American Football: Despedidas Nem Sempre Tem Que Ser Dolorosas

Primeiro e único disco de trio norte-americano comemora em 2014 seus 15 anos

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

American Football – American Football (1999)

Quase 15 anos se passaram desde o lançamento do primeiro e único disco do finado trio norte-americano American Football. É claro que muita coisa mudou nesta quinzena de anos, incluindo a música Emo – estilo usado na época para descrever a música que Mike Kinsella, Steve Holmes e Steve Lamos fazia. Não que não faça sentido colocá-los sobre esta tag, mas encapsulá-los em um só estilo talvez acarrete certo asco por parte de quem ainda guarda birra daquele movimento que ganhou popularidade no meio da década passada ou mesmo não demonstre o leque de outras sonoridades que o grupo apresenta em seu álbum.

Se você é uma das pessoas que ainda se assusta com o termo “Emo” ou que ainda acha que a música feita no estilo é aquela performática e exagerada que ganhou maiores proporções há quase dez anos (com bandas como My Chemical Romance, Dashboard Confessional, Fall Out Boy e Taking Back Sunday), ao ouvir American Football, vai se deparar com uma realidade completamente diferente. E que tal começar então com um de seus maiores sucessos?

As temáticas abordadas são basicamente as mesmas que a música Emo sempre trouxe ou que continuou a mostrar depois do lançamento deste álbum – porém, sem lidar com temas como depressão e vingança, que ganharam bastante destaque naquela onda “franjuda” que dominou os anos 2000. De volta aos anos 90, a abordagem a estes temas parecia mostrar uma visão mais adulta e madura de como lidar com esses sentimentos conflitantes, por mais que viessem sim acompanhados de certa sensação juvenil. Na música de American Football, em especial, há uma discussão mais franca (muita vezes consigo mesmo) e analítica dos problemas, sem necessariamente ser encarada de forma angustiada ou com aquela sensação de frustração exacerbada tão comum nas bandas Emo mais recentes.

Suas letras realmente diziam muito sobre o posicionamento da banda em relação aos seus sentimentos juvenis e como aquilo afetava sua vida adulta. Em Honestly?, por exemplo, Kinsella busca em seu passado os questionamentos de adolescente que fazia a si mesmo. Não há aquela rebelião juvenil ou agressividade, mas maturidade e serenidade ao lidar com aquilo tudo de novo e trazer ao presente aquela angústia sem perder o controle (“Honestly I can’t remember / All my teenage feelings / And the meanings / They seemed too see-through / To be true”).

Ao tratar de relacionamentos, o grupo traz também muita honestidade em suas letras – como o título de I’ll See You When We’re Both Not So Emotional pode sugerir. Versos como “Well maybe I’ve been wrong / Maybe my intentions are irrelevant / But honestly, it’s not just for me / We’ve both been so unhappy so let’s just see what happens when the summer ends”, de The Summer Ends, mostram alguém que prefere dar um paço atrás e se distanciar daquilo que não o faz bem, do que continuar sofrendo. Em outros, como “So let’s just pretend / Everything and anything / Between you and me / Was never meant”, da faixa de abertura Never Meant, o “personagem principal” se dá conta de que sua relação não deveria ter acontecido e tem uma conversa franca com seu parceiro(a) com a intenção de terminar tudo aquilo (“I just think it’s Best / ‘Cause you can’t miss what you forget”).

Musicalmente, o grupo explora as guitarras comuns na época em grupos como The Promise Ring, Sunny Day Real Estate e Texas Is the Reason ou mesmo da ex-banda de Kinsella, Cap’n Jazz. Há um pouco daquele Rock mais Indie, mas há também o requinte e serenidade do Jazz – entre alguns outros elementos do Math Rock (como em Never Meant, faixa que abriu a porta para existência das bandas Emos com toques do estilo, sendo um “ancestral” do hoje apelidado como Twinklecore) e Post-Rock (Honestly).

Esses “extras” ao Emo aparecem em todo o disco e levam o gênero a um lugar completamente diferente (os solos de trompete em meio às jams instrumentais vistos em For Sure também ajudam nessa sensaçã). De certa forma, American Football quebra todos os paradigmas do estilo em sua época, aliando, é claro, à músicas muitos boas, seja em sua estrutura ou letras. O que para nós do Monkeybuzz possivelmente renderia um disco que levaria a nota máxima.

Se a maior parte da temática do grupo tinha a ver com despedidas ou relacionamentos que estavam por chegar ao fim, a própria banda encarnou seus “personagens” e se desmembrou pouco tempo após a gravação do álbum. Foram apenas três anos juntos (1997 a 2000, época em que estavam na faculdade) e somente um álbum gravado, mas o suficiente para emocionar muita gente. Infelizmente, os rumos da vida fizeram o trio se separar: Kinsella formou outras bandas (Joan of Arc, Owls e Owen), assim como Lamos (The Geese), mas nenhuma delas realmente conseguiu arrebanhar tantos fãs quanto American Football.

Esse seria um fim digno e correspondente às músicas do trio, mas o destino quis que a história deles tivesse uma segunda chance e comemorando os quinze anos de seu debut, o grupo retornou aos palcos (infelizmente passando só algumas datas por poucas cidades norte-americanas) e às lojas de vinil, com versão reeditada e recheada de bônus de American Football. O álbum mais que dobra de tamanho com faixas inéditas (com uma gravação bem Lo-Fi, é verdade) e áudios de apresentações ao vivo.

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MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts