1993agosto vive o sonho

Aos 26 anos, Marcelo Moraes é um dos nomes mais versáteis e talentosos do atual audiovisual brasileiro; conversamos com o fotógrafo/filmmaker/diretor de arte/modelo/produtor/escritor, cujas colaborações vão de Djonga a Anitta, passando por DKVPZ e as bailarinas do Faustão – e isso é só o começo

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Fotos: Tom Lopes

O que 1993agosto não faz? Marcelo Moraes é fotógrafo, filmmaker, diretor de arte, modelo e, recentemente, se arriscou também como produtor musical e cantor sob o curioso vulgo DJ Orochimaru da Putaria. Desde o ano passado, ele começou a ensaiar seu ingresso nas Artes Plásticas a partir de um projeto de esculturas: Suicide Show Bob, um chamado para reflexão sobre saúde mental –bonecos de resina sem rosto, que ficam sentados em superfícies olhando para baixo. Caso comece a vender as unidades em seu site, uma porcentagem do valor de cada peça será doada para o Centro de Valorização à Vida (CVV). Ah, no momento ele também está escrevendo um livro, intitulado Antes de Deus. Embora o jogo de contrapor suas mil atividades seja divertido, objetivamente, Marcelo é uma pessoa muito criativa e, como ele diz, sem medo de “botar para o mundo”.

Desde que assinou a capa de O Menino que Queria Ser Deus (2018), segundo álbum do Djonga, seu nome tem ganhado cada vez mais relevância, tanto no underground quanto no mainstream. 1993agosto assinou clipes de JXNV$ Derek, fotografou de Anitta a DKVPZ e, fora da música, trabalhou com o estilista Podrederico e com bailarinas do Domingão do Faustão (é sério). Seu currículo é, sem dúvidas, um dos mais instigantes com os quais já me deparei. A lista de contribuições é enorme e, ainda assim, compartilha a mesma digital entre elas. Com 26 anos, Marcelo se tornou um ponto de interrogação seguido de uma exclamação dentro e fora do país.

Who the fuck is 1993agosto?

Quarentenado há mais de 100 dias, Marcelo mora em uma cobertura em São Paulo com mais cinco pessoas, em uma convivência que parece bem harmoniosa. Os colegas de apartamento estavam fora do país quando a epidemia de coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, e o artista conta que quando eles voltaram contando sobre o cenário lá fora foi como se “eles estivessem vindo do futuro para avisar a gente, aí já ficou todo mundo isolado”. A vizinha do andar de baixo pegou Covid-19, o que dá uma dose de alarmismo a mais na situação, mas ele parece bem tranquilo. Consciente do problema, mas sereno.

Nunca teria adivinhado que ele é uma pessoa passivo-agressiva caso não me dissesse. Pondera sobre a ausência do medo de conflitos, porque “ao mesmo em tempo que eu tenho essa força pra discutir sobre qualquer coisa, eu sou mega sensível”. DJ Orochimaru da Putaria está oficialmente aposentado, teve uma carreira muito breve. O nome vem da conta do Marcelo no Soundcloud, ativa desde 2012, usada para ouvir música e procurar artistas emergentes. Depois dos EPs Funk Automotivo Vol 1 (2020) e Antes de Desacelerar Vol 1 (2020), ambos com quatro faixas cada, começou uma cobrança por qualidade de áudio e comparações com outros artistas – o que nunca teve a ver com seu objetivo. Prova disso é o fato de os dois projetos terem sido elaborados por meio de um aplicativo de celular Android, durante a quarentena. De qualquer forma, Marcelo decidiu direcionar sua atenção ao livro, que, segundo ele, “está sendo mais interessante para me autoconhecer e como uma terapia pessoal mesmo”.

"Independentemente de ser com celular ou com uma TekPix, se o clipe contar uma história, eu acho foda. Claro, para se vender para o mercado você tem que operar uma RED, contratar uma equipe foda, fazer uma coisa para você vender. Mas se você só quer contar uma história, você conta com qualquer coisa que filme."

O livro se debruça sobre um intervalo de três ou quatro anos da vida de Marcelo. Envolve dois anos antes da decisão de vir para São Paulo e até um pouco antes do convite para fazer a capa de O Menino que Queria Ser Deus, portanto, “Antes de Deus”. A intenção não é dar um apelo muito biográfico, ou expor a vida pessoal dele, mas falar sobre trabalhos, mudanças, conexões e a busca por independência. Marcelo já trabalhou em serraria, carpintaria, jornal, obra, na feira. Hoje, ele consegue concentrar todas as áreas em que atua em uma palavra – por mais desafiadora que seja essa tarefa. “O que eu trabalho de fato, o que eu faço de fato é criatividade. Na quarentena, não tinha o que fotografar, eu peguei meu celular, instalei um aplicativo de produzir música e virei produtor musical e cantor. É só forma de expressão”, diz.

