A Nostalgia Analógica de Sound City

Assistimos ao documentário dirigido por Dave Grohl sobre o estúdio cuja história se confunde com a do Rock, berço de obras-primas de Nirvana, Fleetwood Mac e Queens Of The Stone Age

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Tudo começou com uma mesa de som. Rupert Neve era o engenheiro responsável pela Neve Eletronics que fabricava quase que artesanalmente aquelas que foram por muito tempo consideradas as melhores mesas de mixagem analógica existentes.

Segundo o documentário recém-lançado Sound City, foi esse equipamento que trouxe os primeiros grandes artistas para gravarem alguns dos maiores clássicos da música no estúdio. Depois, acabou tornando-se pretexto para novos artistas viajarem até Van Nuys, Califórnia para participar e incluir seu nome na história da música.

O dessa vez diretor Dave Grohl fala durante o filme: “Tudo começou com a ideia de contar a história da mesa, mas a conversa virou algo bem maior. Na era da tecnologia onde podemos simular ou manipular tudo, como vamos manter o elemento humano?”. É dessa pergunta que parte o documentário, uma homenagem à música feita analogicamente, crua, sem chance para erros que consagrou nomes como Fleetwood Mac, Metallica, Rage Against The Machine, Nirvana, Queens Of The Stone Age e tantos outros que tornaram o documentário uma espécie de documento sobre a história do Rock nos últimos 40 anos e uma declaração de amor à música.

Sound City

O filme não inova muito em seu formato e é dividido em diversos capítulos com temas diversos, como um que apresenta a lendária mesa Neve 8208, outro sobre os anos 80 e o surgimento do CD, um sobre bateira e diversos dedicados a artistas específicos como Rick Springfield, Nirvana e seu Nevermind ou Fleetwood Mac. No entanto, assim como a música que era feita lá, o documentário sobre o estúdio não precisou de muitos enfeites e soube trabalhar apenas com o contéudo, a emoção e as lembranças de uma época em que segundo um depoimento no filme, “não permitia que pessoas que nem deveriam estar no ramo da música se tornassem ídolos de uma geração”. Segundo Shivaun O’brien, que trabalhava no Sound City, lá era onde “homens de verdade faziam discos”.

Ao chegarmos nos momentos musicais finais, percebemos que a frase de Shivaun não podia ser mais verdadeira. Rick Springfield, Josh Homme, Trent Reznor, Dave Grohl, o restante do Foo Fighters e Nirvana e até Paul Mccartney se juntaram a outros nomes incríveis para gravar um disco novamente na nostálgica, mas ainda impecável, mesa de som que, após o fechamento do estúdio em 2011, foi comprada por Dave para seu próprio Studio 606. Stevie Nicks, da Fleetwood Mac, também fez parte do projeto e protagonizou um momento único, deixando até o produtor Butch Vig boquiaberto, passando a fazer parte do grupo seleto de “homens de verdade” no verdadeiro sentido da expressão.

Em um período fértil, mas em que é necessário desviar de muito lixo para encontrar verdadeiras pérolas, vale a reflexão sobre essa era analógica, em que não havia computadores ou Pro Tools e a criatividade deveria obrigatoriamente se sobressair à técnica na produção de um álbum de sucesso. Concordando ou não, o documentário é o retrato de uma época em que a produção musical era diferente, mas ao mesmo tempo mais cara, menos democrática. A postura do filme é bastante nostálgica, mas ao assistir a todos aqueles talentos juntos, fica difícil pensar que todos seus discos de ouro e platina teriam ficado menos geniais caso existisse a tecnologia atual.

Para qualquer fã de música, é um filme indispensável e para um fã de Rock nascido nos últimos 50 anos, ganhará um querido lugar na prateleira (ou no HD). Agora nos resta esperar pelo disco com as músicas gravadas para o filme que deve ser liberado no início de março.

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Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.