Rock in Rio 2013: Destaques de 14 de setembro

Autoramas e BNegão, Florence and The Machine e Muse foram os pontos altos do segundo dia do festival carioca

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Fotos: Fan Page do Rock In Rio no Facebook
Nota: 4.0

Dia de sol forte na Cidade do Rock. É longa a caminhada até o espaço do Palco Mundo, porém, quando nos deparamos com o tamanho do lugar, esquecemos o cansaço por alguns instantes. O Palco Sunset está distante, mas o parâmetro para andanças aumenta instintivamente, então, nada a reclamar além do sol de 37 graus. Em poucos instantes começa o primeiro show do dia, Autoramas e BNegão. Dois personagens do underground rock carioca. Os Autoramas – Gabriel Thomaz, Bacalhau e Flávia Couri – são herdeiros diretos da banda anterior de Thomaz, o Little Quail And The Mad Birds, que lançou dois discos entre 1993 e 1996, também com Bacalhau na bateria. O esquema era o mesmo, rock para dançar. O Little Quail era um pouco mais punk, um pouco mais barulhento que os Autoramas.

BNegão, ou Bernardo Santos, já tinha sua banda Funk Fuckers quando foi substituir o rapper Skunk, morto precocemente, no Planet Hemp. Ele manteve presença em ambas as formações, alternando-se entre as bandas, até deixar o Planet Hemp em 2001. O Funk Fuckers também já havia encerrado suas atividades em 2003, quando fundou BNegão e os Seletores de Frequência, com quem já registrou dois discos, Enxugando Gelo (2003) e Sintoniza Lá (2012). Autoramas e BNegão, portanto, são aqueles personagens que conviveram no mesmo espaço, se esbarraram em camarins, dividiram programações de festivais nos anos 90, portanto, não é nada forçada a parceria e, agora que eles entram no Palco Sunset, dá pra ver que todos estão em casa. A ocasião marca o lançamento do EP Auto Boogie, produzido por Frejat e Lucio Maia.

Em pouco mais de cinquenta minutos de show, com a fome de bola de principiantes, os três autoramas e BNegão mandaram ver em canções próprias (destaque para a versão incendiária de A Verdadeira Dança Do Patinho, além de Motocross e Você Sabe) bem como algumas covers sacadas do bolso do colete: Queimando Tudo (Planet Hemp), I Saw You Saying (Raimundos), Surfin’ Bird (Trashmen), além de versões que estão em Auto Boogie, como Kiss (Prince), Walk On The Wild Side (Lou Reed), cantada por Flavia Couri, com trechos de Enxugando Gelo canto-falados por BNegão. É possível afirmar que, somente hoje, o gênero Rock esteve presente no festival. Autoramas e BNegão fizeram a delícia da pequena multidão que suou a camisa sob o sol inclemente.

Florence Welsh, a própria Florence And The Machine, adentrou o Palco Mundo pouco depois das 22:10h. Vestindo um modelito azul claro esvoaçante, a moça parecia uma pequena elemental ruiva indo e vindo pelo palco. Florence correu, suou a bata, interagiu com o público – hipnotizado e emocionado – e tomou conta do ambiente. Sua voz soa um compêndio de cantoras dos anos 80, do mesmo jeito que a sonoridade praticada por sua banda bebe sem medo no Post-Punk inglês. Lembra Enya (em sua fase Clannad), Kate Bush, Bjork, Siouxie, entre outras, sempre tangenciando o drama e oferecendo certa dose de mistério.

Já na abertura com Only It For A Night, emendando em What The Water Gave Me, a emoção rolou solta entre os presentes. Muita gente chorando, meninas gritando “gostosa” e “poderosa”, enquanto a banda atacava com vontade o clima musical sugerido. Momentos de felicidade total vieram em Rabbit Heart, Between 2 Lungs, Shake It Out e no encerramento, com seu maior sucesso, Dog Days Are Over. Mesmo que conte com um trio de vocalistas negros e da critica associar sua sonoridade a Adele ou Amy Winehouse, pelo menos em termos de potência vocal, Florence é totalmente gothic light, baixos teores, uma certa confusão de referências, mas 100% eficiente no palco.

O Muse adentrou o Palco Mundo trazendo sua The 2nd Law Tour pouco depois das 00:15h. O começo tradicional com Supremacy, emendando em Super Massive Black Hole, que fez toda a plateia, torres de iluminação e demais estruturas saírem pulando. O Muse clama pra si uma herança que conjuga o rock de estádio oitentista via U2 com o Classic Rock setentista, de gente como Queen ou alguma banda da New Wave Of British Heavy Metal. Em termos instrumentais e de sonoridade, não há como negar a competência de Matthew Bellamy (guitarras, voz e piano), Dominic Howard (bateria) e Christopher Woolstenholme (baixo). Também há resquícios da escola Thom Yorke/Jeff Buckley de canto no registro agudo de Matthew Bellamy. Com a plateia na palma da mão, o trio desfilou seus clássicos como, Stockholm Syndrome, Uprising, Hysteria e Time’s Running Out não esquecendo a cover de Feeling Good, lançada em seu segundo disco, Origyn Of Symmetry (2001), que foi incluída na trilha sonora do filme Sete Vidas (com Will Smith e Rosario Dawson). Também vieram algumas canções do novo disco, The 2nd Law, além de “Supremacy”, logo na abertura, Madness, Follow Me, e Liquid States.

A grande surpresa veio na ausência de elementos cenográficos, com apenas o trio diante de um grande telão de LED, restringindo a possibilidade de firulas extras, aumentando ainda mais o impacto sonoro. O final do bis, com a inoxidável Knights Of Cydonia, iniciada por uma harmônica solitária (lembrando bastante o início de School, do clássico disco ao vivo do Supertramp, Paris) mostrou que a banda tem referências e cacife para ser headliner deste dia 14, colocando as atrações anteriores no bolso.

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.