Quando criança, Marcelo vivia entre dois lugares: Baixada Fluminense, favela onde nasceu, e Petrópolis, na região serrana do Rio de Janeiro. Por essa movimentação constante, não tinha muitos amigos, o que o levou a encontrar outras formas de se comunicar. Por conta de seus pais serem feirantes, sempre teve muita madeira e caixotes por perto, e seu pai o ensinou a mexer com carpintaria. Logo aprendeu a construir móveis para a casa, galinheiros, por exemplo. Com sete anos de idade construiu um robô de madeira, mais ou menos da sua altura na época, que acendia uma luz de LED no peito e nos olhos. O contato com a fotografia também vem de muito novo: o avô lhe deixou uma câmera analógica, uma Kodak que ele usava para tirar as fotos de família – e assim 1993agosto começou a treinar seu olhar.

O que seus pais escutavam de música? O que sempre tocava na sua casa?

Meu pai era DJ e ele foi um dos pioneiros para lançar Furacão 2000. É bem crossover, real. Meu pai fez o primeiro baile da Furacão 2000 e ele tinha uma equipe de som chamada A Mente, que era muito grande na Baixada Fluminense; eles já estavam trazendo o Funk, o Soul, e o Furacão 2000 trouxe o Funk com MCs. Meu pai organizava eventos e fez a festa deles. Os caras iam lá em casa ouvir música, mas a vida deu várias reviravoltas. Eu ouvia desde criança Funk, de James Brown ao nosso, Bee Gees, umas paradas bem para esse lado Soul Funk assim.

Qual foi o seu primeiro trabalho com arte? Primeira vez que te pagaram para fazer alguma coisa com intenção artística, você lembra?

Meu primeiro trampo artístico foi vender desenho no colégio. Fazia desenho de anime e vendia para os meus amigos, era um real, R$2,50. Com uns 10 anos. Porque eu nasci na feira, meus pais vendiam linguiça defumada, todos esses embutidos, então eu sabia vender. Eu sei vender as coisas. Com uns 6 anos de idade, eu achava uma tia que fazia bijuteria, pulseirinha, essas coisas, pegava consignado com elas – saía vendendo pelo bairro, de porta em porta, fazia meu dinheirinho, meus 10 reais na semana para comprar bala, pipa.

Qual dos seus trabalhos anteriores mais te agregou? 

Quando eu estava entrando mais de cabeça nos eventos de carro automotivo. Sempre contratantes separavam uma verba para eu fazer um vídeo, era uns R$ 150, fazia um vídeo e as fotos. Comecei a aprender e fazer meus próprios eventos no meu bairro. Acho que isso foi muito foda para eu ter minha autonomia, saber a proporção que eu posso movimentar. Teve umas vezes que já quase deu merda, foi tipo Velozes e Furiosos BR! Tinha uma rua que estourou um cano, era uma avenida gigante muito movimentada que ficou interditada. Um belo dia eu olhei para a rua e falei: ‘vou fazer um evento de carro aí, foda-se, vou avisar ninguém, vai ser um evento de noite, chamar todo mundo da cidade, vai ser um evento beneficente, o ingresso é 1 kg de alimento, é isso’. Convoquei geral que conhecia, em uma avenida a gente botou 80 carros tuning, rebaixado, com som, lotou às 20h. Estava filmando, fotografando, do nada veio uma operação de polícia para entender o que estava acontecendo. Eles foram chegando, geral foi entrando dentro do carro, saindo a milhão, dando corte nos policial, maluquice!

Me fala três músicos, vivos ou mortos, que influenciam a persona do 1993agosto – o jeito que você se veste, o jeito que você fala.

Eu me inspiro no Michael Jackson, James Brown e…Tony Tornado, [o último] só porque eu relembrei e estou escutando a semana inteira.

Você já se sentiu um outsider?

