O Desaguar da Banda do Mar

Entre marujos e sereias, banda se apresenta na primeira tarde do festival

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Banda do Mar | 13:45 – 14:45 | Palco Skol

Pode parecer um nome meio ingênuo, mas Banda do Mar talvez seja mesmo a melhor alcunha para definir o encontro entre os brasileiros Marcelo Camelo e Mallu Magalhães e o português Fred Ferreira, não somente por trazer à tona certa sensação litorânea, presente no som trio que mostra influências do Surf Rock, mas também por ser o lugar onde o talento desses três músicos vai desaguar; Não só por ser um oceano, o Atlântico, que separa os dois países, mas também por passar um clima de viagem entre eles e todos os significados que a jornada em si pode ter.

E por falar em definições, Mallu disse algo interessante durante uma entrevista à revista Rolling Stone: “O que é muito legal é que, para cada pessoa, essa palavra gera uma impressão diferente. Encontramos gente que diz: ‘nossa, esse nome me remete a uma praia’. Outros dizem que tem a ver com aventura, uma coisa até amedrontadora. Essa polaridade tem muito a ver com o som que a gente está fazendo. Sinto uma pluralidade no nosso som e nosso nome é simples, mas carrega tanta coisa”. Camelo completa: “É difícil fazer uma análise sobre um nome. Porque, na verdade, todo nome é um desafio”. E é bem por aí mesmo.

Como um rio que encontra o oceano, as carreiras do trio afluiram em uma só para ganhar força e chegar caudaloso ao mar. Primeiro, Fred e Camelo se tornaram grandes amigos, isso há quase dez anos. A amizade, até então não tinha sido transposta para os estúdios, ainda que tivesse abarcado amigos em comum n’O Clube – agremiação luso-brasileira de nomes como Cícero, Wado e Bernardo Barata, entre outros. A história de amor entre Marcelo e Mallu é o segundo afluente desta história, em que estes três regatos fizeram seu caminho para além-mar. Inflando suas velas no meio de 2013, o grupo começou seu rumo, ainda que a deriva no início, até achar sua rota: o sucesso.

O desaguar da Banda é fruto de um intenso trabalho que durou quase um ano. Mallu e Marcelo rumaram para as terras lusitanas em busca de nova moradia e lá encontraram mais que isso, acharam um parceiro, um porto seguro para ter e trabalhar em novas ideias. Por mais de doze meses, o trio moldou antigas e novas canções sob a proposta tão única desse encontro de artistas já consagrados. Grande parte das possíveis traduções de um nome tão amplo quanto “Banda do Mar” foi oferecida a esse trabalho igualmente amplo e que fornece ao ouvinte a chance de mergulhar e explorar a fundo essa imensidão musical.

O anúncio de sua existência, por meio das sociais, deixou seu público coberto por uma névoa de especulações e ondas de expectativa surgiam cada nova faixa nova que o grupo lançava. E não poderia ser de outro jeito, ainda mais por se tratar de músicos tão influentes, cada um a sua maneira. O encontro entre a pureza de Mallu, a melancolia de Camelo e o experimentalismo de Fred gerou um turbilhão de ideias que não consegue ser visto em sua totalidade apenas por aqueles singles lançados na época. A maré começava a se agitar cada vez mais a cada dia que o lançamento do álbum se aproximava, deixando as águas turvas em meio a esperanças que quebravam a beira-mar.

Se depois da tempestade vem a bonança, o resultado de Banda do Mar foi o resultado dessa calmaria. Com um bom trabalho de estreia e músicas sólidas, ao mesmo tempo que tão penetráveis. “É um álbum Pop muito gostoso de se ouvir, com um pezinho na Surf Music e um ou outro momento bem alinhado aos novos ares da música brasileira, sem medo de se arriscar a ficar pesadinho em alguns trechos (e quem conhece o trabalho de Fred não vai se surpreender com isso). Às vezes dançante e sempre divertido, dá pra sacar que é um trabalho feito pra te fazer sorrir”, disse André Felipe de Medeiros em sua resenha. Eu não teria melhores palavras para definir essa obra que ao mesmo tempo em que apresenta algo completamente novo para os três, traz também ecos de seus outros trabalhos.

A materialização dessa obra quando transposta aos palcos já foi visto por nos no ano passado, no show de estreia do disco em São Paulo e podemos lhes dizer que foi incrível. Além de suas próprias composições, o trio aproveitou para mostrar o vento que lhes soprou até onde então, como composições solos de Camelo e Mallu, além da emblemática Além do que se Vê, do Los Hermanos – talvez em uma conotação a imagem da própria banda.

No Lollapalooza, estaremos mais uma vez a postos no cais vendo o mar se agitar e mergulhando nele para sair de lá lavado e começar muito bem nosso primeiro dia de festival.

Lolla

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Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts