suas letras em francês sendo cantadas por grande parte dos presentes, soube comandar o seu espetáculo com maestria mesmo que em alguns momentos existisse uma lacuna grande entre o cantar e o entender de suas letras. A comunicação e muitas vezes os esclarecimentos a respeito de suas composições se perdiam entre uma música e outra, mas ninguém parecia se preocupar muito com isso: todos estavam ganhando um baita show em pleno domingo.

Faixas como Ta Fête, Peace or Violence, Moules Frites e Carmen pareciam envolver todos em uma dança de profundo transe: em cada um dos momentos, Stromae interpretava cada um dos personagens de suas composições causando sempre espanto e euforia ao público – como ele poderia entregar tudo isso sem fazer playback algum? A verdade é que o seu grupo de apoio, composto por quatro músicos de origens diversas, faz tudo verdadeiramente ao vivo, alternando entre instrumentos e sempre entregando um som síntetico criado ali, na hora. Em Ave Cesaria, por exemplo, um de seus músicos toca um cavaquinho enquanto em Merci, todos, inclusive Stromae, se dividem em seus instrumentos e criam uma percussão Eletrônica formidável.

Formidable, inclusive, um de seus maiores hits e sucesso imediato após o seu vídeo explodir na Internet, foi certamente um dos momentos mais celebrados da noite com todos cantando a plenos pulmões uma das músicas mais sinceras da carreira do músico. Na performance, Stromae se desfaz de sua gravata, abre o colarinho da sua camiseta e canta bêbado como o personagem criado em sua composição. Ao fim, um vômito forçado e uma queda no chão nos mostram o grau de comprometimento dele com a sua arte: não basta cantar, deve-se transformar na sua criação.

As diversas trocas de roupa entre cada música e os efeitos no telão, que se misturam entre graus de euforia e melancolia, demonstram que o Stromae tem um cuidado maior com cada um dos elementos ao redor de sua música. Em Papaoutai, as mesmas vestimentas de seu clipe, assim como o mesmo aspecto de boneco de cera são recriados ao vivo, trazendo outro sentido para a palavra espetáculo. Não é a toa que, em menos de um ano entre seu primeiro show no país e o nosso artigo, sua figura se tornou cada vez mais comum em outros lugares fora da Europa – ele irá figurar entre os headliners do festival Coachella nos EUA, país que ele parece reverberar e crescer a cada nova turnê.

Sua figura passa longe do cliché: “músico que canta em francês”. A prova disso é que suas letras, normalmente pesadas, cruas e melancólicas, dificilmente são interpretadas dessa maneira porque a sua linguagem verdadeira é a música. Seu primeiro grande hit, o festivo Alors On Danse, por exemplo, mostra um homem triste, sem muitas esperanças na vida e que tem a dança como solução. Mas ninguém parece se importar muito com o tema porque a comunicação entre público e artista se dá de outro maneira – o sentimento de sua criação passa por sempre contemplar a alegria mesmo nos momentos de maior dificuldade.

A prova de estamos diante um astro Pop distinto, que nos entrega sem pedir muito em troca e que gosta do que está fazendo, ocorreu após o bis e os agradecimentos – uma versão acapella de Tous Les Mêmes (que já havia sido tocada e celebrada antes, principalmente pelo fato de o belga interpretar de forma bipolar as figuras masculina e femina de seu clipe entre cada verso). A versão final feita por ele e sua banda pedia na verdade somente silêncio ao público para que fosse ouvida acusticamente e o mesmo não pôde fazer muita coisa senão aplaudir ao final deste verdadeiro espetáculo. Temos certeza que, se o cartão de visitas precisava ser dado ao público brasileiro, ele foi entregue e dificilmente será esquecido.

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ARTISTA: Stromae
MARCADORES: Show no Brasil

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.