Rock in Rio 2013: Destaques de 15 de setembro

Em noite pouco inspirada, nem Justin Timberlake conseguiu surpreender e deixou morno um público que estava em ponto de ebulição

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Nota: 3.0

Terceiro dia de Rock In Rio, último do primeiro final de semana, e a sensação era de que todos estavam lá por um único show, obviamente de um dos grandes nomes do Pop nesse ano, Justin Timberlake. Só que antes disso, a curadoria convidou algumas atrações que dividiram o público.

Quem abriu o Palco Mundo foram os rapazes do Jota Quest. Esqueçam as críticas à banda, que realmente é das coisas mais sem sal que já produzimos em solo brasileiro, mas se alguém durante toda a noite fez parecer fácil animar a multidão foi essa. Uma banda que mesmo quem torce o nariz conhece todas as músicas, estão enraizadas no dia a dia de todo mundo e ainda completaram com a participação de Lulu Santos, no momento mais divertido do show. Escalá-los novamente foi uma atitude a prova de riscos e é com escolhas assim que o Rock in Rio continua vivo e sendo um dos festivais mais lucrativos (se não for um dos únicos) do país no momento. Uma triste realidade para quem é fã de música, mas melhor assim, movimentando o mercado e trazendo alguns bons nomes em meio a outros mornos, do que virar lenda.

Em seguida, veio Jessie J, o nome máximo da pasteurização do Pop radiofônico atual. Se a maioria dos nomes como Katy Perry, Taylor Swift, Lady Gaga não são sinônimos de personalidade e originalidade, a cantora britânica consegue ser uma versão piorada e mais sem graça de todas essas. Com apenas dois hits, Jessie queimou um logo na largada e deixou o outro para o final, preenchendo seu show sem graça com alguns covers (incluindo I Don’t Wanna Miss A Thing, do Aerosmith) e momentos não acreditando (com razão) que estava ali como uma das principais atrações de um dos maiores festivais do mundo.

Alicia Keys foi um dos grandes dilemas da noite. É difícil concordar com a escalação da cantora para um festival do porte do Rock In Rio, ao ar livre e onde o público estava nitidamente animado e com vontade de viver um momento único. Alicia fez um show muito bonito, com uma produção que respeitou a lenda que é o Rock in Rio. Era fácil perceber o quanto a cantora estava feliz e honrada em estar ali e daria o melhor de si, explorando os limites de sua bela voz, trazendo surpresas como o convite de Maria Gadú e sem esquecer os hits. Infelizmente, o show não animou o público, principalmente pelas músicas no piano e que exploravam mais a potência vocal de Alicia. Arrisco dizer infelizmente, que ela foi uma das responsáveis pelo desânimo extra do público durante o show de Timberlake que viria a seguir.

Já na madrugada da segunda-feira, Justin Timberlake, um dos maiores nomes do Pop atual, com um excelente disco lançado nesse ano e outro que promete muito previsto para 30 de setembro fechou a primeira metade do Rock in Rio. Me entendam bem, gosto demais do artista, FutureSex/LoveSounds é um dos discos da minha adolescência e The 20/20 Experience um dos que mais ouvi nesse ano, porém, o show do cantor, quando comparado às expectativas, deixou bastante a desejar.

Além das fãs apaixonadas e loucas pela beleza, carisma e estilo do cantor, Timberlake não conseguiu enlouquecer os demais e realizar a apresentação épica, digna do grande nome que já foi e que voltou a ser em 2013. Rock In Rio, gostem ou não, é um nome de muito peso na história dos festivais mundiais e dos brasileiros então, nem se fale, um dos eventos com maior público e que acontece apenas a cada dois anos na cidade que o batizou. Por isso, não acho exagero esperar algo que não seja uma grande entrega do músico, uma produção invejável, muitas surpresas e algo que deixe em êxtase todos os presentes e não foi isso que vimos.

Justin fez um bom show, não digo o contrário, mas nada que tenha saído de um script qualquer usado em outros momentos da turnê. Entendo que a escolha de pouca produção visual, figurinos e efeitos especiais façam parte da nova identidade do músico, mas fizeram grande falta para dar aquele arrepio que separa um bom show de um inesquecível. O arranjo das faixas, principalmente as mais eletrônicas, com os tais Tennessee Kids, não conseguiram traduzir o clima das músicas e deixou todas com a mesma cara.

A escolha do setlist foi boa, mas também podia ser melhor, incluindo um número grande de faixas pouco conhecidas e ruins, como Let the Groove Get In de seu mais recente trabalho, e deixando de fora pérolas como Don’t hold the wall e favoritas pessoais como Blue Ocean Floor, esta última entendo que talvez não coubesse no clima da apresentação. Além disso, não há como não perceber o quanto foi decepcionante ver alguns dos momentos mais esperados como What Goes Around…/…Comes Around sendo bobamente tocada no violão e Mirrors sem a pausa total para o público cantar junto e que arranca arrepios em vídeos no YouTube, mas mal me empolgou a bater palmas em um festival como o Rock In Rio.

O balanço geral desta apresentação é que Justin, por toda a sua qualidade, talentos e carisma, tem um piso de qualidade que mesmo em noites não inspiradas, não consegue ser ultrapassado, mas conseguiu ser atingido. O cantor deixou morno um público que estava em ponto de ebulição, fazendo parecer que para ele, estar lá não significava tanto quanto para nós.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.