At The Drive-In em seu derradeiro momento

Ainda que último, “Relationship Of Command” foi o melhor álbum do quinteto texano

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Sabe aquele disco lançado há algum tempo que você carrega sempre com você em iPod, playlist e coração, mas ninguém mais parece falar sobre ele? A equipe Monkeybuzz coleciona álbuns assim e decidiu tirar cada um deles de seu baú pessoal e trazê-los à luz do dia. Toda semana, damos uma dica de obra que pode não ser nova, mas nunca ficará velha.

At The Drive-In – Relationship Of Command

Certas bandas são como vinho: conforme envelhecem suas propriedades vão se acentuando e suas qualidades ficam cada vez mais evidentes. Assim como a bebida extraída da videira, elas melhoram com o tempo. Para mim, At The Drive-In é um ótimo exemplo disso – ainda que sua audição combine mais com uma boa cerveja.

Seu pico criativo aconteceu em 2000, com lançamento do ótimo e derradeiro Relationship Of Command. O terceiro álbum de sua curta carreira foi o grande responsável por tirar o grupo do meio underground e apresentá-lo a uma audiência maior. Na época, o quinteto foi chamado para se apresentar em alguns dos programas mais vistos pelos espectadores norte-americanos, os Late Night Shows de David Letterman e Conan O’Brien, além de rumar ao velho mundo no show de Jools Holland.

Ironicamente, toda essa visibilidade alcançada com o disco foi, em parte, responsável pela separação do grupo, pouco mais de um ano após este lançamento. Mas o estrago já estava feito e a banda já havia escrito à cinzel seu nome na história da música, inclusive, sendo creditada por muita gente como uma das responsáveis pelo fenômeno que se tornaria o Post-Hardcore em alguns anos.

A identificação com seu público, grande parte adolescente, vinha não só pelas suas letras cheias de angústia e fúria, mas também pela energia incontrolável dos cinco texanos no palco. Essa empatia se manifestava em via dupla, com uma apresentação explosiva em cima do palco e um frenesi em baixo dele. Mais que um simples disco, Relationship Of Command foi capaz capturar toda essa insanidade dos shows e transferi-las para os estúdios.

Essa rebeldia falava direto com os jovens da época ou mesmo com quem ainda descobriu a banda tardiamente, como foi o meu caso. Aos 17, pouco mais de cinco anos após seu lançamento, One Armed Scissor chegou aos meus ouvidos e mudou grande parte da minha concepção sobre música. Aqueles vocais rasgados de Cedric Zavala e as guitarras furiosas de Omar Rodriguez abriram meus olhos para toda uma gama de novas sonoridades mais abrasivas. Algo que me fez acompanhar a dupla com seus outros projetos, The Mars Volta e Antimasque.

A vida da banda foi curta, mas capaz de render uma obra-prima e mais dois incríveis. Com a percepção que tenho hoje em dia, me impressiona e muito o fato de esses cinco músicos terem evoluído tanto em apenas oito anos de existência. De um disco como Acrobatic Tenement (1996) para Relationship Of Command há uma diferença brutal, um avanço lírico e técnico que poucos conseguem atingir em tão pouco tempo. At The Drive-In é mesmo de uma safra única, que passou pelo teste do tempo e envelheceu muito bem.

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MARCADORES: Fora de Época

Autor:

Apaixonado por música e entusiasta no mundo dos podcasts