Pitchfork Festival Paris 2013 – Dia 3: Hot Chip, Yo La Tengo, Sky Ferreira e mais

Leia quais foram nossas impressões do terceiro dia de evento da edição francesa do festival

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Nota: 4.0

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Majical Cloudz

Nunca gostei de analisar apresentações ao vivo de maneira linear, com começo meio e fim. Sei que é o mais lógico, mas minha percepção particular dos shows não tem altos e baixos, apenas um único grande sentimento, bagunçado (e quanto mais, melhor), mas único e que vai perseguir a minha relação com aquele artista para sempre.

Majical Cloudz é a prova máxima de que a minha maneira de perceber tais eventos continua funcionando. Claramente, Devon Welsh chegou lá com apenas uma intenção, mostrar seu trabalho e parecia a todo momento com uma vontade angustiante de que entendêssemos da maneira correta o que quer passar com sua música.

Ele subiu ao palco na companhia de apenas um parceiro que comandava um teclado e de sua sombria e hipnotizante voz. Todo tempo, tentava explicar o significado de cada música, seus objetos de inspiração e momentos que usou para compor. Para completar, errava diversas vezes na apresentação de qual seria a próxima música, mostrando claramente, que de maneira um pouco proposital e um pouco natural, não havia realmente planejado algo para aquela noite.

Majical Cloudz, até pela natureza minimalista do projeto, parece nos apresentar um protótipo, uma obra inacabada, mas cujo coração está lá, cheio de sentimento que nos atinge através de sua voz. Um show belo, curto, direto, mas daqueles que continuam ecoando em nossas mentes por alguns dias e positivamente nos acompanharão para sempre.

4,5 bananas

Sky Ferreira

Tenho que pedir desculpas. Em minha última resenha do show de Sky Ferreira em Chicago, disse que sua grande emoção e choro contínuo tinham sido responsáveis por estragar a experiência da apresentação. No entanto, ao assisti-la pela segunda vez, muito mais segura, já com seu CD completo e um público ainda maior, a cantora continuou não me passando absolutamente nada.

Sky simplesmente sobe no palco, executa cada música como realiza uma tarefa mecânica – talvez ainda fruto da quase grande estrela Pop que foi montada para ser e não conseguiu – e não nos passa absolutamente nenhum sentimento. Não posso nem dizer que o show foi ruim, pois tecnicamente estava tudo dentro dos conformes. O problema é que talvez isso seja exatamente a falha de Sky, estar sempre muito dentro dos conformes, falta muita sinceridade na jovem cantora que não parece entender a importância que já ganhou para alguns fãs em tão pouco tempo.

A prova máxima foi a síndrome precoce do grande único hit que parece já atingi-la. Assim como a Feist já não executa mais 1234, Sky só não faz o mesmo por motivos óbvios e falta de repertório para substitui-la, mas pela apresentação cheia de desdém que fez da canção, ela parece querer nos mostrar que é uma nova pessoa e que devemos tirar a velha e Sky de nossas cabeças e substituirmos pela nova, sem parar pra imaginar que a antiga nem sequer havia permanecido conosco.

2 bananas

Youth Lagoon

Trevor Powers não faz esforço nenhum para que continuemos acompanhando sua breve, frutífera e extremamente subestimada carreira. Não há qualquer populismo, clichê ou cumprimento de protocolos do bom artista em suas apresentações, mas mesmo assim, apenas com sua música, não permite que ninguém desgrude os olhos do palco.

O som do Youth Lagoon nos preenche, encanta, conforta e ao vivo, vem acompanhado de uma produção – destaque para a bateria – planejada à dedo, dando um poder definitivo para cada uma das faixas, principalmente às de Wondrous Bughouse. É como se ao ouvirmos o disco em casa, Trevor quisesse que começássemos a sentir sua mensagem, ou mesmo compartilhar de seus próprios sentimentos, muito ligados à depressão, mas em seu show, é o momento definitivo para entendermos tudo aquilo de uma vez e mudar nossa percepção sobre tudo aquilo a partir daquele ponto.

Se minha descrição parece viajada demais, quem já assistiu um bom show de Dream Pop, vai entender a explicação. O sentimento de assistir ao Youth Lagoon chega bem próximo ao poder do Beach House, m fazendo questionar por que não temos mais shows do gênero no Brasil, já que boas bandas não faltam.

Trevor ao vivo, prolonga as faixas, improvisa, faz sua própria viagem naquele momento, mal dando espaço para aplausos entre as músicas e inclusive apresentando poucas canções, já que prefere executar uma seleção pequena, mas de maneira muito mais profunda. Felizmente, nossas preferidas de ambos os álbuns estavam presentes, destaque para Dropla e Pelican Man, do segundo trabalho.

4,5 bananas

Baths

Este foi talvez, junto com o do Jagwar Ma, um dos que mais me surpreendeu. Não positivamente, nem negativamente, mas não esperava que um show do Baths fosse tão intenso e tão Rock’n’Roll.

