1977 – O Ano do Punk?

Television e seu “Marquee Moon” mostram que tivemos um dos anos mais efervescentes da história da música

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Marquee Moon da banda Television é considerado por muitos como um dos melhores discos de Rock de todos os tempos e um marco que influenciaria gerações de músicos posteriormente, mas você conhece a obra ou sabe do que estamos falando? Resolvemos enumerar a sua história, importância e conteúdo em quatro tópicos que sintetizam um dos pais da música alternativa atual.

História: 1977

O ano acima te lembra alguma coisa? Símbolo do movimento Punk, eternizado no lançamento do único disco do grupo Sex Pistols, eternizou uma mudança de atitude na música que já acontecia há alguns anos na cidade de Nova York. Do it yourself – faça você mesmo, CBGB (famoso clube da cidade que abrigava nomes como Patti Smith e Ramones) e acordes rápidos que sobrepunham atitude à técnica eram algumas das diretrizes que uniam jovens sob um mesmo ideal, oposto ao romantismo dos Hippies e muito mais direto, urbano. Logo, enquanto o Rock & Roll começava a ser considerado chato pela juventude devido aos excessos que acometiam rockstars e bandas, outros estilos iam aparecendo, se adaptando aos anseios dos ouvintes. No entanto, o lançamento de Marquee Moon caminharia para uma abertura musical totalmente inédita quase um paradoxo dentro do ecossistema nova iorquino.

Post-Punk no ano do Punk?

Enquanto a sonoridade usual do Punk quebrava os parâmetros musicais da época com sua rapidez, raiva e menor importância ao virtuosismo de seus músicos, Television lança Marquee Moon seis meses antes do famoso trabalho do Sex Pistols, símbolo para muitos do movimento eternizado no ano de 1977. No entanto, o disco não tinha nada da sonoridade Punk, na verdade antecipava alguns conceitos da New Wave de Talking Heads e Blondie, como sua levada rítmica em acordes bem trabalhados, o que viria a ser o Rock Alternativo posteriormente. Verdadeiramente, o ar soturno do álbum, a escolha por uma diretriz mais experimental em uma mistura de Rock com Jazz, criaria um disco Post-Punk antes mesmo do Punk acabar. Produzido pelo guitarrista Tom Verlaine após quase três anos de ensaios cuidadosos – opostos aos powerchords que faziam faixas surgir quase que espontaneamente, era Punk também – gravado em um take só e aos moldes do “do it yourself” pelo seu ar de jam session, criaria um novo estilo musical, extremamente ligado à cidade que estava inserido e mostraria uma evercescente cena musical surgindo no quintal do CBGB. Faixas como Venus e Elevation mostravam uma progressão e timbres de guitarra que não lembram em nada a distorção da época, se aproximando mais na verdade de atos como do Velvet Underground.

Um disco completo e contemporâneo

Ao longo dos seus quase 45 minutos, Marquee Moon é um trabalho que se escutado as cegas por alguém que nunca ouviu Friction ou See No Evil, por exemplo, surpreenderá. Enquanto temos a impressão de que estamos diante de um disco mais antigo devido, principalmente à sua qualidade de gravação com seu toque analógico característico, temos a noção de que muitas bandas que escutamos nos últimos 20 anos tem a influência direta da obra de Television. Wilco, The Strokes, Sonic Youth e Franz Ferdinand são só alguns nomes que podemos citar – ou seja, o Rock Alternativo e principalmente o Indie Rock não poderiam ser os mesmos sem que este álbum tivesse sido lançado. A levada no piano de Guiding Light, com seus belos solos de guitarra no meio, são tão compreensíveis atualmente, mas não podemos dizer o mesmo para o contemporâneos de sua época de lançamento: o disco foi um fracasso comercial nos EUA mas um sucesso no Reino Unido, mostrando que abertura musical norte americana, pelo menos em relação ao Rock, estava restrita ao Punk daquele período. Se lançado em 2010, no entanto, seria considerado revolucionário, cheio de energia e reverberando os bons tempos do estilo. Escute Prove It e tenta não ficar contagiado para entender sua importância nos dias atuais.

Influenciando Guitarristas

John Frusciante, um dos maiores instrumentistas de sua geração, afirmou que o estilo rítmico e aberto de Tom Verlaine, mente por trás de Marquee Moon em todas as composições, o influenciaria muito posteriormente. Com efeitos através de pedais e ecos, mostrando que o instrumento poderia ser conduzido de outra forma – como na excelente Tom Curtain, por exemplo -, demonstrava que, acima de solos de guitarra, o músico poderia se expressar de outras formas através de medidas e tempos musicais distintos. Outro nome que já afirmou suas influências por faixas como Marquee Moon e seus 10 minutos com diversos solos e experimentações é The Edge (U2). Em entrevistas, afirmou que quando era adolescente tentava reproduzir os sons escutados no disco e que seu sonho era ser Tom Verlaine, nos levando a crer que o Rock de arena como o conhecemos atualmente, veio a partir de um rascunho intimista de Television, feito em pequenos clubes como o CBGB, uma proposta totalmente inimaginável para a época mas que hoje é bastante compreensível.

Mas o que podemos concluir a partir deste excelente e influente disco? 1977 não foi o ano do Punk? Claro que foi e sempre será considerado como tal, no entanto, mostra que a cena nova iorquina musical estava longe de uma bipolaridade entre o Punk e a Disco Music. Se o Rock & Roll ganhava sobrevida a partir de variações que tentavam fugir de seus elementos comuns, havia espaço para um grupo ousar e antecipar conceitos, alguns que só viriam a ser realmente compreendidos muito tempo depois a partir da influência no Rock Alternativo e outros na mesma época com o New Wave. Havia abertura no período para um formato mais artístico do estilo, preocupado com outras nuances opostas ao Punk e a tudo que era feito no final da década de 1970. Acima de tudo, é um disco que deveria estar na cabeceira de sua cama, pois representa a história basicamente de tudo o que nós crescemos escutando.

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ARTISTA: Television
MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.