Aquecimento Gop Tun Festival: AEROBICA

Enquanto os chilenos Nico Castro e Pepo Fernandez não chegam a São Paulo, eles compartilham dicas, experiências e técnicas que tornam um b2b especial

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Fotos: Divulgação

Não é nenhuma novidade que relações, amizades e amores podem florescer nas pistas. Às vezes tudo o que você precisa é do momento, música e o lugar perfeito. Mas e numa cabine compartilhada entre DJs? O que é preciso para uma conexão explosiva? É só chegar e tocar? A fusão perfeita em um back2back pode surgir a partir de parcerias que vão muito além da música – casais, familiares, melhores amigos…

Celebrando os 10 anos de Gop Tun, será realizado, no dia 2 de abril, o primeiro Gop Tun Festival, em São Paulo. Com mais de 40 nomes, entre nacionais e internacionais, este é o maior evento já idealizado pelo selo. E o Monkeybuzz preparou um especial de aquecimento que se aprofunda no trabalho, na vida e na parceria desses artistas que vai além das cabines.

Para o segundo episódio desse aquecimento, temos os melhores amigos chilenos Nico e Pepo, que formam o AEROBICA.

Como e há quanto tempo vocês se conheceram? Como foi a primeira abordagem?

Nico: Nos conhecemos há quase quatro anos. Em 2018, Pepo estava voltando de Londres e eu estava começando a divulgar meu projeto solo após o fim da minha dupla anterior, Roman & Castro. A primeira vez que nos encontramos foi no meio daquele ano, quando o convidamos para tocar em uma festa. Seu set e sua energia me chamaram a atenção. A segunda foi em dezembro daquele ano, quando coincidimos no mesmo palco do festival Recreo, em Santiago. Após elogios mútuos, foi aberto um canal de comunicação que se intensificou no início de 2019, em uma rave onde coincidimos tocando e pela primeira vez criamos um vínculo pessoal. Em menos de um mês já estávamos tocando juntos pela primeira vez. O clique foi quase instantâneo.

Pepo: Existem várias versões dessa resposta, mas a primeira vez que tivemos um momento de união foi em uma festa onde tocamos juntos em Santiago e dançamos a noite toda. Acabamos fazendo um after party no meu apartamento junto com a Andrea Paz, tocando algumas músicas até as 10 da manhã. Não foi o primeiro after party, mas com certeza foi um dos últimos, hahaha. Trabalhamos muito durante a semana, então quase sempre vamos dormir depois de brincar ou dançar.

Como é a relação de vocês dentro e fora das pistas de dança?

Nico: Para mim, é absolutamente impulsionada pela amizade. Isso é o que a move principalmente. Embora falemos muito sobre música e nossos projetos, também  aconselhamos e falamos sobre a vida. Tivemos que nos apoiar em situações tristes e celebrar as felizes. Acho que isso é absolutamente fundamental para sustentar um projeto tão intenso quanto este. Quanto mais você conhece a outra pessoa em diferentes dimensões, e quanto mais você a ama, mais fácil é realizar as coisas que você se propôs a fazer, acompanhar e apoiar um ao outro no processo.

Pepo: Em ambos os casos é quase o mesmo. O Aerobica nasceu da amizade e dos nossos interesses semelhantes pela música. Estamos sempre falando das mesmas coisas quando estamos tocando ou quando estamos andando na rua. É uma relação de companheirismo e trabalho muito movido pela música. <3

Ao longo da carreira, o que vocês mais aprenderam uns com os outros?

Nico: Definitivamente, relaxar. Desfrutar sem preconceitos, mas sem nunca perder o amor e a seriedade com que o fazemos. Deixar ir e deixar ir, em geral. E também ver o que você está fazendo com um projeto que engloba mais coisas do que apenas a música: diversão, estética, performance, um propósito. É por isso que o Aerobica é algo que fecha tão bem e que ressoa nas pessoas.

Pepo: Lidar com a personalidade forte de cada um, hahaha. Mas também confiar que nós dois queremos as mesmas coisas e queremos fazê-las igualmente bem. Nós dois somos muito exigentes sobre como queremos fazer as coisas, então tivemos que fazer exercícios de adaptação e liberação.

Quais fatores musicais foram relevantes para vocês se conectarem?

Nico: Mais do que qualquer estilo em particular, acho que a chave era nos conectar através da mesma energia. Quando nos conhecemos, talvez tivéssemos menos pontos musicais em comum do que hoje. No momento decidimos transformar nosso duo, que tinha apenas um punhado de festas nele, em algo mais concreto, sabíamos que tinha que ter um propósito e algum conceito que o englobasse. Hoje, quando procuro música, minha cabeça imediatamente diz “isso é muito aeróbico”, não importa se o que encontrei é house, disco, italo, pop, techno ou qualquer outra coisa. Nós dois temos isso muito claro.

Pepo: Nós dois sentimos que não havia lugar ou artistas tocando em Santiago o que queríamos ouvir antes de criar o Aerobica. Disco e house com toques sentimentais e muitas notas melódicas são coisas que nos tocam, mas mais do que um gênero é um espírito club ou dance que não é sombrio, e se baseia na alegria, união, inclusão e perda de modéstia para tocar o que quisermos.

Qual música te faz lembrar Pepo/Nico? Por quê?

Nico: É difícil dizer apenas uma, mas acho que “Fotonovela”, do Ivan. Ele vai me odiar contando essa história (hahaha desculpa, Pepo), mas uma vez fomos convidados a gravar um set de streaming, mas cada um tocando separadamente, e eu coloquei aquela música. Meses depois, tornou-se uma espécie de marca registrada dos sets de Pepo e também dos Aerobica. E quando eu perguntei se ele se lembrava que tinha colocado aquela hora no streaming, ele não se lembrava. Talvez tenha permanecido em seu subconsciente, mas como os sets nunca foram carregados na internet, nunca pude experimentá-lo hahaha. Agora a música é 100% dele e toda vez que toca eu me lembro de todas as vezes que dancei na pista de dança ou no palco.

Pepo: Nico tocou essa música em nosso streaming no primeiro aniversário do Aerobica e representa o som que imaginamos na festa. Foi a primeira vez que tocamos juntos na pandemia e foi um bom momento para esquecer tudo.

O que vocês gostam de fazer juntos fora das pistas?

Nico: O relacionamento fora das festas ou do estúdio praticamente gira em torno da comida. Reunir-se para cozinhar, sair para comer, beber, compartilhar com nossos amigos e familiares.

Pepo: Estar com nossos gatos, sair para comer comida vegana e ir ao estúdio para trabalhar em novas músicas.

Como vocês se organizam para uma apresentação?

Nico: Acho que temos o conceito do Aerobica tão claro que cada um prepara a sua ordem musical por conta própria. É raro falarmos muito sobre o que vamos tocar, a menos que seja uma instância especial como um festival ou um set que vamos gravar em áudio ou vídeo. O resto do tempo é super livre dentro do que na nossa cabeça significa aeróbica.

Pepo: Geralmente não preparamos nossos sets porque já sabemos muito sobre a fórmula aeróbica, mas gostamos de rever as apresentações anteriores e ver a rota que gostaríamos de percorrer novamente. Às vezes gostamos de ir mais para o disco e clássicas, outras vezes vamos a lugares cheios de house e euforia.

Já aconteceu algum imprevisto durante um b2b? Qual a melhor forma de improvisar e não entrar em pânico?

Nico: Eu diria que tudo o que pode acontecer com um DJ, já aconteceu com a gente: loops de emergência, vinis que saltam, cortes de energia e assim por diante, várias tragédias. Acho que o mais útil para nós nesses casos é aproveitar a conexão que temos com o público, parar, rir com eles e começar do zero.

