8 produtores que vão do Pop à ficção

Multi-instrumentistas cujo talento transita livremente entre estúdios do Pop, temporadas de seriados e roteiros da sétima arte

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Fotos: Leah Walker

Existem os lendários compositores de trilhas sonoras, como Ennio Morricone e John Williams, que tiveram seus destinos quase que diretamente traçados em direção às caixas de som de cinemas. Estudaram firmemente Música Clássica e, em pouco tempo, já estavam inseridos na indústria compondo brilhantes temas. Mas existem, especialmente durante o século 21, os produtores/compositores que, antes das telas e telonas, se aventuraram pelo Pop, seja com carreiras autorais ou no estúdio, colaborando com o outros artistas. Progressivamente, foram se embrenhando pelos sons da ficção e promovendo uma interessante troca de referências.

São produtores que colocam suas habilidades em prol de clímax, tensão, calmaria e romance. Afinal, a música certa é capaz de mudar um filme ou uma série. E, da mesma maneira, colorem de tons cinematográficos canções construídas para o mundo Pop, ampliando o potencial narrativo de composições, com cacoetes sonoros do storytelling.

Selecionamos 8 produtores cujo talento transita livremente entre estúdios do Pop, temporadas de seriados e roteiros da sétima arte:

Quincy Jones

Quincy Jones é alguém que realmente dispensa comentários, mas ainda assim vale lembrar. É um dos maiores produtores de todos os tempos – senão, o maior –, responsável pelo som que alavancou Michael Jackson ao estrelato e colaborador ilustre de Frank Sinatra, Aretha Franklin, Donna Summer, Ray Charles, Miles Davis, entre muitos outros. Brilhou na composição da trilha de diversos filmes entre 1960 e meados dos 1980, incluindo a de A Sangue Frio (1967), pela qual levou o Oscar, e de A Cor Púrpura (1985), de Steven Spielberg, além de dividir com Spike Lee a construção do repertório musical de Malcolm X (1992) e participar da trilha de Kill Bill (2003), de Tarantino.

Jon Brion

Com parcerias no currículo que vão de Paul Thomas a Anderson a Kanye West, Charlie Kauffman a Beyoncé, Jon Brion é a epítome do produtor que transita entre a sétima arte e a música Pop. E ele imprime harmonias atmosféricas e melodias simples e pegajosas por onde passa: seja nas trilhas de Embrigado de Amor (2001), Lady Bird (2017) e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (2004), ou nas orquestrações de Late Registration (2005) e Lemonade (2016) ou no tom melancólico de Mac Miller, Fiona Apple e Elliott Smith. Jon Brion também é o responsável pelo belíssimo arranjo de cordas que encerra “Self Control”, de Frank Ocean.

Mica Levi (Micachu)

Após a celebrada estreia, em Jewellery (2009) e a sequência acompanhada do The Shapes, Mica Levi, a Micachu, entrou para o mundo das trilhas sonoras em 2014 ao compor para o elogiado filme Sob A Pele, que, já de cara, rendeu indicações ao European Film Awards e ao BAFTA. Sua marca é a habilidade de unir a bagagem em música clássica a referências melódicas de Pop Experimental, Lo-Fi e psicodelia, criando uma autenticidade que vai nada contramão de trilhas convencionais. Em 2016, Mica foi indicada ao Oscar pela trilha de Jackie (perdeu para a de La La Land) e, em 2021, mais uma vez chamou atenção por seu trabalho em Zola, comédia sarcástica do estúdio A24, gancho para um excelente perfil publicado na Rolling Stone esse ano.

Ludwig Görranson

Em um período de um ano, o sueco Ludwig Görranson teve de arranjar espaço na estante para dois Grammys, de Canção do Ano e Gravação do Ano por “This Is America”, de Childish Gambino, e um Oscar de Melhor Trilha Original por Pantera Negra. A amizade com Donald Glover começou nos estúdios de Community, que teve trilha assinada por Görranson, e rendeu ainda a parceria em Because The Internet (2013) e Awaken, My Love! (2016). Além de assinar trilhas de sucessos como Tenet (2020) e Creed (2015), o multi-instrumentista já colaborou com Chance The Rapper, Adele, Travis Scott e Haim.

Anne Dudley

Durante os anos 1980, Anne Dudley se juntou a Gary Langan e Paul Morley para formar o The Art Of Noise, grupo de Techno-Pop que usava e abusava das possibilidades tecnológicas de estúdio (caseiro, no caso do trio) recém-adquiridas. Em meio a quatro discos lançados com o grupo na década de 1980 – com destaque para a estreia Who’s Afraid Of The Art Of The Noise (1984) –, Dudley passou a produzir para artistas como Tom Jones, Cher, George Michael e Elton Jonh e deu seus primeiros passos pelas trilhas sonoras. Em 1997, recebeu o Oscar pela trilha da comédia Ou Tudo Ou Nada, marcada pela fusão groovada, singela e algo melancólica entre sax, gaita e violões. A multi-instrumentista britânica ainda produziu as trilhas de grandes sucessos como A Outra História Americana (1998) e Os Miseráveis (2012) e também é dona de uma sólida discografia solo.

Johnny Greenwood

Desde que compôs para o documentário Bodysong (2003), vencedor do BAFTA, Johnny Greenwood seguiu alternando o Radiohead com aventuras pelas trilhas sonoras. Especialmente para filmes de Paul Thomas Anderson: Sangue Negro (2007), O Mestre (2012), Vício Inerente (2014) e Trama Fantasma (2018) contam com a etérea fusão de instrumentos e moods do músico britânico, capaz de usar seu ímpeto experimental a favor de encorpadas ambientações e do clímax cinematográfico. E é ambientação mesmo: em Trama Fantasma, que rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Trilha Sonora, a trilha de Greenwood aparece por 90 minutos durante os 130 de duração.

Anna Calvi

A britânica Anna Calvi é conhecida por sua habilidade múltipla na guitarra e por uma mescla de gêneros que abrange do Flamenco ao Art Pop, aconchegada no Indie, mas sempre livre para pousar no terreno experimental. Com quatro discos prestigiados entre crítica e público e parcerias com personalidades da velha e nova guarda – de Brian Eno a IDLES, de David Byrne a Courtney Barnett –, Calvi compôs a trilha sonora para a quinta temporada da série Peaky Blinders. Ela constrói a tensa atmosfera da vida dos gangsteres ingleses com sussurros, repentinas guitarras distorcidas e silêncios estratégicos.

Lincoln Olivetti

Figura onipresente no Pop brasileiro desde meados dos anos 1970, quando iniciou sua estrelada parceria com Robson Jorge, Lincoln Olivetti esteve por trás dos hits de Tim Maia, Gilberto Gil, Jorge Ben, Rita Lee… A lista é gigante, excepcional e diversificada, como o talento do arranjador que, por anos, trabalhou para a Som Livre. O mago dos sintetizadores (e das possibilidades de estúdio) ofereceu à ficção sua mistura envolvente entre Boogie, Funk, Disco e uma boa dose de Pop nos temas instrumentais de novelas como Baila Comigo (1981) e Dancin’ Days (1978) e participou das trilhas dos filmes Rio Babilônia (1982) e Menino do Rio (1982). Vale destacar o brilhante disco de 1982, feito em parceria com Robson Jorge. O maestro do nosso Pop nos deixou em 2015, vítima de um infarto.

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