Sempre existem ganhos quando o risco está envolvido. A jogada de mestre e que mudaria pra sempre a carreira de Jay-Z foi afirmar que Black Album seria seu último suspiro na música. Chega a ser engraçado pensar que tal anuncio ocorreu há exatos dez anos e que o rapper é hoje um dos “donos do trono” junto com Kanye West. O império construido posteriormente está muito relacionado ao famoso disco, provavelmente o melhor de toda a sua extensa carreira.
Com toques vintage mas ao mesmo tempo modernos, a produção ao redor da obra foi dividida entre diversos produtores mas principalmente os usuais Neptunes e Kanye. Bem amarrado e com uma das melhores linhas de Rap feitas por Jay, o disco negro é uma obra prima do começo ao fim. Provavelmente você conhece algumas das faixas presentes aqui, mas o álbum como um todo merece ser ouvido sempre, e é daqueles que podem estar tranquilamente na sua coleção.
Preto representando o luto de uma anunciada aposentadoria, Jay utilizou-se de cada faixa aqui como o seu verdadeiro epitáfio. Como December 4th, que tem um suposto sample da mãe do rapper contado relatos desde o seu nascimento até um acidente, que demonstraria como o garoto era especial. O disco começa realmente com What More Can I Say, faixa épica em sua construção feita a partir de pianos, backing vocals – uma demonstração expansiva inédita em sua carreira.
Encore está no meio, mas poderia muito terminar a obra. Aplausos ao fundo, Jay agradecendo e demandando o bis do público. Uma balada, se destaca absurdamente aqui e se tornou mais famosa na parceira feita entre o rapper e Linkin Park, em Collision Course. Aliás, o Black Album talvez tenha sido um dos discos mais remixados de todos os tempos devido a sua popularidade e o fato de ter sido disponibilizado no formato Acapella. Com as vozes disponíveis, a inventividade poderia correr solta nos produtores, sendo Danger Mouse, a segunda cabeça do Gnarls Barkley, um dos mais criativos ao criar o Grey Album, mistura entre esta obra negra e a branca dos Beatles.
O Rock aparece solto aqui em samples como a sexy My 1st Song, com seu solo de fundo ou a mais famosa de todas, 99 Problems. Com guitarras altas e batidas secas, a faixa se tornou um hit com seu refrão: “If you have girl problems, I feel bad for you son, I got 99 problems but a bitch ain’t one”. Curiosamente os problemas com mulheres foram muito bem resolvidos pelo músico ao se casar com Beyoncé e desfrutar de toda sua beleza e talento.
Threat é direcionada a todos que questionavam a carreira de Jay. “Yeah, I done told you niggaz 9 or 10 times stop fuckin with me/I done told you niggaz 9 albums, stop fuckin with me”, hoje em dia ninguém consegue dizer nada para o rapper que só viu o seu império e notoriedade crescerem com o passar do tempo a ponto de fazer recentemente um disco meia-boca mas mesmo assim vender milhões. A verdade é que não existe uma faixa ruim nesta obra, e toda a sua progressão é muito bem amarrada.
Dirty Off Your Shoulder é a referência ao estilo Pimp com uma das batidas mais nervosas já feitas no Hip Hop, enquanto Moment Of Clarity é a balada definitiva e não demonstra a idade que tem. Evidentemente um projeto tão coeso e excelente venderia como água no deserto, no entanto, o sucesso comercial e de crítica foi tão extenso que mesmo que Jay quisesse encerrar sua carreira, não conseguiria. Seus discos posteriores não chegaram ao mesmo nível de qualidade devido ao caráter de obra-prima de Black Album, mas mesmo assim teve bons momentos como American Gangstar e a parceria com Kanye, Watch The Throne. Uma década depois sabemos que o rapper blefou para justamente aumentar o hype ao redor de sua obra, mas fez isso pois estava consciente de que tinha nas suas mãos o melhor momento de sua discografia.