Pepo: Uma vez eu bati minha cabeça no parafuso de um alto-falante e comecei a sangrar na festa. Nico e eu estávamos tocando naquela noite, mas ainda não havia b2b. Eu estava meio machucado pela batida e depois do set do Nico foi a minha vez. Para diminuir a espera para ir para casa descansar, propus um b2b e daí tudo nasceu.

Como vocês escolhem quem vai colocar a primeira e a última música do set?

Nico: Depende muito do dia e do momento. Estamos falando de acordo com o desenvolvimento do conjunto e com a energia do encerramento. Há momentos que revezamos, mas o outro pede para finalizar.

Vocês já trocaram tracks/vinil? Quais?

Nico: O tempo todo. O melhor exemplo foi recentemente gravando uma mixagem para a Gop Tun. Estávamos no meio do set e coloquei “Hypervirility”, de Antonio Maiovvi. Juro que pensei “essa bate bem e o Pepo vai adorar”. Coloquei e perguntei o que ele achava. Ele respondeu “mas eu mostrei para você” hahaha. Acho que isso é um bom sinal de cumplicidade.

Pepo: A última faixa que passei pro Nico foi essa: 

Como vocês organizam as tracks/vinil? Colocam algum tipo de sinalização para facilitar na hora de tocar?

Nico: Cada um tem uma ordem pessoal. O meu é super específico, eu sou meio obsessivo com isso e com as categorizações das coisas. Eu guardo os vinis com uma ordem. Isso é muito útil para mim, mas principalmente quando quero responder à energia que vem de Pepo e das pessoas.

Pepo: Eu organizo tudo em pastas por gênero e faço outras por ordem de download. Eu não uso Rekordbox (Desculpe Nico. Mas a minha organização é sua bagunça).

Uma memória inesquecível de Pepo/Nico?

Nico: Muitas vezes penso no abraço que demos no final de semana quando voltamos com o Aerobica depois de um ano e meio de confinamento. Ainda havia toque de recolher no Chile, que era um das mais longas e contínuas do mundo, então entre isso e a capacidade limitada, tivemos duas festas seguidas durante o dia: sábado e domingo. Em cada uma tocamos 12 horas e a energia que existia entre nós e com o público é muito difícil de descrever. Aquele abraço resumiu a emoção de fazer algo de novo que muitas vezes sentimos que com a pandemia poderia ter se quebrado para sempre. Felizmente não foi assim.

Pepo: Quando tocamos na festa de gala do Galio, eu estava vestido como a versão queer de Maria Antonieta e Nico como a versão barata do fantasma Gasparín. Foi minha culpa.

O que você mais admira em Pepo/Nico?

Nico: A energia, determinação, lealdade, autoconfiança e, claro, seu senso de estética.

Pepo: A capacidade incansável de falar sobre música por horas. É basicamente uma enciclopédia musical infinita.

Quais técnicas você mais gosta nas performances de Pepo/Nico?

Nico: A incrível capacidade de dançar enquanto toca. Bônus: as suas habilidades impecáveis ​​com os faders do mixer, que poderiam fazer a Blessed Madonna corar. Mas falando sério: confio cegamente que nunca vai me deixar na mão.

Pepo: Ele sabe como animar a festa e mudar o clima com uma única música.

Alguma track inesquecível que Pepo/Nico mostrou para você?

Nico: “Keflavik”, de Kasper Marott.

Pepo: Amo muito essa!

O que não pode faltar em um b2b? Por quê?

Nico: Cumplicidade e generosidade. Para Pepo e para mim, o mais importante é sempre a Aerobica e que a conexão não seja quebrada, nem entre nós e principalmente com as pessoas que estão dançando.

Pepo: Comunicação, harmonia e boa música é uma excelente combinação, mas o que faz uma boa dupla é confiar na outra pessoa. E se divertir fazendo isso!

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ARTISTA: AEROBICA
MARCADORES: Gop Tun Festival