Cerulean é um dos meus álbuns favoritos e Obsidian saiu como um trabalho tão particular e bonito, que aumentaram ainda mais minha expectativa para a apresentação. Felizmente, Will Wiesenfeld e seu parceiro de palco souberam conduzir a noite.

Não se preocupando muito em tocar as faixas mais conhecidas – apesar da maioria delas estar lá – e sim em apresntar seu trabalho como um grande bloco, com faixas sendo tocadas numa sequência que fazia sentido para ele na hora, Baths trouxe um show extremamente emocional, surpreendeu com a força e o grave de sua voz, dando ainda mais força para as canções.

De fato, pelas características de seu som, é um show diferente da maioria e que requer outro nível de atenção, podendo parecer repetitivo para alguns, mas para quem soube curtir da maneira certa – que só existe para você mesmo -, foi um grande show.

4 bananas

Yo La Tengo

Yo La Tengo já deve estar acostumada em chegar em eventos como o Pitchfork Festival e ser a mais experiente de todo o final de semana. O bom é que o clichê funciona e essa experiência toda realmente se converte em qualidade e maturidade não só musical, mas também no que a banda procura em um show.

Em Fade, vimos uma banda menos barulhenta – no melhor sentido da palavra – e mais fofa, mais Pop e mais sentimental. Ao vivo, tais características são mantidas, como no palco com pequenas árvores bidimensionais montadas, no estilo de uma peça de teatro infantil.

Musicalmente, em todo grande hit de outras fases da banda, vemos a mesma qualidade e personalidade de sempre, o mesmo caos impressionante criado na hora para os principais solos e muito improviso por parte de Ira na guitarra, de forma realmente épica, lembrando até Thurston Moore em seus melhores dias.

A questão é que o Yo La tengo de 2013 é o Yo La Tengo de Fade e de suas baladinhas, que dominam a maior parte da apresentação. Isso não deveria ser um problema, devido à qualidade das faixas, mas passa a ser quando tais músicas não são o bastante para segurar o público que fica um pouco desatento e disperso, conversando e utilizando sues celulares durante o show, atrapalhando consideralvelmente a experiência geral, em faixas como , onde praticamente não ouvimos a banda de uma distância razoável do palco.

Ou seja, por parte do Yo La Tengo, nada pode ser feito, a banda foi impecável no palco, como sempre. E por parte do público, também acredito que não é um daqueles casos de extremo desinteresse ou falta de respeito com a banda como vemos em grandes festivais em que o público vai apenas pelo headliner.

Acredito que Fade seja então um disco para um outro tipo de show, em um outro tipo de casa, ou talvez para ser ouvido como disco, mais do que compartilhando a audição com tantas pessoas.

4 bananas

Panda Bear

Sempre me interessei pelo trabalho de Panda Bear, mas raramente me recordo de ter prestado atenção no quanto o artista parece realmente jovem. Sozinho no palco, Noah Lennox chegou como uma das grandes atrações da noite, para trazer um pouco de seu projeto solo, sempre uma verdadeira viagem pela mente humana, comandada por um dos grandes nomes de uma recente geração de músicos.

Infelizmente, acredito que Panda Bear não tenha sido feliz na maneira que decidiu levar seu show. O rapaz resolveu deixar de lado as poucas faixas que se destacam individualmente e apresentar uma grande experiência sonora, que acabou ficando um pouco repetitiva, cansativa e prejudicada por diversos problemas técnicos.

Mesmo assim, era fácil ver a qualidade do garoto e a maneira que conseguia conduzir aquele som ao vivo, grande sinal do potencial que todo seu trabalho ainda tem. Gosto de acreditar que apenas aquela noite, não foi das mais felizes para Panda Bear.

2,5 bananas

Hot Chip

Esta foi minha terceira apresentação do Hot Chip, terceira festa que os vi criando no ambiente do show e terceira vez que saí feliz após uma hora de boa música.

Nada de realmente especial na produção está presente no som da banda ao vivo, nem mesmo na animação que é nítida em todos os integrantes, mas que para nós brasileiros, poderia ser maior, fator até que decepcionou alguns que estiveram presentes no último Lollapalooza.

A questão é que um pouco como Darkside, Hot Chip faz um show em que não quer ser o protagonista e realmente quer ser apenas um acompanhamento para uma grande festa. A proposta do show é realmente fechar os olhos e dançar como se estivesse sozinho e ninguém estivesse assistindo. Esta talvez tenha sido inclusive, a maior diferença entre os shows que assisti deles, pois os franceses realmente levaram isso a sério e transformarão o Grande Halle de la Villette em algo muito mais animado do que qualquer pista de dança que vi nos últimos anos, ao som dos maiores hits (todos estavam presentes) de uma das grandes, mas discretas, bandas desta geração.

4,5 bananas

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.