Bateu Uma Onda Forte: Uma Coletânea de Clipes

Uma seleção de vídeos icônicos da psicodelia gráfica

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A arte é algo que acompanha os limites humanos. Acompanhou a política, a cultura, as relações sociais, a tecnologia e, como é de se esperar, acompanhou também a curiosidade humana em desvendar os mistérios da mente. Esse tema particular desdobrou-se em uma das estéticas mais disseminadas e populares da arte contemporânea, bem como um dos movimentos mais parafraseados da música popular atual: a Psicodelia. Sob a definição de “uma manifestação da mente que produz efeitos profundos sobre a experiência consciente”, esse interesse em desvendar a psiqué humana trouxe reflexos muito profundos na profundidade com que os artistas podiam se expressar, criando as mais diversas, inusitadas e, por que não, malucas situações e explorando os limites do sensorial.

Com a evolução do ramo farmoquímico e o curioso e controverso desenvolvimento do mercado de drogas, foi uma questão de tempo até que as duas coisas se juntassem e ficassem popularmente associadas. Hoje, é difícil escutar discos de Tame Impala, Mac DeMarco ou Pink Floyd e não pensar em termos como “lisergia”, “hipnose”, “delírio”, “fritação” ou, como MC Carol diz em sua música, “uma onda forte”.

Assim, o Monkeybuzz selecionou dez clipes de animação de diferentes épocas que expressam as mais diferentes sensações que a Psicodelia (seja ela com ou sem drogas) causam no ouvinte. Prossiga por conta e risco próprio.

Blockhead – The Music Scene

Dirigido por Anthony F. Schepperd, considerado um dos novos talentos da psicodelia gráfica, o clipe de The Music Scene, do produtor Blockhead, prende a atenção do ouvinte por tratar de uma forma única sobre o bombardeio de informações que a comunicação e como se dá a relação com o ser humano. Utilizando muitas (muitas mesmo) cores, formas desfragmentadas e conteúdos altamente metafóricos, temos aqui umas das representações mais apocalípticas de nosso futuro, fato que não nos impede de admirar o vídeo como um dos melhores vídeos de 2011.

Air – Sing Sang Sung

Se antes o clima era tenso, aqui a coisa é totalmente diferente.. Sing Sang Sung, do duo Air, é a trilha que acompanha as aventuras de uma simples bolinha pelas mais belas paisagens ilustradas de um modo bem vintage pelos artistas gráficos Petra Mrkyz e Franรงois Moriceau. Milhares de análises nos vem à cabeça ao assistir este delicioso e suave vídeo, mas uma das que mais fazem sentido é a de que a bolinha é a música atravessando nosso ouvido (no começo do vídeo) e atravessando as imagens mentais que nosso cérebro produz. Maluco e muito divertido.

Fever The Ghost – Source

O fantástico desconhece barreiras quando Felix Colgrave dá vida à incrível história narrada por Source, de Fever The Ghost. Em uma espécie de realidade alternativa onde estranhas e fascinantes criaturas se juntam para mostrar uma espécie de aventura sem roteiro, a animação é sincronizada com a música de modo que suas personagens dançam ao sons dos grooves reverberados e solos de sintetizador dos anos 60/70. A produção ganhou diversas menções honrosas em sites de Design Gráficos e é indicado para fãs que gostam da nova linha de desenhos animados lisérgicos como Hora de Aventura e Bee And Puppycat.

Toro Y Moi – Rose Quartz

Assim como Fever The Ghost, Toro Y Moi também sabe muito bem o significado do termo groove. Chaz Bundick é um dos produtores mais importantes da consolidação do gênero Chillwave, assim como um artista gráfico muito cuidadoso com sua produção. Junto da pintora Lauren Gregory, Chaz esquece das leis da física e nos mostra o movimento da tinta, quase como a técnica em que foi produzido o filme Waking Life. Um clipe que contempla as mesmas características da música Rose Quartz: suavidade, texturas e muito groove.

Washed Out – Don’t Give Up

Ernest Greene prefere ficar contemplando as maravilhas naturais de nosso mundo através da lente de Don’t Give Up, faixa de seu excelente disco Paracosm. Por meio da manipulação de cores de tomadas de animais bastante exótico, o produtor celebra o natural de uma forma bastante característica de drogas alucinógenas como o LSD. O clipe chama a atenção pela simplicidade, nos deixando babando com as diferentes texturas que podemos encontrar em nossos jardins e que, raramente, gastamos tempo admirando.

Atoms For Peace – Before Your Very Eyes

Se tem uma pessoa que sabe os limites da psique humana, é Thom Yorke. Não só com Radiohead, mas também com Atoms For Peace, o compositor e artista gráfico procura nos surpreender com uma animação que mistura paisagens “naturais” com seu próprio rosto em uma espécie de metáfora de sua relação com a natureza e de como as cidades são fruto disto. Diferente de outros vídeos citados na lista, Thom Yorke prefere deixar as interpretações de seus vídeos bastante abertas, de modo que o espectador fique cada vez mais curioso ao rever o clipe de Before Your Very Eyes.

Azealia Banks – Ice Princess

Além do estético clipe de Atlantis (idolatrado por fãs de Vaporwave), Azealia Banks merece seu lugar nesta lista por ser comandar um exército de robôs dançarinos mal-renderizados em Ice Princess. É um clipe com uma história bastante simples, mas que usa glitches e moldes 3D para dar à jovem rapper uma brilhante roupa prata e um dragão metálico para lutar contra as formas piscantes e epiléticas que ameaçam seu reinado de gelo. Eletrizante em seus pouco menos de quatro minutos.

FaltyDL – My Light, My Love

FaltyDL é outro produtor preocupado em explorar mundos criados por seu experimentalismo ímpar. No clipe de My Light, My Love, dirigido por Jakob Haglof, nós entramos na percepção do jovem marinheiro enquanto ele nos conduz por um mar nunca antes navegado com fantásticas espécies de peixes e texturas que chama a atenção por atarentes paletas de cores. Uma jornada que expande nossos sentidos.

Slugabed – Sex

Uma animação que também desperta o senso crítico de quem a assiste. Em um misto de comercial e stop-motion, penetramos em um equipamento futurista que faz sucos frescos, mal sabendo que na verdade estamos entrando em um complexo mecanismo que acelera a vida das plantas para obter rapidamente o precioso líquido. O vídeo acaba criticando nas necessidade dos seres humanos em produzir engenhocas cada vez mais complexas e desrespeitosas ao meio ambiente. Não que ela seja uma propaganda de ONG ambientais, mas há uma mensagem maior do que a pura e simples lisergia.

Radiohead – House Of Cards

Thom Yorke é tão importante para o desenvolvimento da ideia de Psicodelia que aparece duas vezes nesta lista. Usando a linguagem eletrônica como forma de pintar retratos, o clipe de House Of Cards, do aclamadíssimo disco In Rainbows, representa o particular gosto do compositor pelas estéticas do ruído, onde um defeito técnico não é necessariamente algo ruim, mas sim um novo eixo na criação artística. O ruído ganha uma nova roupagem ao ser assimilado com uma música tão suave e calma. Uma das obras primas de Radiohead, musical e graficamente.

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Autor:

Produtor, pesquisador musical e entusiasta de um bom lounge chique