Quem olhasse de longe poderia achar que era uma banda de colégio no Palco Onix naquele começo de dia (pela pouca idade dos integrantes, a atitude desencanada e o figurino, que incluía camisa de futebol), mas foi só Dônica começar a tocar que qualquer um saberia que não se tratava de um grupo qualquer.
As canções de Continuidade dos Parques ganharam o gramado da tarde de sábado, 12 de março, em um dos primeiros shows do fim de semana, uma apresentação que começou já distante do óbvio, com uma faixa instrumental, e ganhou ainda uma formação inusitada para marcar sua segunda metade – o tecladista foi para a bateria, o baterista tocou baixo, o baixista pegou a guitarra e o guitarrista, o teclado – em uma improvável jam.
Esse clima juvenil contribuiu muito para definir o clima da apresentação, o que – temo – pode ter afastado um ou outro que não parou para perceber a beleza das melodias e arranjos da banda, ora quarteto, ora quinteto no palco. O pouco tempo de estrada dos meninos ficou claro em uma postura que era às vezes meio blasé-intimidada e, em outros momentos, um exagero do clichê do Rock.
À medida que as músicas passavam, deu pra sentir os artistas um tanto mais à vontade no palco, o que coincidiu também com o momento de melhores músicas do show. Pintor foi a mais comemorada, enquanto os singles Casa 180 e Bicho Burro tiveram seus destaques, mas Praga mostrou-se a música que mais funciona no palco, além de reunir as melhores características do grupo.
O saldo após ver Dônica ao vivo naquele início de dia foi muito positivo, mesmo com esses pequenos déficits – que tem tudo para serem ajustados ao longo de sua carreira. Valeu a pena, mas é uma performance que tem tudo para ficar melhor daqui um tempo (e o próprio vocalista José Ibarra deu a dica de que teremos novo disco em breve).