Agora que a poeira baixou, vamos falar do “novo” The Strokes

Com faixas “One Way Trigger”, será que realmente precisamos de mais músicas como “All The Time” no quinto disco do grupo?

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Desde 2011, ano de lançamento do divisor de águas (bem como o de fãs) Angles, muita gente espera ansiosamente para ver qual seria o próximo passo tomado pelo quinto nova-iorquino The Strokes e isso não é à toa, devido à importância do grupo dentro do cenário Indie do começo do novo século e também ao incrível número de fãs alcançado nesse meio tempo. O primeiro indício de como soaria a nova obra, até então sem nome, veio com One Way Trigger que botou ainda mais pontos de interrogação na cabeça dos ouvintes. Da água para o vinho (ou seria o contrario?), All The Time trouxe de volta toda aquela energia e os maneirismos sonoros que só o grupo sabe produzir e mais uma vez voltou aos eixos apresentados em seus três primeiros álbuns.

Para os fãs e ouvintes mais antigos, esse foi um acontecimento e tanto e, passado o primeiro susto ao escutar os sintetizadores enlouquecendo e vocal em falsete de Julian Casablancas arranhando nossos canais auditivos, ouvir finalmente o que já conhecemos do Strokes era um alivio. Essa foi uma reação em massa, observada em longa escala não só entre os fãs mais fervorosos, mas também aos ouvintes passivos. Mas a pergunta que fica com isso é se realmente precisamos de mais faixas iguais a tudo o que já ouvimos deles durante mais de dez anos?

A verdade é que não há uma resposta definitiva ou certa, mas certamente a pergunta é importante para nos botar a pensar sobre o assunto e, em âmbito geral, nos fazer questionar a maneira como lidamos com a música.

Assim como em qualquer outra arte, a música depende de identificação de quem está como observador e isso às vezes pode ser levado ao extremo pelo artista, que recorre de certa forma a um autoplágio. All The Time usa esse recurso e, independente da meta final ao lançar um single como este (seja para acalmar os fãs dando um gostinho do antigo para seguir um novo caminho, a exemplo de Under Cover of Darkness de seu último disco, ou como rumo a ser adotado para Comedown Machine), o grupo cria uma faixa que de certa forma já vimos (inúmeras) vezes em seus registros prévios.

Por outro lado, One Way Trigger ousa ao experimentar com uma sonoridade diferente do que estão acostumados a fazer, ainda que de certa forma contenha resquícios do Angles e do trabalho solo de Casablancas. A canção tem ótimos pontos como as linhas de sintetizador e os riffs angulares de Albert Hammond Jr., mas é claro que ela não acerta em cheio, visto a produção que deixa a desejar em vários pontos e, principalmente, o vocal em falsete de Julian que soa meio absurdo ao atingir certas notas.

Mesmo com esses tropeços no meio do caminho, One Way Trigger ousa da mesma forma que as faixas de Is This It desafiavam o som vigente da época com sua atitude suja, Lo-fi e desregrada que acabou ficando banalizada ao longo de todos estes anos. E é desse tipo de banda que precisamos, das que se arriscam, das que dão a cara a tapa e experimentam sem medo, mesmo que os resultadas possam não agradar a todos.

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ARTISTA: The Strokes

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts