Na plateia não havia muitos fãs. Muitos remanescentes de Nick Cave e Yeah Yeah Yeahs, muitos descompromissados só querendo curtir a festa da NPR e alguns assumidamente desconfiados da qualidade da banda, provavelmente influenciados pela resenha negativa dada pelo Pitchfork – que mostra-se a cada dia mais poderoso em moldar (positivamente na maioria das vezes) a opinião dos fãs de música ao redor dos EUA. No entanto, não precisou muito para os britânicos do Alt-J (∆) prenderem a atenção de todos.
Difícil descrever um show de uma banda que conseguiu criar um som tão particular sem repetir alguma descrição de An Awesome Wave, seu inclassificável disco de estreia. Justamente por não estar repleto de fãs, a reação de curiosidade dos presentes já era esperada e sorrisos se abriam conforme a banda comandava aquelas viradas características em suas músicas, em que a percussão entra forte e muda completamente o ritmo da canção.
O som da Alt-J é muito cheio de detalhes e se há alguma mudança entre as versões de estúdio e suas apresentações ao vivo é que saem os detalhes e entra um destaque dobrado para o vocal intrigante de Joe Newman. Essa mudança traz uma força grande para as canções, nos permitindo prestar mais atenção nas composições e em outras pequenas características que podem passar despercebidas na versão de estúdio.
Uma curiosidade do show é o tecladista Gus Unger-Hamilton ser o porta-voz da banda. Ele chega a interagir em diversos momentos agradecendo o público e anunciando músicas, mas ninguém mais na banda dá uma palavra que esteja fora do script musical, o que torna o grupo que já tem suas doses de excentricidade, mais intrigante ainda.
Com exceção de Interlude III, nenhuma faixa do Alt-J ficou de fora do setlist, coisa rara entre os shows do festival, onde os artistas não tem conseguido aproveitar bem seu tempo de palco. Os destaques ficaram entre Tesselate, que apareceu em uma versão com menos detalhes e mais voz, talvez para apresentar ao público a maneira de cantar do vocalista, Fitzpleasure que em seu início arrebatador deixou todos empolgados, levantando os braços e curtindo muito, impressionados com a qualidade técnica da banda. Matilda também foi surpreendentemente cantada por alguns nas primeiras fileiras e obviamente, Breezeblocks, comemorada a exaustão.
A sensação de assistir ao show, foi muito diferente do que estamos acostumados. Algumas vezes reagimos como em um show de Rock, outras como em um show de R&B mais melodioso, mas nunca ficamos sem o sorriso no rosto e o arrepio nos braços, a cada grande momento de uma faixa. Assim como nós, Joe Newman estava claramente curtindo tudo aquilo, dançando sempre com a própria música e com cara de quem não acreditava ainda, onde estava. Realmente, algo que ouvi em uma palestra sobre startups aqui no SXSW mas que serve também para a música, é que você pode planejar ter sucesso, mas esse tipo de sucesso que ultrapassa todos os seus sonhos mais otimistas, acontece de repente, sem muita explicação e quase sempre, é consequência de um trabalho original e bem feito.
Ficou a certeza de que Alt-J é uma banda diferente. Não é necessário muito referencial passado para gostar, nem estar em um humor específico, ou fazer parte de alguma tribo musical, apenas ser fã de boa música. Os ingleses impressionaram todos os presentes como todos os seus variados perfis e uma banda assim não surge a qualquer momento. Nos resta continuar acompanhando de perto a trajetória desses caras e torcer, mesmo que em vão, para irem ao Brasil em breve.