Onze Bandas Em Um Único Dia De SXSW 2014

Future Islands, Mutual Benefit, Kelela e Merchandise estão entre os principais nomes

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Acredito que não seja novidade para ninguém que, em um festival com cerca de três mil bandas tocando em menos de cinco dias, a chance de duas pessoas terem uma mesma experiência no evento é praticamente nula. E, por causa dessa diversidade, é inevitável que todos sempre pensem mais nos shows que perderam do que nos que assistiram – somos todos seres humanos, afinal.

Por isso, minha maneira de conseguir aproveitar o SXSW é tentar minimizar os arrependimentos, ou seja, tentar ver um pouquinho de tudo, misturando minhas bandas preferidas, tentando descobrir algumas preciosidades e ficando de olho nos nomes que todos estão falando por aí. Ontem foi um bom dia para isso, com um total de onze bandas assistidas.

Pitchfork Day Party com algumas das melhores bandas que estão para estourar

Uma das coisas mais legais no SXSW são as Day Parties, ou festas diurnas, que nada mais são do que eventos que não estão na programação oficial do festival e obviamente contam com diversas bandas que estão por aqui e aproveitam para divulgar ainda mais seu trabalho. Entre as mais legais, está sempre a do site americano Pitchfork, pois eles conseguem escolher os locais mais agradáveis, que fogem completamente do padrão de um festival e ainda trazem uma das melhores curadorias possíveis, com os principais nomes que estão para estourar no cenário musical mundial.

Desta vez, eles escolheram um museu do século 19, um local delicioso, com gramado, casinhas de madeira e dois ambientes em que os shows se intercalavam. Obviamente, nunca esquecem de uma boa barraca de bebidas e de trailers com as comidas mais deliciosas e tipicamente texanas.

Quando cheguei, a fila estava enorme pois, segundo a organização, a casa estava lotada e só entraria um se outro saísse. A boa notícia é que o muro era baixo – calma, eu não pulei – e conseguíamos assistir aos shows confortavelmente enquanto esperávamos, assim não perdi uma das bandas mais comentadas por aqui neste ano: Future Islands.

Future Islands

Os caras já estão na área há algum tempo, com dois álbuns lançados, mas agora parece que a hora deles chegou. Eles estão para lançar um novo disco nos próximos dias chamado Singles e, pelas faixas que pude ouvir até agora, é o álbum mais acessível deles – ouça a faixa A Dream Of You And Me que estará neste trabalho. O show é divertidíssimo, tecnicamente impecável e ninguém consegue parar de dançar do começo ao fim. Até o momento, se tivesse que pedir para prestarem atenção em uma única banda que vi por aqui, seria essa.

Em seguida (já dentro do evento), parti para o outro palco para pirar com os criadores de um dos discos mais injustiçados do ano passado, o duo Classixx. Quer curtir música eletrônica feita única e exclusivamente para você dançar como se não houvesse amanhã? Esqueça Disclosure, esqueça Daft Punk e dê o play em Hanging Gardens. O show foi uma festa completa, sem maiores comentários.

Classixx

De volta para o primeiro palco, quem estava por lá é um dos nomes quentes do R&B contemporâneo, Kelela. O show, assim como sua mixtape Cut 4 Me, é intenso, as batidas eletrônicas estão ali, mas com ainda mais vida e destacando a excelente voz da cantora. A apresentação foi focada nos sucessos do trabalho lançado, já que não havia muito tempo e ainda conseguiu revelar uma música nova e executar a faixa-título de seu disco no meio do público.

Kelela

Em seguida, deveríamos ter assistido a um show do rapper sensação do momento, Isaiah Rashad, mas ele cancelou de última hora, deixando uma pequena multidão desapontada. No dia anterior, ele tocou com Kendrick Lamar e Schoolboy Q no iTunes Festival.

Mas isso não foi um problema, já que, em seguida, quem entraria no palco seria Mutual Benefit. A banda de Folk lançou seu belíssimo disco de estreia, Love’s Crushing Diamond no fim do ano passado e começou 2014 como uma das grandes apostas. Para entender melhor, um tablóide sensacionalista faria uma matéria sobre eles com o título “Novo Fleet Foxes?”.

