Noel Gallagher’s High Flying Birds

O ex-Oasis revela a ótima fase de sua carreira com seu novo projeto em passagem por São Paulo, no qual tocou novos e antigos sucessos

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Nota: 4.5

No Oasis, sempre gostei mais do Noel Gallagher. As músicas que ele cantava no antigo grupo pareciam as mais sinceras, e em shows, as mais messiânicas. Live Forever, Dont look back in anger e Masterplan que o digam nos shows que banda fez no Brasil. Ao retornar ao país, agora com seu projeto solo e sua banda High Flying Birds, Noel já havia ganho a simpatia e esperança logo de cara. O porquê disso? Seu álbum solo, um sucesso de crítica e público no passado, era muito melhor do que o irmão Liam, que veio para o Planeta Terra do ano passado e que não conseguiu deixar uma boa impressão ao público com seu Beady Eye. A parte um pouco menos encrequeira e mais compositora do grupo, tinha finalmente a chance de ter o seu reconhecimento.

A primeira música já denunciava a felicidade de ter o seu voo mais livre, com um “cover” do Oasis e Noel dizendo que (It’s good) to be free. Na sequência, a excelente Mucky Fingers, outra de sua ex-banda, e uma das melhores canções compostas por Noel, já na fase final do grupo. Acalmando os animos do fãs com os tais “covers”, o compositor poderia começar a jogar sem medo as canções de seu novo projeto, e foi isso que se seguiu pelos próximos momentos. Everybody’s on the Run, Dream On (essas duas bem cantadas pelo fãs), If I Had A Gun, The Good Rebel, The Death of You and Me, Freaky Teeth, fizeram uma sequência matadora, quase igual a do álbum e nela valem ressaltar alguns detalhes. O projeto de Noel é diferente do Oasis e isso é notável pelo clima que permeia o disco, bem etéreo, orquestrado e que traz à imaginação uma trilha sonora de filme. Ao lembrar o velho grupo, seja pelas composições, ou pelas melodias, mas ao mesmo tempo criar algo diferente, Noel se diferencia do irmão. Um tomou como referência, enquanto o outro tomou como base, o antigo grupo. Assim, ao vivo, Noel consegue levar o show com músicas com um clima mais viajado. Naquela quarta-feira à noite, o público havia comprado a sua idéia.

Após a sequência, Noel fica sozinho com seu violão no palco e começa a cantar uma versão acústica de Supersonic, e o Espaço das Américas se torna emoção e loucura. O mais surpreendente dá-se quando todos começavam a assobiar o solo de guitarra pós-refrão e o pianista dos Flying Birds aparece, tocando-o. Perfeição. Noel cantava e se mostrava bem à vontade diante do público, respondendo com sinceridade aos pedidos de músicas vindos da pista Premium. “Você pode escutá-lo sozinho em casa” dizia o cantor após os pedidos de Masterplan. Antes de AKA… What a Life!, Noel dedicou a música aos espectadores presentes com a camiseta do Mancherster City – nome de música pertinente ao cantor, seu time acabara de vencer o clássico e a final antecipada do Campeonato Inglês e se aproximando assim do título, ao mesmo tempo que ele gozava do sucesso alcançado com o vôo solo. Que vida!

Antes de partir para o bis, os High Flying Birds dariam um show de performance com dois covers do Oasis: Talk Tonight e Half The World Away, além das músicas do projeto, Soldier Boys and Jesus Freaks, AKA… Broken Arrow e (Stranded On) The Wrong Beach. Vale ressaltar que a banda é muito boa, com um baterista que faria inveja aos vários que passaram pelo Oasis, um guitarrista que Noel deixa fazer os solos das músicas do antigo grupo, um baixista eficiente nos backing vocals e, o mais impressionante, um pianista sensacional que consegue reproduzir a orquestra presente no CD via teclado, deixando um clima mais dançante/animado para as canções.   No bis, Noel viria a tocar pela primeira vez ao vivo Let The Lord Shine a Light on Me, música presente no disco de B-sides lançado no Record Store Day. A trinca final de músicas seria de covers do Oasis. Whatever, com Noel cantando “I’m free to say whatever I /Whatever I like /If it’s wrong or right it’s alright”, quando finalmente o cantor virou dono de seu próprio destino. Little By Little seria o ponto mais alto do show, com o público cantando junto e Noel claramente feliz em tocá-la. Sem antes ir embora e dizer mais alguns “Não, não e não” para os pedidos de música e soltar “Esta é nossa última música, obrigado”, Don’t Look Back in Anger ecoava pelo Espaço das Américas e deixava um sorriso no rosto de todos que estavam presentes no show.

A sensação após uma hora e meia de performance era que o término da banda havia feito bem ao cantor. Seguro do seu trabalho, e agora reconhecido por todos, Noel brilha também ao deixar os membros de seu novo projeto mais soltos e livres concedendo a eles solos, se mostrando mais humilde sem deixar de ser ranzinza. E olha, o Noel poderia voltar para algum festival no segundo semestre, porque o show combina com o clima desse tipo de evento, merecendo um horário ao pôr-do-sol para completar o espetáculo. A performance dele no Coachella que o diga.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.