5 minutos com John Gómez…

O DJ e pesquisador especialista em música brasileira veio ao país a convite do Caracol Bar, em São Paulo, para tocar no seu aniversário ao lado de Millos Kaiser

Loading

Fotos: Mariona Vilarós / Rivista Studio

Apesar de ter nascido em Madrid, foi em Londres que John Gómez fez o seu nome. Com seu faro apurado para a boa música, ele dedica a vida a procurar sons interessantes ao redor do mundo, mas o país que mais chama sua atenção, curiosamente, é o Brasil. Escavando o repertório nacional John criou duas compilações largamente celebradas (Outro Tempo e Outro Tempo II) que merecem sua atenção. Conversamos durante sua visita ao país.

Você acha que o Brasil é um dos países mais musicais do mundo?

Eu prefiro evitar grandes generalizações, mas eu realmente acredito que o Brasil é único na maneira em que consegue gerar novos gêneros musicais com tanta frequência. Estilos como Axé e Pagode têm raízes populares, mas, ao mesmo tempo, o Brasil tem a capacidade de assimilar influências de fora e torná-las próprias. De tudo, do Rock ao Rap, do Soul ao Jazz. Todos esses sons foram transformados por diferentes movimentos da música jovem brasileira e se tornaram inegavelmente brasileiros. São poucas as culturas que têm essa capacidade de incorporar referências de uma maneira tão original, indo além da simples imitação e atingindo um espaço de legítima originalidade.

Indique três discos brasileiros que nem todo brasileiro conhece, mas deveria.

Uau, essa é difícil principalmente porque eu tenho muita clareza em entender que a minha percepção da música brasileira é a de alguém que vem de fora e está deslocada da maneira como as pessoas que são, de fato, do Brasil, consomem música hoje e consumiam no passado. Acho que seria arrogante da minha parte categorizar os discos que vou citar desta maneira. Portanto, vou apenas falar de alguns que gosto muito e tenho ouvido bastante em casa. Eles são: Bons Momentos, de Serginho Meriti, 20 Palavras ao Redor do Sol, de Cátia de França, e um mais recente, Levaguiã Terê de Vitor Araújo.

Quem é o mais original, experimental e indescritível músico brasileiro que você já ouviu?

Acho que seria um empate entre Egberto Gismonti e Hermeto Pascoal. Parece não existir limite para suas respectivas visões musicais e para a sua coragem.

Quais são as três músicas que não podem faltar na tracklist da festa perfeita?

Tudo depende do contexto, toda festa é diferente. O verão está acabando na Europa, por exemplo, mas, nesse verão, eu curti muito tocar “Malembe” de Kokoko, “A Little Bit More” (um edit de Minnie Ripperton e Peabo Bryson) de Yadava, e “SOS” de Crazy P.

E qual o cenário da festa ideal?

Ao ar livre, no calor, dançando sob as estrelas.

O mais incrível é que o Brasil tem uma reserva tão profunda de música que muitas gerações no futuro ainda poderão explorar.

Por fim, como você acha que a música brasileira está sendo vista fora do Brasil? Estamos superando os estereótipos finalmente?

O interesse na música brasileira cresceu novamente nos últimos anos e nós podemos dizer que está rolando uma ressurgência. Eu acho que os estereótipos são muito poderosos para conseguirmos nos livrar deles por completo, mas uma geração mais jovem de ouvintes está demonstrando um interesse em algumas esquinas da música brasileira que, anteriormente, eram ignoradas. Eu acho que esse processo acontece com toda nova geração de ouvintes. Novos ouvintes são atraídos por aspectos diferentes dos quais a geração anterior se interessava, mesmo que se trate da mesma cultura musical. Então, agora, se estamos falando de música brasileira do passado, os jovens se interessam mais pelos anos 1980 e 1990. Mas, claro, isso vai mudar de novo assim que a próxima geração chegar. Talvez, eles estejam interessados na Tropicália e no Bossa Jazz de novo… O mais incrível é que o Brasil tem uma reserva tão profunda de música que muitas gerações no futuro ainda poderão explorar.

Loading

ARTISTA: John Gómez

Autor: