Robert Plant: Atemporal em Versões Não Convencionais de Led Zeppelin

Vocalista trouxe sua banda Sensational Space Shifters para mostrar que World Music faz parte de sua carreira

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Fotos: Reinaldo Canato

Um dos shows mais esperados no sábado do Lollapalooza Brasil 2015 certamente era o de Robert Plant. Era possível ver um misto de jovens e adultos nas imediações do festival portando camisetas de sua banda Led Zeppelin, que emociona gerações até hoje. No entanto, a expectativa vinha do inesperado. Muito havia sido dito sobre a apresentação e a nova banda do vocalista, Sensational Space Shiffters: World Music, fraqueza na voz e versões diferentes de faixas do seu ex-grupo eram lugares comuns na boca da crítica após seus concertos pelo Brasil em 2012. Pelo menos, todos já estavam preparados para o que viria.

Robert Plant é um ícone vivo e somente a sua presença no palco, no auge de sua sabedoria e idade, poderia fazer até o mais idoso dos presentes se emocionar. Saía um quarteto que ajudou a moldar a música pesada como a conhecemos e entrava um selecionado grupo de músicos que consegue capturar o senso de unidade e compreensão na música mundial. Não poderíamos esperar combinação mais certeira naquela noite.

Claramente, não estávamos diante de um show de Rock convencional a começar pelos instrumentos utilizados: mais de uma guitarra, violões, baixo e bateria se dividiam com samples, sintetizadores, kologo (espécie de banjo) e riti (instrumento tocado com um aro). Robert, usou o melhor do seu repertório de frontman: simpatia, amor e compreensão, além de sua voz que, se não apresenta a força nos agudos, tem o poder de levar a audiência ao delírio mesmo assim. Versões não convencionais de músicas de sua Led Zeppelin, como Black Dog, pareciam não incomodar os presentes com seus aspectos eletrônicos e uma levada mais quebrada e inesperada, mas, quando faixas históricas e mais folclóricas da banda eram tocadas, é que as coisas pareciam fazer realmente sentido.

Going to California soube capturar o aspecto Folk de sua gravação original, mas se expandiu em profundidade musical, enquanto Babe, I’m Gonna Leave You (cover de Joan Baez) e The Lemon Song nos faziam entender as inspirações de Robert Plant e seus antigos companheiros no Blues Rock. O aspecto mais étnico da apresentação deu-se mais nas faixas de seu último disco, Lullaby and the Ceaseless Roar, como a linda Rainbow – toda trabalhada em uma percussão compartilhada por todos no palco – e a misteriosa Little Maggie, com uma certa teatralidade do vocalista para criar a identidade da personagem da música.

Sensational Space Shifters parecia se mover do Rock às raízes percussivas da música do Norte Africano, enquanto, ao mesmo tempo, poderia entregar o melhor do Blues do Rock, do Folk e da música étnica aos presentes. Ao fim, Whole Lotta a Love e Rock & Roll seguiram o mesmo aspecto de versões não puristas de Led Zeppelin, levando o público a cantar junto e se emocionar. A euforia causada pela sua apresentação vale uma pequena reflexão sobre a história do grupo britânico e nos faz entender que a World Music de Robert Plant é uma clara evolução do que ele já havia feito anteriormente em sua carreira. É, na verdade, a consequência de sua uma infinita vontade de explorar e de experimentar o novo.

Tais novas versões só mostraram o quanto as músicas criadas pelo vocalista ao longo de sua carreira são atemporais: podem ser mudadas e reimaginadas enquanto Robert estiver à frente de sua interpretação, pois sua condução de um grande público permanece magistral. Talvez mais calmo que o esperado, talvez mais experimental que o imaginado, Plant e sua ótima banda deram uma lição a todos os presentes que idade e comodidade nem sempre são pares na vida.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.