Sempre, até hoje. Até hoje eu estou procurando um lugar para me encaixar. Eu tenho aqui uma galera muito foda com quem eu moro, a ressignificação do que é minha família, mas ao mesmo tempo eu estou sempre buscando. Eu ia me mudar para o Japão, passar um tempo, se não fosse esse micróbio do caralho, mas ao mesmo tempo acho que eu já estou encontrando esse lugar. Porque eu acho que esse lugar é estar bem consigo mesmo e deixar seu ambiente seguro para você. Quando você está bem com você mesmo, você pode estar em qualquer lugar, independentemente de onde for, do que estiver acontecendo, você vai estar feliz, se você estiver bem com você mesmo e bem com seus próprios problemas, seus próprios demônios.

1993 Responde

O que um diretor de arte que vai fazer uma capa de disco precisa ter em mente?

Precisa ter uma estratégia porque a arte por si só não amarra a sua ideia. Você tem que ter uma estratégia para você imprimir isso e fazer com que as pessoas questionem a sua arte. Eu faço um roteiro para tudo. Se eu vou fazer uma foto, um dia antes ou algumas semanas antes, eu já faço um roteiro, eu desenho exatamente como que eu quero aquela foto porque, no dia, eu vou saber o que eu estou fazendo. Não vou estar simplesmente esperando o espírito da criatividade descer em mim e BUM captar aquele momento. Isso acontece às vezes, na cagada ou consequência de muito tempo treinando um olhar. A estratégia, o roteiro é o princípio de tudo. Eu sou bem metódico, gosto de fazer uma lista, roteiro, seguir um plano, ter uma introdução, desenvolvimento e conclusão do que estou fazendo.

Como rolou o convite do Djonga para O Menino que Queria Ser Deus, você se importa em me contar?

Eu e o Djonga temos uma história muito antiga, eu conheci ele antes dele lançar Heresia (2017). Quando cheguei em São Paulo, conheci o Cesão e ele tem um selo chamado Ceia, que tem Djonga, Febem, Gustavo, Clara Lima, um monte de artista foda, só que isso quando eu cheguei era só uma ideia. Fui ao show de lançamento do Heresia e lá a gente fez um clipe (que nunca foi lançado), estou até falando disso no meu livro, e a gente criou uma amizade de trabalho, uma amizade…como a gente se via [um no outro], sabe? A vontade de fazer coisa, a vontade de produzir. Acho que foi consequência de muito tempo trabalhando junto, chegou em um momento que ele falou ‘Caralho, tem que ser o Marcelo para fazer minha capa’, até quando não tinha cachê eu tava junto. ‘Ah, tem que fazer uma foto para a revista tal’ – eu falava ‘Mano, vamos fazer um editorial para essa revista’, a gente fazia. Pouco a pouco a gente foi construindo essa confiança de trabalho.

O convite da capa foi muito do nada, estava ligado que ele estava para lançar o álbum, porque já tinha escutado as músicas, ele me convidou, me explicou a ideia dele e eu fiz a direção de arte e fotografei. Foi em um dia, de um dia pro outro. Fiz a direção de arte todinha junto com a produção da Ceia e no outro dia a gente fotografou. A gente tinha 2 horas no estúdio para fazer tudo. Montamos o cenário, as modelos chegaram, figurino, ajustei a luz e aquela foto não tem tratamento de fato, o máximo real de tudo. Acho que o único tratamento foi colocar a fonte e os retoques. Não gosto que tratem minha foto porque não imprime verdade. Se o fundo estiver amarrotado, deixa o fundo amarrotado.

Me fala um clipe que você pirava na sua adolescência.

“Chopped N Skrewed”, do T-Pain, que na cabeça dele tem um chapéu e ele vai saindo de dentro do próprio chapéu.

Me tira uma dúvida: por que você coloca uma legenda em uma língua asiática nos clipes, acho que é japonês?

É em japonês! Porque eu acho legal quando vejo nos anime. É só pela estética, a legenda de fato não representa o que o artista está falando. Maior parte das vezes, eu coloco só coisas que eu quero colocar, que as pessoas que entendem japonês vão ler e entender. Eu sempre fiz isso e popularizou muito, vejo hoje em dia pessoal colocando a legenda em japonês, mas eu faço por diversão.

O que é um bom clipe na sua opinião?

Aquele que conta história. Independentemente de ser com celular ou com uma TekPix, se o clipe contar uma história, eu acho foda. Claro, para se vender para o mercado você tem que operar uma RED, contratar uma equipe foda, fazer uma coisa para você vender. Mas se você só quer contar uma história, você conta com qualquer coisa que filme. Estava vendo um clipe da Kehlani que ela fez na webcam que é “Toxic”, quarentena style, ela está dançando e contando de um relacionamento tóxico que ela viveu, ela está contando uma história – e já bateu milhões.

