Arctic Monkeys – Lollapalooza 2012

Distante da timidez de 2007, banda volta ao Brasil em fase rockstar, fechando o festival com show cheio de hits, mas voltado a novos fãs

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Fotos: Lollapalooza / Divulgação
Nota: 3.5

“It’s good to be back”, disse um contido Alex Turner ao entrar no palco com seus Arctic Monkeys, prontos para mais uma noite de serviço. A lembrança do desastroso Tim Festival de 2007, última vez em que os ingleses tocaram no Brasil, parecia distante, porém. Para a grande maioria dos fãs aglomerados no Jockey Club, em São Paulo, os Arctic Monkeys eram uma experiência totalmente nova, surgida com o estrondoso sucesso do disco Suck It And See. A timidez, as letras intimistas e o jeitão de “nerds da escola” eram coisas de um passado desconhecido e invisível. O que importava era o aqui e agora.

Adequado então que os Arctic Monkeys estejam se tornando uma banda voltada para esse tipo de fãs. As adolescentes com entre 13 e 18, presença maciça no gargalo da apresentação, sabiam de cor todas as letras, mas não se privavam de levantar as câmeras digitais a cada três minutos e de soltar gritos histéricos por Alex, que retribuía com suas poses de rockabilly e seu topete engomadinho – o qual, desfeito pela chuva, era rapidamente arrumado para manter o visual impecável. Não rolaram coisas de outros shows como empinar a guitarra ou pendurar sutiã no pedestal do microfone. Mas os Arctic Monkeys de hoje jogam para os fãs que adoram essas coisas.

Quem só curte a música não sofreu desfeita. Aquela história de que a banda só tocaria hits era apenas meia verdade – havia apenas sucessos, sim, com exceção de Evil Twin, mas o setlist era o mesmo de shows anteriores. Ainda assim, as 20 faixas escolhidas eram mais que suficientes para levantar as 60 mil pessoas que lotavam o Jockey para ver os macacos. Alex lançava um olhar 43 e soltava uma Brianstorm, dançava a macarena e engatava uma I Bet You Look Good On The Dancefloor, agarrava a baqueta de Matt Helders no ar e mandava uma This House Is A Circus. O público, empolgadíssimo, cantava cada sílaba e pulava a cada riff mais empolgado.

O poder que uma faixa como Still Take You Home tem sobre uma plateia vai além de palavras. Rápida demais, verdadeira demais, ela retrata aquela época em que você estava no colegial e era apaixonado em segredo pela menina mais bonita da escola. Alex Turner disse recentemente que, quando tocam músicas como essa, os Arctic Monkeys geralmente estão fazendo cover de si mesmos, pois já não são essas pessoas. De fato, essa vida ficou lá em 2005, em Sheffield, e hoje os macacos gostam mesmo é de motos possantes, modelos gostosas e carrões. Mas, pelo menos, temos a música para relembrar.

Dispensando essa nostalgia, Alex Turner parecia bastante à vontade com seu status de ídolo e com os urros da plateia. Em Pretty Visitors, ele fez algo realmente surpreendente: desceu à plataforma construída para os Foo Fighters e se aproximou do público. Durou pouco, é verdade, mas era uma atitude impensável em 2007, quando ele sequer conversou com os brasileiros.

Curioso é que, se a banda está cada vez mais rockstar, a produção do show não acompanha. Os Arctic Monkeys não têm qualquer tipo de cenário no palco, não saem do lugar (tirando Alex, raramente), não fazem solos e mantêm uma iluminação quase inexistente – nem mesmo o telão de fundo foi ativado, caso único entre as bandas grandes do Lollapalooza. Em termos de espetáculo, o show dos macacos é o contrário do show dos Foo Fighters: muita música e pouca firula. Por enquanto.

Os Arctic Monkeys ainda são uma banda brilhante, com dezenas de músicas ótimas e um show digno de fechar um Lollapalooza. Mas são também uma banda crescida, que superou seus primeiros discos mais do que evoluiu deles. Comparar ao show de 2007 é estranho porque quem estava no palco não eram as mesmas pessoas e, quem estava na plateia, também não. Os tempos mudaram. E os Arctic Monkeys, que têm uma música tirando sarro de quem leva música muito a sério, abraçaram esses novos tempos e não olharam para trás.

Assista abaixo ao show completo dos Arctic Monkeys no Lollapalooza 2012

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Autor:

Jornalista. Acredita nos duendes enroladores de fones, mas não no hype.