Billy Corgan, Esse Maluco

Líder de The Smashing Pumpkins é figura chave dos anos 1990

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Vejam, chamar o líder de The Smashing Pumpkins de “maluco” no título deste texto não é uma atitude depreciativa, muito pelo contrário, é um elogio. Se há algo que falta ao Rock nos dias de hoje é essa agradável sensação de insegurança e temor quando vamos ouvir o que um artista (ou banda) registrou em seu último trabalho. Será a repetição do que vem sendo feito há tempos? Será uma novíssima guinada estética rumo a algo imprevisível? Será uma saudável remada contra a maré da mesmice? No caso de William Corgan e seu grupo, o resultado sempre será ousado, ainda que isso não configure, necessariamente, algo incontestavelmente bom. Com Smashing Pumpkins, um grupo que sempre serviu como um eficaz canal condutor para que Corgan expressasse suas ideias e sensações, não foi diferente. Uma banda ousada, inquieta, com altos sensacionais e baixos nem tão vexaminosos assim.

O calvíssimo habitante de Chicago volta à cena neste fim de ano, a partir do lançamento de mais um álbum de sua banda, Monuments To An Elegy. É o segundo trabalho dentro da mais recente lógica criativa de Corgan, o “arco de discos” Teargarden By Kaleidyscope, que já foi iniciado com o bom Oceania, lançado pela banda em clima de retorno no fim de 2009. É isso mesmo, Corgan quer lançar “um disco em três discos independentes”, trilogia esta que será encerrada no próximo trabalho do grupo, Day For Night, ainda sem data de lançamento. É um bom exemplo para mostrar a excentricidade de Billy Corgan em meio a seu processo criativo. O sujeito é control freak, toca vários instrumentos, tem mau humor memorável e detém totalmente a assinatura criativa de seu grupo, usando qualquer músico que esteja associado à banda como uma ferramenta de trabalho. Foi assim quando D’Arcy (baixo), James Iha (guitarra) e Jimmy Chamberlin (bateria) integravam o que os fãs poderiam entender como a “formação clássica” de Smashing Pumpkins, no início da década de 1990, que permaneceu viva por pouco tempo. Chamberlin já estava fora no lançamento de Adore, em 1998, devido a problemas permanentes com drogas. No lançamento seguinte, Machina – The Machines Of God, de 2000, a banda já estava resumida a Corgan.

Nesta primeira fase, o grande sucesso veio com o estouro do segundo álbum, Siamese Dream, lançado em 1993. Canções como Disarm e Today fizeram a delícia daqueles que estavam imersos no Grunge mas que desejam algo um pouco além do padrão que vinha de Seattle. E o que era esse “algo mais”? Corgan sempre foi fanático por bandas inglesas dos anos 1980, principalmente The Cure. Provavelmente herdou de Robert Smith a concepção visual-gótica necessária para conferir um aspecto de estranheza a seu grupo, algo que residia principalmente nas figuras de D’Arcy e Iha. Tal devoção pelos sons pós-punks britânicos conferiu à banda uma amplitude maior em seu espectro de influências. Ao mesmo tempo, uma megalomania sempre presente deu as caras ao público na forma do disco duplo Mellon Collie And Infinite Sadness, lançado no vácuo do Nirvana e que fez sucesso gigantesco em 1995. Além da estética visual apurada (com clipes sempre instigantes e que conquistaram a audiência da MTV desde sempre), as canções às vezes recebiam títulos excêntricos como Siva e Rhinoceros (do álbum de estreia, Gish, lançado em 1991) ou The Chimera e Glissandra, presentes no último trabalho, Oceania. Tudo isso mostra o tanto de planejamento e execução de uma fórmula audiovisual teve lugar.

A banda interrompeu suas atividades em 2000 e Billy formou outro grupo, [Zwan], que lançou o bom disco Mary, Star Of The Sea em 2003, com relativo burburinho. Um ano mais tarde seria a vez do lançamento do primeiro e bom The Future Embrace, álbum solo do rapaz, que chamava a atenção por uma cover legal e inesperada de To Love Somebody, do trio anglo-australiano [Bee Gees]. Ambos os trabalhos mantinham semelhanças suficientes com a sonoridade anterior, confirmando que nosso herói era, de fato, o responsável pelas peripécias sonoras desde sempre. Três anos depois, Corgan retomaria o nome Smashing Pumpkins com o lançamento de Zeitgeist e a preparação visando o tal “arco de três discos”, que teria início dois anos depois.

Em entrevista recente à Rolling Stone americana, Billy Corgan assumiu-se como o mais importante letrista e compositor dos anos 1990, “ao lado de Kurt Cobain”, como fez questão de frisar. Amigo de Courtney Love, Billy deu declarações interessantes sobre como ficava sabendo das doideiras dela e de Cobain e de como sente falta da veia crítica deste, “algo que impediria a música popular ter tomado um rumo tão banal”. Há que se descontar o exagero habitual nas declarações, mas a permanente vontade de causar e criar monstros conceituais é algo típico do Rock que parece padecer de um desconfortável sumiço. Corgan é daqueles sujeitos que sobem no palco com a vontade de ser Deus e governar sobre sua audiência. Seus álbuns sempre ofereceram ideias e sonoridades buriladas aos ouvintes, com um saldo de acertos bem maior que os eventuais erros e tropeções ao longo de sua longa carreira. Além de trabalhar no próximo álbum, o tal que vai encerrar a trilogia, ele está à frente do relançamento de todos os álbuns noventistas de Smashing Pumpkins, todos devidamente remasterizados e acrescidos de sobras e lados B de todos os tipos. E, sim, descontando algum exagero, Billy Corgan é um dos rostos desta década de 1990, que parece tão distante hoje em dia.

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MARCADORES: Redescobertas

Autor:

Carioca, rubro-negro, jornalista e historiador. Acha que o mundo acabou no meio da década de 1990 e ninguém notou. Escreve sobre música e cultura pop em geral. É fã de música de verdade, feita por gente de verdade e acredita que as porradas da vida são essenciais para a arte.