Armas e Beijos: O Antes e Depois de MØ

Como “Lean On” mudou a sonoridade de uma das revelações mais fantásticas do Pop

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Assim como a água, o Pop é a solução universal do mundo da música, e ninguém entende isso melhor do que a dinamarquesa . Com uma carreira relativamente curta, a cantora e compositora é uma estudiosa atenta do gênero e, de certa forma, sua discografia reflete isso. Quando tinha sete anos, se interessou pela música por meio da coleção de hits do grupo Spice Girls, e talvez isso tenha sido um maiores influenciadores para sua busca de diferentes solutos para misturar com o caráter universal do Pop. Mesmo com apenas um disco de estúdio lançado, Karen Marie evidenciou que sua obra é extremamente mutável, mostrando flertes saudáveis com Chillwave, Synthpop, Indie e até mesmo EDM. E é neste último gênero que a cantora parece estar se estabelecendo com o lançamento dos novos singles. Seria uma tendência nova ou um caminho sem volta?

Tudo parece ter mudado a partir do lançamento de Lean On, hit do mais recente disco de Major Lazer e uma das músicas mais reproduzidas no Spotify. Com um arranjo relativamente simples e um refrão extremamente pegajoso, o single composto em parceria com DJ Snake levou muitos a ouvir a jovem dinamarquesa, porém desconhecendo de seu passado prolífico. Há quem diga que esta parceria possa ter tido efeitos negativos em sua carreira, colocando um crachá de demônio do Pop corporativo no controverso produtor Diplo ao fazer MØ se vender ao estilo. Porém, é difícil botar a discussão nesses termos, já que o Pop foi sempre um gênero que ela sempre se dedicou ferrenhamente. Mas, então, o que mudou?

É complicado falar que Diplo redirecionou o rumo da carreira de MØ, quando os dois já tinham trabalhado juntos no EP Bikini Daze e no aclamado disco de estreia, No Mythologies To Follow, sem que houvesse um apego tão grande à EDM. A música XXX 88 respeita bastante a sonoridade que a compositora explorou nesse registro, uma mistura de Soul, Chillwave, Synthpop e Indie Pop. É um som composto de diversas personalidades, desde calmas e depressivas baladas, como Never Wanna Know, até dançantes composições com arranjos bastante trabalhados, por exemplo Pilgrim, Maiden e Glass.

Este talvez seja o grande diferencial de MØ e o que chamou tanta atenção em um cenário no qual Happy, de Pharell Williams, era a música mais tocada, segundo as paradas da Billboard. Os pads etéreos, os flertes pouco estereotipados com o Trap e uma unidade construída mais pelos humores similares entre as músicas do que pelos gêneros são alguns exemplos do que a compositora trouxe para o Pop e como cravou seu nome bem fundo no cenário mundial. Assim, foi natural que a compositora chamasse a atenção de outros artistas e sua lista de aparições começou a crescer, por exemplo na faixa Beg For It, do disco Reclassified, de Iggy Azalea.

Assim, chegou o fatídico ano de 2015, quando Lean On nasceu. Vale a pena mencionar que as experiências de MØ com a música Eletrônica Pop radiofônica não começaram com este single. Em 2013, ela co-escreveu e interpretou Dear Boy juntamente com Avicii, um dos nomes mais reconhecidos do gênero. Apesar de uma composição simples, a parceria rendeu uma experiência bastante diferente do que a compositora estava acostumada a fazer e, de certa forma, isto a inspirou para trazer soluções mais inteligentes para este cenário entediante de música Eletrônica. Com Lean On, é possível perceber melodias um pouco mais trabalhadas, bem como arranjos que apenas usam o necessário e que, mesmo assim, conseguem empolgar bastante um ouvinte desatento.

De qualquer forma, por mais benéfico que tenha sido o lançamento de Lean On, as coisas mudaram bastante no trabalho solo de MØ. Os singles, que provavelmente estarão em seu novo disco, apontam isso. Aqueles flertes com diferentes gêneros e sonoridades suaves parecem ter diminuído consideravelmente e o que antes era um trabalho bem heterogênero agora parece criar um senso de unidade bem mais abrangente. Final Song, por exemplo, tem aquela mesma estrutura e célula rítmica dançante de Lean On. Já Drum, apesar de ter timbres bem parecidos com a composição de Major Lazer, aposta em baixos graves que lembram aqueles usados para dar o peso do Trap, porém com um andamento bem mais acelerado. Mesmo Kamikaze, lançada no mesmo ano de seu trabalho de estreia, já esboçava canções com estruturas mais fechadas e arranjos menos trabalhados.

Mas pensar que a influência de Lean On é algo que estragou aquela sonoridade de outrora é um engano bastante precipitado. MØ está fazendo uma música Pop e isso, invariavelmente, tem a ver com as tendências do momento. Se reinventar é um trabalho difícil e muita vezes encarado como se vender ao mercado fonográfico. No caso da dinamarquesa, é uma nova variável para seu trabalho e, independente da simplicidade dos arranjos ou das estruturas mais fechadas das composições, a qualidade ainda permanece impecável. Seu senso apurado ao estudar o Pop ainda permanece íntegro e seu próximo disco pode ser um trabalho bastante diferente do já conhecido, mas que com certeza vai deixar sua marca no Pop mundial. Se é que ela não já deixou.

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Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique