Explosions in the Sky – Sesc Belenzinho, São Paulo

Banda faz show sensorial e emocionante em uma noite chuvosa na capital paulistana. Veja aqui a resenha de um das exibições mais únicas do ano.

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Fotos: Fernando Galassi/Monkeybuzz
Nota: 4.5

Muitas expectativas haviam sido criadas quando o Sónar 2013 fora anunciado. Dentre as atrações, constava o Explosions in the Sky, grupo norte-americano de Post-Rock sem vocal, uma banda de Rock Instrumental com muita a coisa a dizer. Os olhares estavam atentos para uma continuação espiritual do show do Mogwai, ano passado, na primeira e única edição do mesmo festival. Naquele dia, todos ficaram de boca aberta com um concerto intenso em um dos grandes palcos de música do Brasil, o anfiteatro Elis Regina, que mesmo com um estrutura antiga ainda detém uma das melhores ambientações para eventos deste tipo, atmosféricos e feitos para espectadores.

Por que espectadores? Em um show de música instrumental, a relação entre artista e audiência é distinta, e paradoxalmente distante, mas próxima nos sentimentos. Tais grupos, desacostumados com os microfones, dificilmente falam com o público e procuram somente se expressar através de sua arte e seus instrumentos. Foi assim que o Explosions entrou no palco do Sesc Belenzinho em uma quarta-feira chuvosa e consequentemente caótica na vida dos paulistanos. Não preciso nem citar novamente o rápido fim de ingressos e os seus motivos, mas um fato constatado logo de cara ao entrar na comedoria do local é que facilmente cabia o dobro de pessoas lá.

Enfim, com poucas palavras em português ao subir no palanque, a banda simplesmente disse “fechem os olhos”. Nunca um conselho foi tão pertinente e inteligente, se a música deveria ser apreciada da melhor forma possível, por que não explorar o máximo de sensorialidade ao se desligar do mundo com os olhos cerrados? The Only Moment We Were Alone começava de forma delicada, e o ar parecia baixo, quase rarefeito neste momento de intimidade. O único momento em que estávamos sozinhos em um concerto, nós e a banda. A faixa do terceiro disco da carreira dos norte-americanos, The Earth Is Not a Cold Dead Place, se juntaria a Six Days at The Botton of the Sea como homenagem a esta clássica obra. Aliás, assim como outras músicas do grupo, o seu título é totalmente condizente com o seu conteúdo, começando calma, como um passeio submerso pelas águas profundas do oceano até uma explosão de angústia quando se pode respirar sem a ajuda de aparelhos, já na superfície.

Honestos e respeitando o público presente, o grupo fez um setlist passando por toda a sua discografia, diferente de outros feitos em festivais estrangeiros. Era a primeira vez do grupo por aqui, e quase todos os discos foram lembrados em um concerto de quase uma hora e meia. Esta era a vantagem de vê-los em um palco que talvez não fosse o mais adequado, com um som dispersante devido ao seu ambiente aberto e menos intimista que uma performance deste tipo exigia (muitas luzes acesas nas laterais do palco, na lanchonete e banheiros). Era preciso um local semelhante a um cinema, em que todos pudessem se sentar e ver a música instrumental sendo construída diante de seus olhos. Mas tudo bem, de olhos fechados, tais problemas pareciam ser indiferentes diante de clássicos como The Birth and Death of Day e a beleza épica de Catastrophe and Cure, música com uma das mais belas harmonias já feitas. Diante de seus olhos, eventualmente abertos, ambas de All of Suden I Miss Everyone, demonstram a entrega de membros de um grupo que não se cansam de arrancar todo o potencial de seus instrumentos.

A relação distante é esquecida quando algumas constatações são reparadas. Os membros são seres humanos como qualquer um dos presentes, artistas que fazem do seu expressionismo musical a sua demonstração de trabalho. Yasmin the Light e Green Death fizeram uma sequência matadora e histórica, retomando a segunda obra da banda, Those Who Tell the Truth Shall Die, Those Who Tell the Truth Shall Live Forever. A alternância entre períodos calmos desconstruídos e uma explosão posterior, deixava todos os presentes na noite satisfeitos a cada refrão poderoso nas guitarras, a cada batida estrondosa na bateria. Postcard from 1952, um dos singles do último disco Take Care, Take Care, Take Care também foi lembrado e recebido efusivamente pelo público.

Mas com certeza o melhor momento viria para o final, com a dobradinha Let Me Back In e The Moon is Down. A primeira já havia sido analisada anteriormente, mas ao vivo a repetição do seu riff poderoso trazia o sentimento de aquele momento que não deveria acabar nunca, e que de alguma forma todos pudessem ser levados de volta ao concerto. A segunda é uma clara evidência do poder da banda ao começar extremamente devagar, como se a lua estivesse deixando a curvatura da Terra aos poucos. Sons de sintetizadores reproduzidos no baixo, como sinalizadores noturnos pareciam avisar que a noite estava acabando. Subitamente, a distorção estridente do grupo trazia mais um sopro para os headbangers presentes, este escritor incluído, poderem agitar as madeixas, mesmo poucas, ao som do grupo. Uma bateria militar trazia rudimentos antigos e um pouco de calmaria para o incansável baterista, enquanto na metade da faixa um silêncio tranquilizador quase que parava a faixa no meio. Não ela não havia acabado, e jogando as últimas gotas de suor no palco, o Explosions in the Sky encerrava a sua primeira apresentação em terras tupinquins.

Um concerto único, emocionante e que trouxe uma nova relação entre audiência e banda. Nunca, a palavra espectador foi tão adequada para qualificar um público, que literalmente assistiu atônito a uma das apresentações mais intensas já vistas por aqui. Se você é um daqueles que perdeu o show e está lendo o texto horas antes da segunda exibição, corra para o Sesc e assista de fora da comedoria, é possível, audível e com certeza será inesquecível. Tente não desperdiçar esta verdadeira experiência sonora e sensorial na música.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.