Qual é a primeira coisa que um músico ou banda deve saber antes de fazer um clipe?

Saber as questões sociais do pode ou não pode. É você querer falar de amor, mas ao mesmo tempo expor uma mulher em uma posição escrota de submissão ou objetificação. Acho que é você saber no contexto social o que pode e o que não pode, é bem por aí. Dá para fazer as coisas dentro do limite do possível e tem que ter um pouco de noção.

Já te fizeram uma proposta fora do limite de noção? 

Várias, eu sempre falo não para um monte de MC que quer encher o clipe de mina rebolando, jogando champanhe nas mina. Sempre nego. E os trampos que eu faço são muito específicos, até o clipe do Derek “For real”. A letra é “Pica nessa bitch for real”, não fala nada, mas eu tinha essa ideia para um clipe meu porque eu já tava produzindo minhas músicas – eu tenho vários roteiros anotados –, o Derek me chamou para fazer um clipe. Eu falei ‘vamos fazer, mas eu tenho essa ideia aqui, é essa ideia’. Ele topou! A gente fez em 3 horas, gravamos, eu editei e estava pronto o clipe. Porque são dois planos sequência e a gente fez muito rápido, no Minhocão e aqui em casa, na hora de editar o mais difícil foi a legenda. Nesse clipe eu queria abordar a normalidade com que as coisas têm que ser encaradas e botei minhas ideias ali, por isso eu fiz esse clipe.

Como fotógrafo e diretor de arte, o que é preciso para conseguir desenvolver uma assinatura nos seus trampos?

Menos é mais. Você não precisa absorver um monte de referências para construir algo, você por si, só por existir, já é sua referência de algo. Se você parar dois minutos para analisar o que eu gosto de ver: ah, eu gosto de um carro viajando com pessoas se sentindo livres, olha, já estamos criando um roteiro, dirigindo algo. O filme pode começar com as pessoas dentro do carro. Eu tenho certeza que a direção de arte tem que vir do menos é mais. Quanto menos você se bombardear por representações externas, é melhor, porque aí você cria algo autêntico – pelo menos autêntico para você, quer dizer, você vai criar uma coisa que você nunca viu em outro lugar. A opção mais fácil é olhar um clipe e reproduzir ele, adaptar ele, só que as pessoas que conhecem aquele clipe vão saber que você copiou, para mim não bate a matemática.

Sempre pergunto para os músicos uma música que eles gostariam de ter feito, me fala uma foto que você gostaria de ter feito.

Eu vi o documentário do Michael Jordan – isso que é foda, tu fica sendo bombardeado pelo que está acontecendo, tu sempre vai lembrar da última coisa que você viu –, aquela foto dele com um charutão estourando a champanhe, acabou de conquistar o terceiro caneco da NBA, eles estão mega felizes, comemorando. Mano, eu queria ter feito essa foto, a champanhe entrando na imagem, geral explodindo de emoção.

Você já se sentiu intimidado antes de um trabalho muito grande? Não necessariamente mainstream, mas um trampo que na época pareceu muito grande.

Não, nunca me senti intimidado, sempre levei como mais um trampo. E eu sempre falo que meu próximo trampo é o meu favorito porque eu sempre prospecto muita energia de criatividade, não importa quem for, eu quero gerar minha identidade, independente de qual artista for. Eu interajo com muitos artistas de todos os gêneros, desde o Sertanejo ao Pop, mas eu sempre tento deixar meu trabalho bem amarrado para que independente do artista que seja, não ofusque a minha arte, a gente está colaborando junto.

Teve uma vez que foi bem louco que foi quando eu fotografei o Brown pela primeira vez. Tinha conhecido o filho dele, o Jorginho, a gente virou amigo sem eu saber que ele era filho do Brown, quem a história dele carrega. Eu não me senti intimidado, mas foi um momento meio ‘Puta que pariu, olha onde eu vim parar’, foi um momento de reflexão. Eu escutava o mano desde criança e estava ali. Não foi intimidação, eu me senti bem, só que ao mesmo tempo fiquei muito reflexivo. Que mundão louco! Depois disso só fui percebendo que era a consequência de trabalhar duro, não acredito em sorte, a sorte é incerteza e você tem que treinar para fazer o que você se dedicou a vida inteira. Quando você tem essa confiança que o seu trabalho vai falar por si só, você cria uma bolha de segurança, onde você não se intimida por nada. Você só está ali e vai dar o seu melhor.

