Aquecimento Lolla 2016: Marina And The Diamonds

Cantora britânica vem tirar atraso do abraço do público brasileiro

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“Diamantes brasileiros. Estou arrasada em confirmar que não vou mais me apresentar no Lollapalooza. Depois de 12 horas de espera o voo foi cancelado às 5h da manhã. Esta seria minha primeira aparição no festival e a minha primeira vez no Brasil. Eu realmente queria e planejava este show. Estou frustrada. Recebam as minhas desculpas e não desistam da esperança de nos encontrarmos no futuro. Juntos temos de acreditar que as coisas boas acontecem para quem espera. Beijos!”

Os fãs mais ligados de Marina And The Diamonds hão de se lembrar desta mensagem. Ela foi enviada pela própria Marina, avisando que não chegaria a tempo de fazer o show na edição do ano passado do Festival. Após cerca de 12 horas de atraso, o vôo que traria a banda, direto de Nova York para São Paulo foi cancelado. Até alguns momentos antes, a cantora havia informado pelo Twitter que pretendia esperar o quanto fosse necessário para poder se apresentar na capital paulista. Triste, né?

Triste nada! Um ano depois, cá estamos nós, imaginando como será o tão aguardado show da moça por aqui, na edição 2016 do Lollapalooza. Todas as nossas baterias de informação e especulação rodam a todo vapor, na missão de entender como será esta tão aguardada apresentação. Em primeiro lugar, é bom que se diga: a música feita pela cantora britânica é do mais alto nível. Suas melodias, arranjos e batidas obedecem ao mais tradicional e elegante almanaque do Pop perfeito, procurando desvincular sua obra de uma certa banalização que o estilo vem sofrendo há algum tempo. No lugar de declarações de egos inflados, Mariana Diamandis opta por falar de suas experiências na vida cotidiana, sempre a partir do ponto de vista de uma jovem mulher do nosso tempo. Não há forcação de barra ou um personagem em atuação, Marina é gente como a gente, fala de suas visões de mundo e não esbarra numa narrativa empobrecida por conta disso, pelo contrário, tal escolha reveste suas composições de verdade, causando um bom efeito no ouvinte, conectando-o ao ambiente por algo além da batida dançante.

O disco mais recente da moça, Froot, lançado em 2015 e cujas músicas seriam apresentadas em primeira mão por aqui, aponta para uma evolução desta característica. Aliás, as duas canções que abrem o álbum entregam toda a versatilidade de Marina: Happy é quase um lamento sob arranjo econômico e melancolia, enquanto a faixa-título é um convite à pista de dança, em ares Eletropop ou mesmo Eurodisco, algo que é preciso manejar com segurança e elegância, predicados que Marina consegue dominar com tranquilidade. Além destas, a simpática Gold e a dramática balada de encerramento do álbum, Immortal, devem fazer bonito em palcos brasileiros. A veia confessional é bem pronunciada, uma vez que Froot praticamente é o relato de seu período de luta contra a depressão, vivido intensamente em 2013/14, terminando com a doença vencida pela cantora.

Seu timbre de voz é grave, sua beleza é diferente do que esperamos para uma britânica (ela é descendente de gregos), fatores que distinguem também sua música. Participante de uma geração que tem expoentes em nomes como Lorde e Charli XCX, Marina é mais versátil e dona de melhor repertório, dividido em seus três álbuns, lançados a partir de 2010. Froot marcou uma guinada em direção a esta canção mais confessional, mas sua obra é marcada por este traço, lembrando a de artistas tão distintos como Fiona Apple e o duo oitentista Eurythmics. Com a fome de bola do público e da artista, é impossível que as apresentações – no festival e nas Lolla Parties – não sejam memoráveis. Nem é preciso descobrir que os fãs brasileiros planejam soltar balões coloridos imitando o clipe de Froot, para saudar Marina no palco. Ops!

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Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.