A sofisticação rústica de Bonifrate

Em “Dragão Volante”, músico carioca cria atmosfera aconchegante e incrementa suas qualidades como instrumentista, letrista e produtor

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Fotos: Divulgação

Quem acompanha Pedro Franke conhece sua intenção de expressar ideias e sentimentos nada menos do que complexos. E ele cumpre a missão por meio de um som que faz jus a esse verbete. É assim na banda Supercordas e ainda mais em seu projeto solo, Bonifrate, com o qual chegou ao sexto álbum, Dragão Volante. Enquanto a obra dá continuidade à proposta que conhecemos, há também um aspecto dentro de seu experimentalismo que ele chama de “aconchegante”.

“É um disco bem de baladas, né?”, disse Pedro ao Monkeybuzz. “São poucos os momentos mais ‘pesadinhos’, ou ‘olha, que coisa estranha’. Acho que ele tem um açúcar, uma coisa meio mellow. Demorei para perceber o quanto ele é orquestral, com uns elementos – que, na verdade, são todos midi – mais dramáticos. Mas é um disco bastante aconchegante”.

A sensação de conforto está presente em vários níveis na obra. Ela aparece na familiaridade notada por quem conhece Bonifrate de outros álbuns, agora em uma versão mais acalorada e até mesmo em um flerte com um pop radiofônico de outrora. “Não tenho mais muito problema em me repetir”, explica. “O som é envolvente e desperta as pessoas para aquilo que elas mais gostam no meu trabalho”.

“É um disco bem de baladas. São poucos os momentos mais ‘pesadinhos’, ou ‘olha, que coisa estranha’. Acho que ele tem um açúcar, uma coisa meio mellow. Demorei para perceber o quanto ele é orquestral, com uns elementos – que, na verdade, são todos midi – mais dramáticos. Mas é um disco bastante aconchegante”

Em outra instância, é uma obra na qual o artista esteve também mais à vontade para gravar e produzir na estrutura de seu estúdio em casa. “É tudo muito Lo-Fi e barato, gravo tudo em um quarto sem isolamento acústico, e um teto de telhas, sem forro de madeira”, conta. Em seu disco anterior, Corisco (2021), ele aprendeu a aceitar essa sonoridade (“eu ainda estava lutando contra essa parada”), ao invés de sonhar com as possibilidades de um estúdio. Dragão Volante nasceu ali, na solitude desse espaço, com Diogo Santander, seu parceiro de Supercordas, em uma coprodução à distância.

“Ele me ajudou muito no sentido de orientar até no posicionamento dos microfones – ‘faz assim, tenta abafar, seca esse som’ – e eu fui ficando melhor nisso. Talvez por isso eu acho que ele tem menos arestas que o anterior e é, portanto, mais aconchegante. As canções adquiriram essa forma meio ‘não legal’. Estamos tirando um som gostoso aqui, um som meio pop, estamos brincando de Hi-Fi”.

Liricamente, o álbum desafia a atmosfera acalorada dos arranjos. “Minhas letras têm implicações cada vez mais políticas”, comenta Pedro, “mas isso fica escondido no meu jeito de escrever versos, em que nada está muito claro – e isso é ótimo para a canção. Eu sou historiador, o maluco que pensa muito em geopolítica, estou sempre analisando tudo, milito em partido. Já escrevi mais diretamente sobre essas questões, como em Mundo Encoberto (2019), e este é um disco de canções de cunho mais pessoal, mas sempre acaba vazando algo”.

Dragão Volante reflete o pé direito alto do quarto sem forro no teto onde foi gravado. Sua sonoridade é expansiva, mas só até certo ponto. É sofisticada, mas também um tanto rústica. Bonifrate ocupa esse espaço com naturalidade, no conforto de uma zona essencialmente experimental e livre. Não à toa, ele concorda que é seu melhor disco.

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ARTISTA: Bonifrate

Autor:

Comunicador, arteiro, crítico e cafeínado.