Feist – Cine Joia, SP

A canadense anima o público (até demais) em seu primeiro show no país, mostrando a beleza de sua arte e a força de sua performance

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Fotos: Diego Ciarlariello/Rolling Stone
Nota: 4.5

“Caipirinha”. Foi essa a primeira palavra que Feist disse ao subir ao palco do Cine Joia, em São Paulo, para o primeiro dos três shows desta sua primeira vinda ao país. Como a bebida denota, a noite teve clima de festa mesmo com algumas músicas melancólicas e introspectivas – que podem não ter alcançado todo seu potencial, mas evidenciaram uma beleza ímpar, principalmente por conta da performance impecável da cantora.

Com um pequeno atraso que deixava o público ainda mais ansioso (sem contar que o show era às 23h em uma segunda-feira), a moça subiu ao palco acompanhada de três músicos e do trio Mountain Man, que lhe servia de backing vocal. Logo na abertura, com How Come You Never Go There, algumas coisas ficavam claras: Feist é uma excelente instrumentista, sua voz é ainda mais bonita ao vivo e a riqueza sonora daquela performance era primorosa.

E a força da interpretação da cantora e de sua banda ficou mais que comprovada com A Commotion, que apareceu logo em segundo lugar no set. A casa quase lotada seguia os incentivos da artista, que regia o público para cantar aos gritos os versos mais fortes da canção. Essa dinâmica continuou ao longo da noite, em meio às muitas tentativas bem sucedidas de comunicação com o público, seja no português lido na cola, no inglês espontâneo ou na linguagem corporal durante as músicas.

Com alguns sucessos antigos misturados ao repertório de Metals, seu mais recente álbum, Feist improvisou um pedido de desculpas musicado pelo cancelamento de seu show (por motivos de saúde) há alguns anos, emendado em So Sorry, que marcou o que viria a ser o início do segundo ato da apresentação. A primeira metade ficou marcada ainda por uma performance sublime de The Circle Married the Line, talvez o momento de maior beleza da noite.

A segunda parte teve direito a cover de My Girl e o ponto mais alto da festa com o sucesso I Feel It All. E foi em meio a tanta empolgação que o show encontrou o que veio a ser seu único aspecto negativo: a própria festividade que Feist promoveu desde o início. Como ela mesma disse em certo momento, as coisas estavam “fugindo de controle” – “What have I done?”, ela chegou a brincar.

Isso prejudicou músicas como The Bad in Each Other e o encerramento da segunda parte com a intimista Get It Wrong, Get It Right. Enquanto ela se frustrava (embora tentasse não demonstrar) que os pedidos para o público cantar junto resultavam em gritos de “woohoo” e “lindaaa!”, alguns espectadores se irritavam com o “oba oba” dos mais efusivos e pediam silêncio.

Para piorar, na maior boa vontade, Feist abriu o palco para um casal dançar Let It Die no palco, música que fechou o bis após uma cover de Broken Social Scene (Lover’s Spit) e Sealion. Foi aí que umas sete ou oito pessoas se sentiram à vontade para subir e dançar em volta dos músicos, mexendo nos instrumentos e fazendo graça. Enquanto alguns riam e outros sentiam a maior vergonha alheia possível, a cantora e as backing vocals tentavam contornar a situação e levar tudo no espírito de brincadeira, mas o desconforto era visível.

Mesmo assim, as maiores lembranças da noite ainda são a canadense (tão miudinha pessoalmente) mostrando todo seu potencial artístico ao dançar alucinadamente enquanto toca sua guitarra e brinca com sua voz. Leslie Feist é uma artista completa e mais do que madura, sabendo como levar ao palco a beleza de suas composições, que já emocionaram aquele público diversas vezes em seus discos, e dando aos fãs a oportunidade de experimentarem as músicas presencialmente com emoção da cabeça aos pés.

O Cine Joia mostrou-se o lugar de tamanho ideal para uma performance desse porte e o público, por mais que tenha prejudicado a festa em determinados momentos, foi para casa satisfeito com uma festa tão boa logo no primeiro dia da semana. Ficam as lembranças de uma noite em que os brasileiros, finalmente, puderam experimentar não só a música de Feist, mas o que sua presença causa na plateia e em sua própria arte.

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ARTISTA: Feist
MARCADORES: Cine Joia

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.