Austin parou para ver Nick Cave and The Bad Seeds

O australiano conseguiu trazer para seu show a mesma profundidade de seus discos, variando canções clássicas com as melhores de “Push The Sky Away”

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Uma das maneiras de envelhecer é aceitar que as coisas mudam e deixam de ser da maneira que conhecíamos. Nick Cave parece ser desse time e o resultado vem junto de uma multidão que parou Austin para vê-lo logo após o lançamento de Push The Sky Away, seu novo álbum com a banda The Bad Seeds.

A noite era disputada, ainda tocariam Café Tacvba, Yeah Yeah Yeahs e Alt-J no palco principal da festa da rádio NPR. Mesmo assim, em uma das filas tão características do festival quanto costelas de porco e asinhas de frango, o assunto principal era Nick Cave, atraindo público de todas as idades, todos orgulhosos, enchendo a boca para dizer que não estavam ali para ver qualquer modinha e sim um artista e uma banda com mais de 30 anos de carreira nas costas.

Cave estava lá pontualmente às 19:45 com sua banda de seis integrantes que se revezavam entre violão, guitarra, baixo, bateria, violino, piano, teclado e o que mais for necessário para o som introspectivo e sombrio que o consagrou. Um traço de sua carreira de ator nitidamente incorporado em suas apresentações é a presença de palco, preenchendo todos os espaços vazios, interagindo com os companheiros de banda, apontando para a plateia e cantando como se estivesse nos contando algo que aconteceu naquele exato momento.

A primeira faixa foi a longa Higgs Bossom Blues que, em seus quase 8 minutos, passeia entre ciência, diabo e Hannah Montana arrancando vibrações do público toda vez que citava a musa adolescente. O primeiro sinal de um Cave que mantém suas raízes musicais que o consagraram, mas com uma abertura rara em artistas da sua idade, de incorporarem temas atuais e tentarem conquistar um novo público.

Seu show é tão intenso quanto, se não mais que o disco. A banda justifica a cada acorde o nome ao lado do de Nick Cave nos álbuns do grupo. São instrumentistas experientes, de primeira linha que sabem dar o seu melhor, sem tirar o foco do personagem principal que comanda a plateia como em uma peça de teatro, interpretando suas composições e arrancando reações semelhantes à de um espetáculo, com sorrisos, risos, olhares de espanto e até um toque de emoção nos olhos de alguns.

Confesso estar bastante obcecado com Push The Sky Away desde a primeira vez que o ouvi e o show me fez apenas ampliar minha obsessão para o restante do trabalho de Cave. É de uma profundidade raríssima hoje em dia, de verdade, apesar de eu ser muito otimista com a cena atual e não costumar compartilhar da opinião de que artistas consagrados de décadas passadas tem mais valor do que os atuais. Porém, em alguns casos, existem características e pontos que só alguém com experiência consegue tocar.

Os destaques ficaram para a já épica Jubilee Street, tocada logo no início, a canção clássica do “folclore” americano Stagger Lee, original de 1895 e regravada por ele 100 anos depois, e Push The Sky Away, que encerrou a apresentação de maneira bastante densa, com todos atentos sem piscar os olhos e aplaudindo interminavelmente no final.

Nick Cave ainda teve tempo para tirar foto com um fã no meio de uma música, zombar de outro que não parava de mexer no telefone, dizendo que seu celular era ultrapassado e variar entre o vocal e o piano no show mais longo e um dos mais belos e marcantes da noite.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.