A Evolução Waxahatchee

De onde vem a inspiração (indireta) de Katie Crutchfield e o que podemos esperar de seu novo álbum?

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A evolução musical de Katie Crutchfield dentro de sua persona Waxahatchee é digna de atrair cada vez mais ouvidos atentos. A trajetória se iniciou em 2012, quando a Singer-Songwriter vinda do Alabama e seu projeto com um nome difícil de escrever deram a luz a seu primeiro trabalho. Naqueles tempos não tão distantes, vinha ao mundo American Weekend, álbum produzido de dentro de casa que, justamente pela sua crueza e sinceridade, começou a chamar a atenção dos ouvintes mais atenciosos. Um ano depois, foi a vez do segundo álbum. Com suas faixas ostentando uma produção mais encorpada e, assim, prontas para ouvidos despreperados, Cerulean Salt exibia uma evolução muito grande conquistada num curto período de tempo. Com o anúncio de seu terceiro trabalho para esse ano, é natural, dentro da expectativa do que virá, sobressair uma vontade de entender por que seu som agrada tantos aos nossos ouvidos. Portanto, através da associação a outros grandes nomes que compartilham seu estilo musical, vamos tentar entender porque devemos prestar atenção em Waxahatchee e seu vindouro Ivy Tripp

A crueza de Karen O

A crueza sonora de American Weekend é fácilmente associável ao último trabalho da sul coreana Karen O, intitulado Crush Songs. Mas não é apenas a sonoridade granulada de “baixa qualidade” dos registros feitos em casa que temos aqui. Em ambos os trabalhos podemos notar a captação de momentos únicos, íntimos, e, acima de tudo, de uma sensibilidade transbordante que evidenciam o sagrado – e fugidio – momento da inspiração criativa.

A sensibilidade de Cat Power e Sharon Van Etten

A sensibilidade à flor da pele sempre esteve evidente no trabalho de Sharon Van Etten e de Chan Marshall, à frente de Cat Power. Tomemos como exemplo as recentes apresentações desta última aqui no Brasil. Uma mulher sozinha com seu violão à frente de um público contrariado, na verdade, mostra muita força e coragem, mas é uma imagem que pode soar controversa. Tamanha exposição trouxe, ao mesmo tempo, duas reações distintas no público: ou houve a rejeição do alto grau intimidade das apresentações ou houve a paixão derradeira pela musicista. A exposição da intimidade é também uma veia forte na constituição de Crutchfield que, assim como as outras artistas citadas, não poupam recursos melancólicos na hora de se expressar com sinceridade.

A força de PJ Harvey e Kim Deal

Guitarras distorcidas e uma pegada Indie Rock dos anos 90 são os principais temas musicais de Cerulean Salt, o segundo álbum de Crutchfield. O tom agressivo da artista, embora ainda numa carreira iniciante, remetem à atmosfera construída por Pj Harvey, que expõe sua criatividade de forma dolorida e impactante. Além disso, ambas mantém em comum a fidelidade a seus respectivos estilos de compor, que são evidentes independentemente da roupagem de suas canções. Do mesmo modo, as levadas pegajosas (que soam quase nostálgicas hoje em dia) do Rock Alternativo à la Breeders nos fazem lembrar do modo aparentemente natural de compor da americana Kim Deal, (seja no projeto em que lidera ou mesmo nas composições de sua antiga banda Pixies).

Com uma ascensão tão rápida e evidente em sua música, nos resta aguardar seu terceiro álbum Ivy Tripp, despidos de quaisquer certezas, a não ser a de que estaremos amparados por música confessional de qualidade.

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Autor:

é músico e escreve sobre arte