Yes – Vivo Rio, RJ

Banda de extrema relevância para o Rock, inclusive no Brasil, faz seu retorno ao país

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Nota: 4.5

Em pleno século 21, ainda há quem diga que o Rock Progressivo é cheio de exageros, pompa desnecessária e megalomania, como se essas características não fizessem parte do ideário do próprio estilo. Essa visão, obra dos tempos do Punk/Pós-punk, sempre prejudicou o Progressivo, fadado ao esquecimento e chacota pelos formadores de opinião daquela época e suas estações repetidoras ao redor do mundo – claro, Brasil incluído – e à detonação sempre que possível. Além do mais, o estilo passou por uma mutação no início dos anos 80, que envolvia Rock de arena, canções com sintetizadores eletrônicos e timbres de videogame que contribuíram para sua perda de credibilidade. Em pouco tempo o progressivo se reinventou e, em 1984, o Yes era o arquiteto dessa mudança, ao abraçar o Pop Rock no marcante disco 90215.

O Yes desta noite no Vivo Rio não é a mesma banda de 1984. Aliás, “mesma banda” é um conceito que o Yes não comporta facilmente. Ao longo de mais de 40 anos de carreira, a repetição dos mesmos integrantes de um disco para outro sempre foi muito difícil. Talvez o line up mais querido e representativo seja Jon Anderson (vocais), Chris Squire (baixo), Steve Howe (guitarras), Alan White (bateria) e Rick Wakeman (teclados). Esse pessoal gravou dois dos discos que a encarnação 2013 do Yes vem apresentando nos palcos do mundo: Going For The One (1977) e Close To The Edge (1972). O outro disco revisitado pela atual turnê, The Yes Album (1971), ainda trazia Tony Kaye nos teclados e Bill Brufford na bateria.

Nostalgia nunca foi um conceito próprio do Progressivo, pelo contrário, mas a atual turnê do Yes é calcada totalmente nesse aspecto. Passando por Curitiba, Brasília, São Paulo, Rio e Porto Alegre, o giro brasileiro do Yes é bem generoso. Squire, Howe e White estão vivos e bem. O teclado é manipulado por Geoff Downes, talvez o menos importante na escala de tecladistas da banda, tendo entrando em 1980 para gravar aquele que é o disco menos querido dos fãs: Drama. Eram tempos diferentes, mudar integrantes de uma formação tão querida podia significar mover céus e terras. Hoje é tudo mais tranquilo. Jon Anderson, um dos vocalistas mais marcantes do Rock, está ausente. Demitido de sua própria banda, o cantor foi substituído por Benoit David, mais tarde igualmente detonado. Em seu lugar entrou o garotão John Davison, americano, que tem um timbre desconcertantemente parecido com o de Anderson. Sua presença no palco com os veteranos integrantes do Yes é um bem vindo choque de modernidade e tradição, sem que haja qualquer prejuízo.

A idéia é revisitar três albums, então, que assim seja. Com um Vivo Rio lotado de fãs que fazem air drums, air guitar, air bass e todos os outros “airs”, a banda subiu ao palco com quinze minutos de atraso e atacou o repertório de Close To The Edge. A faixa-título veio com toda sua dimensão (quase vinte minutos de duração) e, logo em seguida, uma versão luminosa de And You And I, atingiu os píncaros da beleza.

A escolha de Going For The One, disco menos conhecido da banda, mas cultuado entre os fãs, mostra que é para eles essa turnê. Gravado em 1977 na tentativa de retomar os discos do início dos anos 70, as canções se encaixam perfeitamente no show. Wonderous Stories, Turn Of The Century e a mini-suite Awaken descem redondas e preparam o povo para a majestosa passagem do repertório de The Yes Album. Considerado aquele disco que definiu o estilo bicho-grilo-prog da banda, o álbum foi decisivo em termos de influência no próprio Rock nacional da época, fazendo os integrantes de Mutantes e Som Imaginário revirar a cabeça. Ainda pavimentaria os caminhos para discos marcantes de Milton Nascimento (há influências no próprio Clube da Esquina, 1972) e toda a fase progressiva dos Mutantes, além de Terço, Bacamarte e o próprio 14 Bis.

Não espanta o delírio dos fãs com Starship Trooper e I’ve Seen All Good People e no solo de Steve Howe, Clap. Aliás, o veterano e virtuoso guitarrista é o integrante mais aplaudido, com sua aparência de integrante da Academia de Ciências de Vulcano. Com Squire tirando timbres e notas inusitadas de seu baixo, Davison atingindo agudos perfeitos, White e Downes completando a moldura musical, o show do Yes é uma beleza, daquelas de nos fazer acreditar na paz mundial e no triunfo do bem sobre o mal. Afinal de contas, Rock também serve pra isso.

O bis com Roundabout, pinçada do repertório de outro disco importantíssimo para a carreira da banda e para o próprio Rock Progressivo, Fragile (1972), é a cereja no bolo, com o Vivo Rio vindo abaixo de tanta felicidade sincera, de fãs e da própria banda.

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ARTISTA: Yes
MARCADORES: Vivo Rio

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.