“Não acredito em sorte. Sorte é incerteza e você tem que treinar para fazer o que você se dedicou a vida inteira. Quando você tem essa confiança que o seu trabalho vai falar por si só, você cria uma bolha de segurança, onde você não se intimida por nada”

Pior perrengue que você já passou durante um trabalho.

Foi com a Anitta. Ninguém sabe disso, mas eu tomei a vacina da febre amarela poucos dias antes de ter viajado e eu tive todas as reações do vírus da febre amarela na semana que eu trabalhei com ela. Tem um vídeo que eu estou vomitando horrores no jatinho dela, em que o assento do vaso é de couro, eu filmei porque não podia perder isso, mas estava muito fodido. Fiquei muito debilitado de saúde, emagreci 12 quilos em duas semanas, fiquei muito abatido mentalmente e fisicamente. Um dos meus maiores perrengues: ter que lidar com uma artista de um porte bem grande, uma puta responsabilidade, só que completamente fudido de saúde. Quem me cuidou foi o Rodrigo Costa, que é maquiador e faz beauty, e o nutricionista dela, o Bruno.

Uma coisa que você aprendeu com o tempo e gostaria que tivessem te dito no começo da sua carreira.

Tem bastante coisa, aprendi e amadureci muito. Eu acho que se você quer trabalhar de arte, você tem que botar ela no mundo de alguma forma. Eu conheço muitos artistas que são frustrados porque guardam as artes deles para si só, não expõem para o mundo. Cada um tem sua filosofia própria, mas eu acho que se você quer muito uma coisa, você tem que lutar por ela. Encarar sua rotina de trabalho como qualquer rotina de um trabalhador: eu acordo, dedico 6 horas do meu dia para a minha arte. É o meu trabalho, é o que eu tenho. Eu me dou folga às vezes, mas de segunda a sexta eu tenho que produzir alguma coisa. Você tem que ser produtivo e justo com você mesmo, ninguém vai fazer por você a tua história. Eu estou lançando meu livro, dei um salve em um monte de editora, mas ninguém acredita, só eu acredito – e geralmente quando eu faço, vira. Então criei minha própria editora e vou lançar por mim mesmo; eu tenho que botar para o mundo.

Eu fui fazer um casting uma vez, mas tinha que ser pela agência tal, mas a agência descontava 40% da nota; criei minha própria agência, a Squirt Brasil, que é uma agência que só atende eu, fiz só para eu me lançar. Você não precisa de ninguém para botar as suas coisas para fora. Se você tem um celular, faz o shooting com o celular, mano. Se você tem um fósforo, faz alguma coisa com esse fósforo. Quem coloca amarra na nossa vida somos nós mesmos, sabe? Sentimento de autos sabotagem é a pior vibração possível, não se limitar a nada e encarar sua vida, sua arte como uma coisa séria.

Antes de Deus, primeiro livro de Marcelo Moraes: "Eu estou lançando meu livro, dei um salve em um monte de editora, mas ninguém acredita, só eu acredito – e geralmente quando eu faço, vira. Então criei minha própria editora e vou lançar por mim mesmo; eu tenho que botar para o mundo."

Qual é o melhor conselho que você já recebeu?

Acho que foi da Naoma, ela me dá vários conselhos. Um deles é que eu preciso refletir sobre tudo que eu faço, sobre eu refletir para eu me conhecer. Por exemplo, [pensar] por que eu falei assim? Por que eu pensei assim? A lei da dúvida, duvidar das coisas. Será que eu estou com medo? Refletir na dúvida diariamente. Tem gente que faz tudo pelo ego, isso te envenena a tal ponto que você não se conhece. Para mim está sendo bem válido.

Qual é o sonho de realização do 1993agosto?

Se eu te falar que eu acho que realizei todos os meus sonhos? Era ter minha própria independência. Não tenho mais nenhum sonho de fato, eu vivo meu sonho, que é a minha liberdade, que criei e batalhei por ela. Não ter um patrão, meu sonho era esse. Quando eu era criança, minha mãe perguntava o que eu queria ser e eu falava “empresário”, porque eu acreditava que o empresário era o dono do rolê, não sabia de fato o que um empresário fazia até ter maturidade para entender que é a pessoa que faz a administração de uma empresa. Hoje eu sou. Acho que os próximos passos – para não dizer que eu deixei de sonhar – são sobre mini-sonhos, mini-metas, tipo eu sei que minha mãe não precisa de uma casa nova, mas ela vive de aluguel até hoje, então eu queria dar um conforto para a coroa, acho que vai vir naturalmente.

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ARTISTA: 1993agosto