Apresentações Entediantes Marcam o Grammy Awards 2016

Premiação não faz jus ao grande momento da música Pop

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Os últimos anos tem sido, felizmente, responsáveis pelo fim do guilty pleasure na música, expressão usada por muitos para descrever aquilo que não deveriam gostar por ser bobo ou superficial, mas que gostam e se sentem culpados por isso. Porém, a qualidade dos trabalhos recentes de nomes como Rihanna, Beyoncé, Justin Bieber ou Taylor Swift tem acabado com esta culpa e conquistado todo mundo.

Mesmo assim, infelizmente, em um dos melhores momentos recentes da música Pop, o Grammy Awards 2016 conseguiu entregar uma noite de premiações entediante e repetitiva.

Dois dos fatores que unem os nomes que tem se sobressaído recentemente no mainstream são atitude e ousadia. Do lado estético, a busca destes figurões por referências e por produtores improváveis e mais ligados à música considerada “alternativa” traz um frescor inédito às produções. Mas o destaque fica para a abordagem de temas como preconceito, seja racial ou de gênero, que tem tomado conta destes álbuns e incentivado debates públicos numa intensidade raramente vista.

A recente discussão entre Taylor Swift e Nicki Minaj sobre o espaço da mulher negra, a apresentação histórica de Beyoncé no maior evento esportivo anual do mundo causando a revolta dos mais conservadores nos Estados Unidos e Kendrick Lamar subindo em um carro de polícia durante sua apresentação no BET Awards no ano passado são exemplos do poder que a música Pop tem em guiar a agenda de discussões nas redes sociais e, consequentemente, influenciar a cabeça e a opinião dos mais jovens.

Mas, numa noite considerada – pelo menos por quem a organiza – como a “maior noite da música”, foi apenas o próprio Kendrick, com onze indicações – maior concorrente em uma única noite desde Michael Jackson em 1984 -, que acordou os milhões de espectadores com mais uma apresentação provocadora, intensa e brilhante, numa noite recheada de duetos sonolentos e versões voz e violão de baladas pouco inspiradas.

Engraçado também como o acerto dos votantes em premiar nomes como Alabama Shakes para álbum de Rock ou Kendrick Lamar para melhor álbum de Rap, acima de outros medalhões da música como Foo Fighters ou Dr. Dre, não se repete na escolha das apresentações, sempre seguras e previsíveis.

Não cabe mais discutir a relevância da premiação, que, assim como o Oscar, já deixou de ter algum grande impacto cultural há muito tempo. A ideia de que uma única grande entidade vai decidir, uma vez por ano, o que todos devem ouvir em um cenário cada vez mais plural e fragmentado não faz mais sentido. Tudo deveria então, naturalmente, tornar-se apenas puro entretenimento, algo que também não aconteceu neste ano.

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MARCADORES: Discussão

Autor:

Nerd de música e fundador do Monkeybuzz.