Mutual Benefit

Infelizmente, o microfone ou as caixas de som tiveram algum problema que tornou o show um desastre completo. A banda estava animada, dedicada e não tem um pingo de culpa pelo que aconteceu, tenho certeza que faz um show incrível, mas não foi desta vez que consegui apreciar seu bom Folk ao vivo.

Por último, antes de sair da linda festa, peguei um DJ Set do produtor Lunice, mais conhecido por seu projeto TNGHT, ao lado de Hudson Mohawke. Muito Hip-Hop, Kendrick Lamar, Kanye West, batidas obscuras, tudo isso levando o público foi ao delírio.

Lunice

Carpark Records: Saint Pepsi, Young Magic, Speedy Ortiz e mais

À noite, praticamente abri o Parish Underground, bar e casa de shows minúscula, no meio da sexta avenida, a principal de Austin, onde haveria o showcase oficial do selo Carpark Records, casa de nomes como Cloud Nothings, Popstrangers, Toro y Moi e mais.

Quem inaugurou o palco foi Saint Pepsi com um DJ Set bem Pop, com Justin Bieber, Mariah Carey, Robin Thicke, Baauer (Harlem Shake, obviamente), Daft Punk e mais. Divertido, mas pareceu com qualquer coisa que já ouvi em qualquer balada, em qualquer lugar do mundo. Esperava uma curadoria melhor por parte do jovem, a escolha de artistas foi ótima, mais Pop impossível, mas talvez um pouco óbvia demais e ele experimentou pouco com cada música, deixando o público um pouco decepcionado.

Em seguida, chegou o momento em que me arrependi muito de ter esquecido os protetores de ouvido no hotel – sim, se vai em muitos shows e não tem um, compre, seus ouvidos daqui alguns anos agradecem. Uma sequência com o Rock cheio de influências do Punk da canadense Greys – um dos shows mais altos que já vi na vida -, um som mais no estilo Dinosaur Jr. por parte do projeto californiano GRMLN – perfeito para ouvir andando de skate, num dia de sol em um subúrbio da Califórnia – e em seguida conheci Young Magic que faz uma mistura de Rock, Dream Pop e batidas africanas, resultando em algo próximo a The Knife, guardadas as devidas proporções.

Infelizmente, a acústica estava péssima para todos os shows acima e o vocal de todos os cantores muito baixos, obrigando-os a parar entre cada música para pedir que aumentassem, mas os pedidos não estavam sendo ouvidos. Não estava valendo a pena ficar ali, apesar de a vontade ser grande, já que as próximas bandas seriam TEEN, Speedy Ortiz e Cloud Nothings, mas, como já havia visto as três em outras ocasiões, não valeria a pena ficar com aquele som e arriscar estourar meus tímpanos. Por sorte, dei de cara com o simpático Dylan Baldi, líder do Cloud Nothings na saída, puxei um papo com ele, peguei boas dicas do que ele iria assistir no resto da semana e já valeu mais do que ter visto mais uma vez o show da banda.

4AD: SOHN, Merchandise e Future Islands novamente

Resolvi dar uma volta nas ruas lotadas, comer um Hot Dog, parar junto da multidão curiosa pra dar uma olhada na Lady Gaga indo embora de seu show no Stubb’s e acabei entrando no Cheer Up Charlie’s para a festa da 4AD, já que a fila estava tranquila e o lugar é bem agradável e ao ar livre.

Deu tempo de conhecer a banda britânica SOHN, um Synth Pop bem interessante, liderada por uma voz masculina delicada e afinada, mesclada com muito sintetizador e alguma experimentação na percussão, emprestando elementos do Trip Hop em certos momentos. Sem dúvida, um show que fiquei feliz de ter pego e casou perfeitamente como trilha de um bom Hot Dog.

Em seguida, quem subiu ao palco foi Merchandise, um show que já havia visto em Austin no ano passado, gostei bastante e foi interessante assisti-los mais maduros agora e após uma boa repercussão do disco Totale Nite.

Por fim, não aguentei e fiquei para mais um show do Future Islands. Não tenho certeza, mas acredito ter sido a primeira vez que vi uma mesma banda duas vezes no mesmo dia e não tenho dúvida de que valeu a pena, é realmente um dos shows mais divertidos atualmente.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.