Blondie, Pop Dourado e Procurando Rejuvenescer

Conheça um pouco da carreira certeira do grupo, e se prepare para um novo disco, ainda certo mas com grandes chances de êxito.

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Como continuar fazendo com que as coisas dêem certo em um relacionamento longo? É evidente que nem toda relação sobrevive sem problemas, com pequenos percalços que só o tempo pode dizer se serão frutíferos ou não. Tal visão pode ser vista em diferentes tipos de união: civil, familiar ou simplesmente o vínculo que se cria quando uma banda é formada. Há quase 30 anos, o Blondie iniciava as suas atividades e veriamos posteriormente que assim, como toda história de amor, conflitos existiram, estruturas foram mudadas e hoje nos vemos esperando o décimo disco da carreira do grupo, o inédito em 2013, Ghost of Download.

Quem vê três dezenas na idade do Blondie, talvez se espante com o fato de que o grupo ter um hiato de 15 anos, mais especificamente entre 1982 e 1997, período em que a líder loira e carismática, Debbie Harry, resolveu seguir em carreira solo. Esta iniciativa é destinada sempre àqueles que de certa forma alcançaram notoriedade com o seu grupo inicial. E de forma meteórica, entre 1976-1982 a banda alcançaria a fama e o sucesso que posteriormente seriam consolidados em uma homenagem no Hall da fama do Rock.

Mas por quê tantas atenções há um grupo que hoje em dia pode parecer um pouco Pop e brega demais? Simplesmente pela mudança na estrutura de um estilo, o New Wave, em diversas outras vertentes muito bem capturadas pelo vocal extremamente pegajoso de Debbie. Você pode até torcer o nariz para a mulher, que vendos os seus vídeos na atualidade mais parecia uma apresentadora de palco. A corajosa vocalista tinha, no entanto, um espírito juvenil que se cristalizou em diversos singles de sucesso, faixas marcantes que certamente tem a sua importância na história da música.

Pegue, por exemplo, o disco de estreía, Blondie de 1976 que logo de cara já tentava se mostrar chocante com uma figura feminina cantando músicas como Sex Offender, que posteriormente viria a se chamar X Offender em rádios norte-americanos devido ao seu “contéudo abusivo”. O contraste entre o título e atmosfera na faixa não nos deixam dúvidas que a intenção era criar uma faixa Pop, e não um hino feminista. Logo em seguida, o ano de 1978 se mostrou extremamente produtivo para a banda que lançou dois discos:Plastic Letters e Parallel Lines, o último de longe o maior sucesso de sua carreira.

Nele estão presentes faixas clássicas como Heart of Glass, Hanging on the Telephone, Sunday Girl e One Way or Another,transformarmando o Blondie em um mina de ouro para as suas gravadoras. Sintetizadores, sons eletrônicos mas ainda assim com uma pegada Pop muito intensa faziam com que o grupo se tornasse uma referência em rádios e festas na época. Quando em seu disco seguinte, Eat To Beat, chegava as lojas em 1979, novas vertentes pareciam surgir no escopo do grupo e flertes com outros estilos como o Reggae, Funk , todos muito bem estabelecidos em orquestrações mais aprazíveis pareciam denunciar um grupo ao estrelato eterno.

A ótima, The Hardest Part presente nesta obra, trazia um som muito mais negro ao grupo, com um funk progressivo e uma Debbie com cabelos tingidos de preto, um total contraste ao loiro “Blondie” da vocalista. A megalomania parecia começar a despontar junto com o sucesso contínuo do grupo. Existiu aquele momento para a maior experimentação da carreira, com Autoamerican de 1980, disco que tem uma faixa de abertura viajada e com um poema sendo recitado por Debbie, Europa e ao mesmo tempo flertes muito bons com o Jazz contemporâneo em músicas como Here’s Looking At You e Faces. Na capa da obra, a líder parecia tentar um papel de maior destaque, como se tudo funcionasse ao longo de sua figura.

O último disco antes do hiato, The Hunter de 1982, foi o chamado tiro no pé. Gravado ao mesmo tempo em que Harry iniciava o seu projeto paralelo, se mostra mais disperso,um pouco mais preguiçoso e sem a concentração vista anteriormente. Sem conseguir se tornar um grande sucesso, abriu espaço para que uma separação entre as partes ocorresse, o que fez com que o Blondie só voltasse a gravar um disco novamente em 1999. No Exit seguia um caminho totalmente oposto as reuniões que visam somente um retorno financeiro. O single Maria, voltaria a figurar o grupo no topo das paradas de sucesso, demonstrando que o Pop pluralista ainda tinha forte apelo diante do público . A faixa é realmente contagiante, de certa forma épica e bem radiofônica.

Em 2003, o retorno as origens da banda, trazendo um pouco do Pop Rock e Dance Pop de volta ao escopo em The Curse of Blondie pareceu não render tanto ao grupo como o sucesso inesperado de seu disco anterior. Patinando no som e mostrando um certo generalismo,comodismo, não fez com que o grupo alcançasse um bom retorno. Por isso que somente oito anos depois, em 2011 que o Blondie voltaria a lançar algo inédito,Panic of Girls. Um lançamento que partia de tantas expectativas, mostrava-se mais uma vez genérico como o single único do disco, Mother. A sensação é que as piores coisas do Pop contemporâneo foram incorporados na obra, como uma pegada meio Country e vocais muito produzidos, com alguns sintetizadores esparso que pareciam, infelizmente, que o grupo se aproximava de um “Pop Disney chato”.

Agora você me pergunta, por que tanta expectativa ao redor do lançamento, dado que os dois momentos anteriores não foram como o esperado? Debbie Harry é uma camaleoa e sabe muito bem o que quer, o retorno as paradas que na sua opinião nunca deveriam ter lhe deixado. O single de lançamento, feito junto com gordinha desbocada do [Gossip] mostra uma aproximação mais contemporânea ao Pop. Linhas dançantes no baixo, aspectos eletrônicos simples mas eficientes, e uma troca de vocais que mostra finalmente um frescor ao som do grupo. Ambos os fatores nos levam a crer que a próxima empreitada da vocalista alcançará mais uma vez as rádios, e dessa vez, o mesmo público plural que se acostumou à faixas pegajosas e interessantes. O veredito será dado em breve, quando Ghost Of Download chegar as lojas. Até lá, torcemos por um resultado certeiro.

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Autor:

Economista musical, viciado em games, filmes, astrofísica e arte em geral.