Bixiga 70 – Sesc Pompéia (SP)

Grupo paulistano apresenta o seu esperado segundo disco, repleto de outras influências mas ainda correndo através do Afrobeat e de performances ao vivo inesquecíveis

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Fotos: André Marques Albuquerque
Nota: 4.5

Ir a um show do Bixiga 70 é sempre uma experiência rejuvenescedora resultante da comunhão entre um público e uma banda sempre muito bem alinhados. Influenciados pelo Afro Beat, o grupo do famoso bairro paulistano se apresentou no Sesc Pompeia para a divulgação do seu segundo disco, o auto intitulado Bixiga 70, uma obra que desde seu surgimento já demonstra a sua capacidade ao vivo de manter o espírito vibrante e dançante do grande que melhor representa a música instrumental no Brasil.

Agora com um repertório mais robusto, e com outras influências da World Music como a música caribenha, um pouco de reggae de raiz jamaicano e até a cumbia, o grupo se tornou a gênese de estilos que quando são vistos sendo tocados ao vivo, causam ainda mais espanto e respeito. Deliciosas faixas que para a maioria do público estavam sendo escutadas pela primeira vez pareciam já velhas conhecidas e suor e dança se comunicavam claramente. Kalimba, Kriptonita e Tigre ecoavam como doses frescas de música que sempre é transformada em um grande baile pelo seu público.

Podemos perceber que a usual Psicodelia do grupo está ainda mais evidente, e a letargia proposta em alguns momentos é coincidente com a necessidade de se tomar um ar e descansar devido a intensidade da apresentação do grupo. Quando hits do primeiro disco, Bixiga70, foram tocados o público parecia entrar em êxtase ao encontrar velhos amigos. Zambo Beat, a clássica Grito de Paz ou Balboa da Silva fariam Fela Kuti abrir um largo sorriso ao entender que o seu legado consegue ser tão bem assimilado mesmo longe da África.

Com todas as características que a transformam em uma Big Band, o grupo se torna ainda mais interessante ao vivo devido as transições no palco entre o seus membros. Alguns momentos o corpo de sopro vem a frente do palco, em outros os percussionistas largam o seu grande aparato fixo e ficam andando e tocando os seus tambores. Mauricio Fleury também alterna entre teclado e guitarra, trazendo sempre ainda mais groove as performances. A ótima versão do grupo para A morte do Vaqueiro de Luiz Gonzaga deixando-a muito mais épica e psicodélica são demonstrações de que autenticidade está sempre atrelada ao seu trabalho e o Bixiga quer sempre deixar a sua marca.

Ao final, após mais de uma hora e meia de apresentação público e banda pareciam satisfeitos cada um a sua maneira. O primeiro com o fato de que o segundo disco, mesmo em uma primeira audição consegue e ultrapassa em alguns aspectos o debut do grupo, ao se mostrar ainda mais amplo em influências sem perder o usual groove do Afro Beat. Para o segundo, por saber que tanto trabalho na composição de uma obra seria tão facilmente assimilado e compreendido pelos fãs. Evidentemente, o início de uma turnê deveria ocasionar em alguns percalços ou um menor encaixe entre os membros do Bixiga 70, algo que não ocorreu naquela sexta-feira que para os músicos tinha sido “melhor que a noite anterior”. Ao vivo, ambos os discos se tornam uma experiência ainda mais gratificante, algo evidente no rosto dos músicos e da audiência que após tanta intensidade musical só conseguem sorrir e suar.

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ARTISTA: Bixiga 70

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.