As cores que The Cinematic Orchestra emprestou ao cinema mudo

Grupo britânico gravou trilha para um dos filmes mais celebrados do início do cinema

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

Man With a Movie Camera

Um Homem Com Uma Câmera (Man With a Movie Camera) é um destes filmes que vai ganhando mais e mais reconhecimento com o passar dos anos. Lançado em 1929 pelo russo Dziga Vertov, ele tinha como missão contar uma história sem a utilização de intertítulos, além de servir como experiência para a criação de uma linguagem própria do cinema, se distanciando do teatro e também literatura. E assim o fez. Técnicas cinematográficas que manipulam o tempo da ação e até mesmo o stop motion, algo difícil de imaginar sendo feito nos anos 20, apareceram ali pela primeira vez.

Reunindo cenas urbanas em uma história que se passa no decorrer de um dia, o registro é considerado hoje o melhor documentário já feito e um dos melhores filmes já produzidos. Um dos elementos responsáveis por trazer o filme à tona de tempos em tempos é sua trilha sonora. Por se tratar originalmente de um filme mudo, ao longo das décadas foram gravadas diversas composições aplicadas em diferentes exibições, e uma delas foi a composta pelo grupo britânico The Cinematic Orchestra em 2001.

O convite veio na época em que a cidade de Porto, em Portugal, foi escolhida como Capital Européia da Cultura, iniciativa que seleciona cidades européias para sediar diversos eventos culturais durante um ano. Uma vez comprovado o sucesso das faixas nas apresentações ao vivo, o grupo decidiu registrar esta sua versão da trilha em estúdio, disco que saiu em 2003 pelo selo Ninja Tune.

A mistura entre Jazz e elementos eletrônicos, com viradas grooveadas de bateria e baixos emprestados do Funk, foram de encontro ao ritmo caótico criado por Vertov e sua esposa (Elizaveta Svilova, que montou o filme) ao retratar cidades russas como Moscou e Kiev. Sem se distanciar daquilo que se tornava seu DNA, o grupo foi capaz de construir faixas específicas para o documentário, músicas que acabam funcionando como comentários sonoros (como na faixa com o tripé animado, por exemplo). Não por coincidência do nome, a banda colocou em teste o poder de seu instrumental de evocar imagens, criando significados paralelos à cenas do filme. O casamento deu tão certo que uma versão do longa, editado com esta versão da trilha, foi lançada em DVD no mesmo ano em que o álbum foi colocado nas lojas.

Não é sempre que uma banda tem a oportunidade de fazer um videoclipe com mais de uma hora de duração, muito menos de trabalhar em um dos filmes mais celebrados do início do cinema. As composições de Jason Swinscoe e cia cumprem com elegância a função de servir como uma homenagem à uma obra clássica ao mesmo tempo que a aproxima de um público totalmente novo, com potencial para perdurar por alguns bons anos como uma das obras que melhor traduzem a visão do diretor russo para nossos tempos.

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Autor:

Videomaker, ator e Jedi